A primeira-ministra britânica, Theresa May, anunciou perante o Parlamento que está disposta a propor a votação um adiamento do Brexit caso o seu acordo seja chumbado.

“Se a Câmara rejeitar o acordo e a saída sem acordo, o Governo irá, a 14 de março, apresentar uma moção para perceber se o Parlamento aprova uma extensão curta e limitada do Artigo 50”, declarou perante a Câmara dos Comuns.

A primeira-ministra tinha prometido fazer uma declaração aos deputados esta terça-feira, deixando claro em que ponto estão as negociações sobre o mecanismo de salvaguarda na fronteira das Irlandas (o backstop). Nessa comunicação, May aproveitou para esclarecer que falou com ” todos os Estados-membros para explicar a posição do Reino Unido” e que está montado um grupo de trabalho europeu e outro britânico para analisar esta questão.

Sei o que esta Câmara precisa para apoiar o acordo, estou a trabalhar duramente para conseguir isso”, prometeu.

No entanto, admitindo que “muitos membros da Câmara estão preocupados porque o tempo se está a esgotar”, a primeira-ministra apresentou ao Parlamento um calendário onde coloca a bola nas mãos dos deputados: May regressará com um novo acordo para ser votado até 12 de março; se esse acordo for chumbado, a líder do Governo voltará a propor, no dia seguinte, uma moção para ter “um consentimento explícito” da Câmara sobre se prefere sair sem acordo ou não; e, caso o no-deal seja também (novamente) chumbado, irá apresentar a moção para que o Parlamento possa votar sobre se pretende adiar o Brexit.

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A primeira-ministra alertou, contudo, que a solução do adiamento não resolveria todos os problemas porque não tornaria “mais fácil” conseguir um novo acordo. “No final de contas, o Reino Unido terá de sair com um acordo, sair sem acordo ou não sair”, resumiu.

O líder da oposição, Jeremy Corbyn, classificou o anúncio de May como “uma estratégia deliberada” para continuar a deixar passar o tempo sem apresentar uma solução concreta. “A primeira-ministra está a tornar-se uma perita em empurrar os problemas com a barriga. Mas as consequências de fazer o relógio andar são muita claras para as empresas e para os empregos das pessoas”, avisou.

“Esta Câmara rejeitou claramente o acordo da primeira-ministra e um no-deal. É a obstinação dela que está a bloquear uma resolução”, sentenciou o líder do Partido Trabalhista, que deixou uma pergunta sobre o possível adiamento: “Uma extensão, mas para quê? Se a primeira-ministra o fizer, tem de ser para conseguir uma maioria nesta Câmara.”

Novo referendo seria “traição ao eleitorado” para May

Os dois líderes partidários aproveitaram ainda o debate na Câmara dos Comuns para discutir a viragem da liderança trabalhista apresentada na segunda-feira sobre a realização de um novo referendo. Theresa May partiu para o ataque, acusando Corbyn de querer fazer um referendo “divisivo” que irá “levar o país de volta à estaca zero”.

Diz que o Labour aceita o resultado do referendo, quando sabemos agora que apoia um novo referendo, o que significa que estaria a ignorar a maior votação da nossa História e a trair o eleitorado”, acusou a primeira-ministra.

O líder do Partido Trabalhista sublinhou que o seu partido “aceita o resultado do referendo” — frase que foi recebida com algumas gargalhadas da bancada dos tories —, mas, destacando que o acordo de May foi “rejeitado por larga margem” inicialmente, caso seja aprovado “deve haver uma votação pública” sobre ele.

(Em atualização)