A nova temporada na Culturgest, que decorre de Setembro de 2019 a Julho de 2020, arranca com o concerto já anunciado de Gabriel Ferrandini. Segue-se um ciclo dedicado à memória colonial, com a presença do Hotel Europa, e criações de gente que importa ter por perto: Vera Mantero, John Romão, Tânia Carvalho, Anne Teresa de Keersmaeker, Marlene Monteiro Freitas, entre tantos outros. Os vetores mantêm-se: Teatro, Dança e Performance; Música; Artes Visuais; Cinema; Conferências e debates.

É a segunda programação pensada por aquele que é, desde outubro de 2017, o homem que define o rumo da Culturgest: Mark Deputter. O administrador e diretor artístico da instituição prossegue a aposta na interdisciplinaridade e nas encomendas de espectáculos para o Grande Auditório, ou seja, criações de grande dimensão, para uma sala com 600 lugares. É ainda cedo para perceber se o plano do belga está a resultar, mas certa é a consistência de uma programação com um leque forte e urgente de artistas nacionais, alguns deles convidados a criar com co-produções Culturgest. 2019/2029 vai ser assim.

Música

A 17 de setembro dá-se o arranque da temporada, com Volúpias, disco editado em maio de 2019 pela estrela do free jazz nacional: Gabriel Ferrandini. Obra que é resultado de um ano em residência na Galeria Zé dos Bois, onde se propôs experimentar, onde meteu escrita ao barulho, onde se deixou estar. E este é um concerto que ganha ainda maior dimensão porque além dos seus companheiros de sempre — Pedro Sousa (saxofone tenor) e Hernâni Faustino (contrabaixo) — terá a seu lado, ao piano, um dos grandes mestres mundiais do jazz e da improvisação: Alexander von Schlippenbach. E isso, ninguém lhe tira. Os bilhetes custam 12€ e o concerto começa às 21h.00.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Gabriel Ferrandini

No que à música diz respeito, há um outro concerto que merece destaque: Lubomyr Melnyk. O barbudo e genial pianista ucraniano vem apresentar Fallen Trees, disco editado no final de 2018. É um inventor por excelência e tem na sua agilidade um dos seus grandes pratos fortes. Tem em sua posse vários recordes de velocidade ao piano.

E ainda Montanhas Azuis (Norberto Lobo, Marco Franco e Bruno Pernadas) a 20 de dezembro. Ou antes até, 14 de novembro, um dos concertos que certamente não podemos perder até ao final do ano: a produtora norte-americana Holly Herndon. Traz Proto, o seu terceiro disco de originais, numa mulher que faz uma eletrónica independente, talvez até estranha, mas contagiante e exploratória. Patente no catálogo da bela editora norte-americana 4AD.

Ciclo Memórias Coloniais

Uma das grandes provas na aposta na interdisciplinaridade por parte de Mark Deputter são os ciclos que têm feito, onde grande parte das disciplinas que podemos encontrar na Culturgest se cruzam. Daí que este “Ciclo Memórias Coloniais” seja um dos grandes eventos da temporada vindoura. De 19 de setembro a 5 de outubro vamos poder pensar no papel que o período colonial tem tido na diversas manifestações artísticas. A historiadora marroquina Fátima Harrak apresenta-nos, a convite do AFRO-PORT Afrodescendência em Portugal (do ISEG) e dos Discursos Memorialistas e a Construção da História (Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa), a conferência Políticas da Memória Colectiva, “uma reflexão sobre os efeitos da ‘memória selectiva’ no presente político actual”.

Mais há mais. Há outros programas de debates, conversas e intervenções em espaços públicos, e há o Hotel Europa, estrutura de teatro documental de André Amálio e Tereza Havlíčková que vem trabalhando a questão do colonialismo e pós-colonialismo.

Hotel Europa

O Fim do Colonialismo Português é uma performance/instalação duracional, de 13 horas, onde o Hotel Europa nos convida a entrar no seu arquivo de mais sete anos, com vídeos, imagens, entrevistas, documentos de guerra, no fundo, é um convite para que o público mergulhe e pense naquela que tem sido a missão e a forma de estar na vida da companhia. Além disso, uma estreia absoluta a que decidiram chamar “Os Filhos do Colonialismo” e que incide sobre as gerações nascidas depois da Revolução dos Cravos e como é que se posicionam perante o colonialismo, o que é que lhes foi passado, o que pensam sobre isto.

Cinema

Como sempre, cinema na Culturgest é DocLisboa e IndieLisboa (este só em Maio). Falaremos sobre o primeiro, que é aquele que mais próximo está e que se realizará de 17 a 27 de outubro, e que terá como retrospetiva de autor a cineasta e jornalista libanesa Jocelyne Saab que nos oferece um catálogo de filmes entre a ficção, o documentário e a reportagem, um pouco por todo o Mediterrâneo.

Jocelyne Saab

Conte ainda com a retrospetiva Ascensão e Queda do Muro – O Cinema da Alemanha de Leste a propósito dos 30 anos da queda do Muro de Berlim e que trará filmes produzidos entre 1946 e 1989/90.

Falemos ainda de um dos mais importantes coreógrafos e bailarinos franceses: Jérôme Bel, que vem ao DocLisboa apresentar um objecto em vídeo criado a partir de seis dos seus mais significativos espectáculos. Uma oportunidade rara para testemunhar o gesto e o movimento de Bel, e de pôr a vista em espectáculos que há muito já não estão em circulação.

Artes Visuais

Ora por aqui, a 4 de Outubro, dá-se a inauguração da exposição “O que é o Ornamento?”, com curadoria de Ambra Fabi e Giovanni Piovene. Uma tentativa de resgate, possivelmente uma homenagem ao ornamento e a prova de que ele nunca saiu da arquitectura, nunca deixou de ter importância.

De 25 de janeiro a 19 de abril é tempo de voltar a Álvaro Lapa. A partir da série de pinturas Os Cadernos dos Escritores, onde Lapa, entre a pintura e a escrita, homenageou – num trabalho desenvolvido ao longo de 30 anos, entre 1975 e 2005 – autores como Pessoa, Kakfa, Beckett, entre outros.

Álvaro Lapa

Tempo para destacar também, para ser vista de 7 de março a 5 de julho, “Uma exposição invisível”. A curadoria é de Delfim Sardo e troca-nos a visão pela escuta, isto é, coloca no centro deste conceito o som como elemento artístico, e dá-nos obras sonoras – feitas entre o início do século XX e os dias de hoje – que salientam o som em relação com o espaço.

Teatro

A 13 e 14 de dezembro, o Grande Auditório acolhe Incêndios, uma peça do dramaturgo libanês Wajdi Mouawad, encenada por Victor de Oliveira e co-criação dos artistas moçambicanos David Aguacheiro, Nandele Maguni e Caldino Perema, numa co-produção da Culturgest de um espectáculo criado em Maputo, onde estreia este Agosto.

Um dos grandes destaques da temporada vai, sem dúvida, para uma nova criação de John Romão. Entre 15 e 18 de janeiro de 2020, o director artístico da BoCA – Biennial Contemporary of Arts parte do texto de Jeffrey Eugenides (romancista e Pulitzer norte-americano) Virgens Suicidas, que dá nome ao espectáculo e que Sofia Coppola adaptou para o cinema em 1999, para uma criação que promete. Um bando de raparigas adolescentes que se interessam por educação física, dança e teatro e que conta no elenco com nomes tão incríveis como Luísa Cruz, Mariana Tengner Barros, Vera Mantero.

Dança

E, por fim, claro, a dança. Que arranca com uma nova criação de Vera Mantero, a 29 e 30 de Novembro. “O Limpo e o Sujo”, que conta com Elizabete Francisca, Francisco Rolo e a própria Vera Mantero na interpretação, é uma incursão sobre a sustentabilidade da presença do homem no planeta Terra.

“O Limpo e o Sujo”

A consagrada coreógrafa portuguesa Tânia Carvalho apresenta-nos Onironauta, nova criação para o Grande Auditório, para ser vista de 30 de janeiro a 2 de fevereiro, leva-nos para o terreno sempre pantanoso dos sonhos.

A 21 e 22 de fevereiro, o importante coreógrafo francês Boris Charmatz vem à Culturgest mostrar-nos que é possível, em cima de um palco, não repetir. “10000 gestes” é um espectáculo em que nenhum movimento é feito duas vezes.

Em maio de 2020, mais precisamente a 22 e a 23, Anne Teresa de Keersmaeker regressa à Culturgest, onde sítio onde tem sido tão feliz. Sempre acompanhada da sua estrutura Rosas, a coreógrafa belga, desta vez em parceria com o conceituado coreógrafo espanhol Salva Sanchis. “A Love Supreme” é um espectáculo que parte desse pedaço de genialidade que é o disco homónimo de John Coltrane.

Para 18, 19 e 20 de junho está marcada a apresentação da nova criação de Marlene Monteiro Freitas. Não sabe o que é, mas sabe-se que a coreógrafa que venceu o Leão de Prata na Bienal de Veneza em 2018 merece sempre a nossa estima e atenção.

Mais informações aqui