Não se cruzaram no Campeonato do Mundo de 2015. Nem no de 2011. Nem mesmo nos de 2007 e de 2003. Ainda assim, Nova Zelândia e Inglaterra ganharam três dos quatro últimos títulos mundiais – e no outro os britânicos estiveram no encontro decisivo, perdendo apenas frente à Austrália. No entanto, as contas entre as duas primeiras semi-finalistas a entrarem em campo no Japão eram tudo menos equilibradas, com os All Blacks, atuais líderes do ranking mundial e bicampeões em título, a ganharem 15 dos últimos 16 encontros diante da seleção da Rosa (que nesta fase está logo atrás no ranking), o último em Twickenham no ano passado (16-15).

All Blacks: o exército neozelandês que vence tudo. Mas porquê?

“Sabemos da importância do jogo mas não queremos que isso nem a equipa deles nos afete. Só temos de encontrar o equilíbrio perfeito, estarmos excitados com o jogo mas também controlados e com as ideias claras”, explicava Manu Tuilagi, referência da equipa de Eddie Jones nascido em Samoa entre uma família com antigos e atuais jogadores, ao The Guardian. “Haka? É uma honra estar à frente deles durante o haka e aceitar o desafio. É algo que se respeita. Crescemos a ver isso na TV e é fantástico poder assistir de frente”, acrescentou.

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Na meia-final que era sobretudo descrita como uma final antecipada contra duas equipas que ganharam todos os encontros neste Mundial do Japão até ao momento, esse foi o primeiro grande momento: a posição em “V” que os jogadores ingleses ocuparam no relvado enquanto a Nova Zelândia fazia o haka. Mais do que tentar desafiar ou desrespeitar a tradição dos All Blacks, que não aconteceu, a Inglaterra mostrou naqueles segundos que estava disposta a aceitar o desafio de combater contra os melhores dos melhores. Começou o jogo e os 96 segundos que podem durar um haka entre preparação e execução foram suficientes para a Rosa marcar.

Quando Manu Tuilagi, apenas um minuto e 36 segundos depois do arranque da partida, fez o primeiro ensaio perante o delírio de milhares e milhares de ingleses presentes no Estádio Internacional de Yokohama, percebeu-se que alguma coisa seria diferente (seguiu-se a conversão de Owen Farrell, no seguimento do lance).

Foi mesmo: seria preciso esperar até ao último minuto antes do intervalo para George Ford fazer numa grande penalidade o 10-0 mas foram 40 minutos onde tudo o que teria de sair bem à Inglaterra saiu ainda melhor e tudo o que podia correr mal à Nova Zelândia (sobretudo na construção de jogo e no ataque) correu ainda pior. E a vantagem só não foi maior porque o ensaio de Sam Underhill acabou por ser bem anulado por Nigel Owens com recurso ao VAR (houve antes uma obstrução nítida) – Underhill que já no ano passado tinha visto um ensaio também anulado diante dos All Blacks em Twickenham, na derrota por apenas um ponto.

Em condições normais, o filme da segunda parte deveria ser necessariamente diferente. Aliás, pior para a Nova Zelândia seria mesmo complicado – apesar de, mesmo assim, a defesa ter segurado alguns ataques ingleses que em jogos anteriores deste Mundial terminaram em ensaio. Da parte da Inglaterra, mais do que a qualidade de jogo em si, a dúvida era perceber até que ponto seria possível manter aquela intensidade. Que foi.

Depois de mais um ensaio anulado com recurso ao VAR, George Ford fez o 13-0 numa penalidade, já depois de ter falhado uma primeira tentativa. A Inglaterra parecia ter mais jogadores. Mais alma. Mais intensidade. Mais tudo. Até que um erro de palmatória num alinhamento inglês permitiu um pouco do nada que Ardie Savea fizesse o ensaio para a Nova Zelândia que, com a conversão de Richie Mo’Unga, colocava tudo em aberto (13-7).

Apenas cinco minutos depois (63′), George Ford voltou a colocar a Inglaterra mais tranquila numa penalidade, com uma vantagem acima de um ensaio com conversão (16-7). Mesmo que não tivesse marcado, não seria necessário: a quantidade (e qualidade) de placagens dos britânicos, a forma como as camisolas negras que costumam passar por cima dos adversários estavam a ser relegadas para o chão, a falta de soluções ofensivas para fazer sequer um ensaio, tudo apontava para aquilo que se tornara uma inevitabilidade. E George Ford, em nova penalidade, ainda aumentou o resultado para 19-7 naquela que foi uma das piores derrotas dos All Blacks em Mundiais.