A presença do nome do chefe nacional dos escuteiros católicos portugueses nas notícias sobre o caso “Luanda Leaks” está a causar polémica e há quem defenda já a realização de novas eleições.

Em causa está o envolvimento de Ivo Faria, sócio na PwC (PricewaterhouseCoopers) nos negócios de Isabel dos Santos em Portugal que, segundo o Expresso de 18 de janeiro, terá sido uma das pessoas que mais trabalhou com Mário Leite da Silva, apontado como o braço direito de Isabel dos Santos em Portugal.

O mal-estar no Corpo Nacional de Escutas (CNE) é esta quinta-feira revelado pelo jornal online 7MARGENS, que refere que uma das operações em que a PwC Portugal terá estado envolvida, através destes seus responsáveis, foi a reestruturação da petrolífera angolana Sonangol, então presidida por Isabel dos Santos. O envolvimento teria passado por faturar serviços a empresas sem proprietários conhecidos de Malta e do Dubai, quando as regras da própria PwC dizem que os contratos devem ser pagos por quem adjudica os serviços e não por outras entidades.

Como o nome de Ivo Faria surge no caso “Luanda Leaks” – desencadeado pelos documentos revelados pelo consórcio internacional de jornalistas sobre alegados esquemas financeiros envolvendo, entre outros, a empresária Isabel dos Santos, filha do ex-Presidente angolano José Eduardo dos Santos –, há já dirigentes nacionais do CNE a defenderem que ele não deve tomar posse para o segundo mandato no cargo de chefe nacional, marcada para sábado em Balasar, na Arquidiocese de Braga.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Contactado pelo 7MARGENS, Ivo Faria não fez comentários, preferindo dar primeiro explicações aos escuteiros.

O chefe nacional deveria “primeiro resolver os problemas” que vieram a público, disse ao jornal online João Carvalhosa, ex-chefe regional de Lisboa (2015-18), que defende que Faria não deveria tomar posse.

Se fosse eu, por mais inocente que estivesse, salvaguardaria sempre o bom nome do CNE e não tomaria posse”, disse outra dirigente do Corpo Nacional de Escutas, ao mesmo tempo que surgem vozes a defender a realização de novas eleições.

Outro responsável, que toma o partido de Ivo Faria, disse, no entanto, que “se as pessoas têm perguntas já o poderiam ter feito”.

Já o presidente da Comissão Episcopal do Laicado e Família, da qual está dependente o CNE, assegurou que ainda não lhe chegou qualquer queixa sobre o assunto.

A nós não nos chegou nada sobre isso, não podemos agir nem refletir sobre o assunto sem nos chegar nada”, disse o presidente da comissão e bispo auxiliar de Lisboa, Joaquim Mendes, citado pelo 7MARGENS, acrescentando que “quando chega um papel, a comissão dá atenção ao papel, tem de dar atenção ao que as pessoas dizem”.

A tomada de posse dos novos órgãos nacionais do CNE – que resultaram de eleições realizadas em 12 de janeiro — para o próximo mandato está agendada para o final da reunião do conselho nacional plenário da instituição, que deverá decorrer entre as 9h e as 17h na Paróquia de Santa Eulália de Balasar.