A reunião de quarta-feira entre António Costa e Mário Centeno, em São Bento, pode ter sido anunciado como capítulo final na polémica entre os dois sobre a injeção de 850 milhões de euros no Novo Banco. Mas o terceiro protagonista da história, Marcelo Rebelo de Sousa, ainda proporcionou um epílogo.

O presidente da República telefonou na noite de quarta-feira ao Ministro de Estado e das Finanças para falar daquilo que classificou como “um equívoco” na interpretação das suas declarações na Autoeuropa, em Palmela. E se, do lado de Mário Centeno, o telefonema foi entendido como um pedido de desculpas – e essa foi a versão posta a circular aos jornalistas -, o Palácio de Belém quis entretanto vir a público “reiterar a sua posição, ontem expressa” e esclarecer o conteúdo da conversa sem qualquer referência a um pedido de desculpas.

Ou seja, mesmo sem o dizer na nota publicada ao início da tarde desta quinta-feira no site da presidência, Marcelo não gostou que ficasse a ideia que se tinha desculpado a Mário Centeno. E fica claro que o Presidente da República mantém o que disse.

Na ocasião, Marcelo Rebelo de Sousa deu razão a Costa ao dizer que o primeiro-ministro “esteve muito bem” ao condicionar a transferência para o Novo Banco à conclusão de uma auditoria aos créditos do banco, porque politicamente não era a mesma coisa fazer o pagamento antes ou depois de se conhecer a auditoria.

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De acordo com fontes ouvidas pelo Observador, o ministro das Finanças, que acredita ter a razão técnica e jurídica do seu lado, considerou que as palavras do Presidente foram “uma ingerência em assuntos governamentais” e pediu uma reunião com Costa na noite de quarta-feira, para a qual seguiu com a intenção de apresentar a demissão. Centeno considerou em várias ocasiões que as transferências para o novo banco constam de um contrato que todos os membros do Governo e os deputados conhecem bem, e que não dependem de outras auditorias que não as fiscalizações regulares de várias entidades.

Mini-crise encerrada, mas sem abraço da paz e com contradições

Da reunião entre Costa e Centeno saiu um entendimento – o titular das Finanças não sai (para já) – bem como um comunicado em que o ministro conseguiu fazer inscrever a sua posição (já apresentada nos dois dias anteriores, incluindo no parlamento) e uma frase em que o primeiro-ministro reafirma a sua confiança pessoal e política no ministro. Face a estes desenvolvimentos, e ao papel central que lhe coube nesta mini-crise política, o Presidente da República veio agora esclarecer que “reitera a sua posição, ontem expressa, segundo a qual não é indiferente, em termos políticos, o Estado cumprir o que tem a cumprir em matéria de compromissos num banco, depois de conhecidas as conclusões da Auditoria cobrindo o período de 2018, que ele próprio tinha pedido há um ano, conclusões anunciadas para este mês de Maio, ou antes desse conhecimento. Sobretudo nestes tempos de acrescentados sacrifícios para os Portugueses”.

E terá sido apenas isso, diz a mesma nota de Belém, “que transmitiu ao Senhor Primeiro-Ministro e ao Senhor Ministro das Finanças”.

Já sobre o impacto das suas palavras na permanência do ministro no Governo, Marcelo diz que “o Presidente da República não se pronunciou, nem tinha de se pronunciar, sobre questões internas do Governo, nomeadamente o que é matéria de competência do Primeiro-Ministro, a saber a confiança política nos membros do Governo a que preside”.

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Notícia atualizada às 14h25 com a nota da Presidência da República