São já duas as baixas no governo de Hassan Diab na sequência das violentas explosões no porto de Beirute na terça-feira e da onda de protestos que saiu à rua. Depois da ministra da Informação, Manal Abdel Samad ter anunciado, este domingo, que renunciava ao cargo, horas depois, era o ministro do Ambiente, Damianos Kattar, a tomar a mesma decisão.

Na segunda-feira, véspera da explosão, tinha sido o ministro dos Negócios Estrangeiros, Nassif Hitti, a demitir-se por “desentendimentos com o governo”. A primeira baixa no executivo após a tragédia aconteceu este domingo, com a ministra Manal Abdel Samad a sair, apontando o dedo ao primeiro-ministro, que acusa de ter falhado para com o povo libanês. Abdel Samad tinha sido, esta semana, a porta-voz que anunciou a prisão domiciliária de todos os responsáveis do porto de Beirute (envolvidos na gestão dos assuntos relacionados com o armazenamento do nitrato de amónio desde junho de 2014 até ao dia do acidente).

“Quero pedir desculpa ao povo libanês, a cujas aspirações não pudemos responder devido às dificuldades que enfrentamos”, afirmou a ministra, citada pelo Aljazeera, acrescentando que tudo fez desde as manifestações de outubro para que a situação pudesse mudar, mas frisou que “a mudança ainda continua longe”.

Abdel Samad disse ainda que renunciava “por respeito aos mortos, feridos e desaparecidos” depois das explosões de terça-feira e “em resposta ao pedido de mudança do povo”.

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Já o ministro do Ambiente, Damianos Kattar, o segundo a demitir-se após as explosões, disse que a decisão de sair foi tomada “à luz da enorme catástrofe”, acrescentando que perdeu a esperança num “regime estéril que arruinou várias oportunidades”.

O número de feridos nos confrontos entre os manifestantes e a polícia desde sábado subiu exponencialmente. O último balanço das autoridades aponta para 728 feridos, depois de cerca de 10 mil manifestantes terem ocupado a Praça dos Mártires, em Beirute e terem tomados alguns ministérios na cidade. A ação dos manifestantes levou o exército libanês a intervir para recuperar o domínio dos ministérios e, durante os confrontos, um dos polícias no local acabou por perder a vida.

Manifestantes em Beirute invadiram ministério da Economia. Mais de uma centena de feridos e um polícia morto nos confrontos

Presidente do Líbano diz que investigação internacional à explosão “é perda de tempo”

Depois de ter admitido a hipótese da explosão não ter sido um acidente, mas resultado de “um míssil ou uma bomba”, mas recusar qualquer intervenção estrangeira na investigação às causas das explosões, Michel Aoun volta a frisar que não está interessado em mãos do exterior a investigar, considerando que são “uma perda de tempo”.

O balanço provisório das explosões aponta para cerca de 6.000 feridos e 156 mortos, mas as buscas ainda decorrem na capital do Líbano, à medida em que o número de desaparecidos vai aumentando.

Depois de terem saído às ruas, os manifestantes fizeram circular na internet um aviso a alertar que “a fúria não passa num só dia” e prometendo mais ações de protesto contra o governo nas ruas da capital, Beirute.

Ex-primeiro-ministro libanês nega ter recebido correspondência sobre carga que explodiu

Tammam Salam foi primeiro-ministro do Líbano entre fevereiro de 2014 e dezembro de 2016 e recusa agora ter recebido “correspondência ou informação” sobre a chegada dos produtos químicos perigosos que acabariam, quase sete anos depois, por provocar as duas violentas explosões no porto de Beirute.

O Aljazeera tinha divulgado documentos que provavam que os funcionários da alfândega tinham questionado a Justiça libanesa, entre 2014 e 2017, sobre o que fazer com a carga (apreendida a um navio Russo no final de 2013), mas Tammam Salam negou ter tido conhecimento dessa correspondência.

Num comunicado, Salam diz que as acusações de que saberia do perigo do armazenamento daquela carga são “falsas e desprovidas de verdade”.

Doadores assumem compromissos de quase 253 milhões de euros

Os doadores internacionais assumiram, durante a conferência organizada pela França e pelas Nações Unidas, compromissos de cerca de 300 milhões de dólares (cerca de 253 milhões de euros) de ajuda de emergência ao Líbano, foi este domingo anunciado.

Beirute. Doadores assumem compromissos de quase 253 milhões de euros

De acordo com a Presidência francesa, este montante inclui 30 milhões de euros da França. Os doadores prometeram prestar ajuda de emergência, centrando-se no apoio médico e aos hospitais, escolas, alimentação e habitação.

Os países reunidos este domingo em videoconferência para discutir uma ajuda de emergência ao Líbano após a explosão que devastou Beirute anunciaram que o apoio será dado “diretamente” à população e com “transparência”.

Os participantes concordaram que a sua assistência deve (…) ser coordenada sob a égide das Nações Unidas e fornecida diretamente à população libanesa, com o máximo de eficácia e transparência”, declararam os representantes de perto de 30 países, bem como da União Europeia, da Liga Árabe, do Banco Mundial e do Fundo Monetário Internacional, num comunicado divulgado no final da reunião.