— Sexta-feira, 9 de outubro de 2020: 1.394 casos de Covid-19

Primeiro foi o alerta do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa: poderemos ter de repensar o nosso Natal. Agora foi a diretora-geral da Saúde, Graça Freitas, a apelar a todas as pessoas que confraternizem o mínimo possível com familiares e amigos no dia em que os casos positivos continuam a passar a barreira dos mil novos casos.

Na habitual conferência de imprensa sobre a pandemia, Graça Freitas revelou mesmo que 67% dos novos casos registados nos últimos dias resultam de convívios em batizados, bodas e banquetes, como alguém designou de “três B”. É a essa conclusão que chegam os técnicos que, a cada vez que recebem um caso positivo, fazem a investigação epidemiológica. Graça Freitas faz por isso “um grande apelo às pessoas e às famílias: que se coíbam de ter esses encontros festivos, que levam à descontração e a múltiplos contactos de proximidade”. Muitas vezes, segundo disse, estes encontros são acompanhados de refeições, “as máscaras são retiradas, o que ainda aumenta o risco”.

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Além destes convívios, há outros a preocupar a Direção Geral da Saúde. Praxes e receções aos estudantes de Erasmus. “Não estamos em 2019, as pessoas originam surtos”, avisou Graça Freitas, lembrando que não é certo que os mais novos sejam infetados e não tenham uma doença grave. Já para não falar de que todos estes infetados, mesmo que jovens, podem contagiar outros e deixar o vírus entrar em sítios mais vulneráveis como os lares.

Temos que ser responsáveis por nós e pelos outros. As pessoas têm que diminuir o número de contactos que têm no seu dia a dia. A principais medidas são o nosso comportamento”, avisou.

Já antes as palavras da ministra da Saúde, Marta Temido, tinham ido no mesmo sentido. Depois de enumerar o esforço que tem sido feito, nomeadamente quanto à capacidade de testagem, que passou de 2500 testes por dia, em março, para 19.600 testes por dia, neste mês de outubro, a governante explicou aquilo que mais a preocupa. É que dos 28.392 testes feitos quarta-feira, quase 8% foram positivos. “Este é um sinal de alerta”, disse.

E não é o único. Temido lembra que o atendimento nos centros de saúde — que tantas queixas tem movido — tem de ser melhorado e que isso passa não apenas pelo reforço de recursos humanos, mas também por uma melhoria no sistema da rede telefónica. O que estará a ser feito.

Estamos a falar de intervenções complexas que se agravaram com a pandemia”, disse.

Por outro lado, tem que se trabalhar melhor no equilíbrio das respostas a dar aos doentes Covid e não-Covid. A governante tem consciência de que tal implicará um esforço maior de todos. “Compreendo que os profissionais de saúde estão cansados, e que são muitas as tarefas, compreendo que a pressão sobre todos é elevada, mas este não é o momento de ninguém desistir”, disse.

Mais positivo foi o presidente da ARS de Lisboa e Vale do Tejo, Luís Pisco, que exibiu uma tabela com os 13 hospitais da região e explicou, então, como se está a conciliar os cuidados a doentes Covid-19 e não-Covid. Nestes 13 hospitais há 7.083 camas, 6.330 são camas que podem ser usadas em situações Covid ou não-Covid. Ou seja, há um conjunto de camas que não pode ser usado para outros fins, porque são destinadas a transplantes, obstetrícia, queimados, exemplificou.

“Temos 503 camas para 383 doentes internados, o que quer dizer que ainda não atingimos o nosso limite”, disse. Já Nas Unidades de Cuidados Intensivos “temos um total de 185 camas a mais caso seja necessário alojar”, acrescentou, explicando que neste momento há 98 camas disponíveis com 74 doentes internados.

O responsável garantiu no entanto que há outras estruturas a prestar apoio e que podem fornecer mais camas para doentes não urgentes como o hospital das Forças Armadas e, para casos menos graves, o Centro de Atendimento Militar em Belém tem 30 camas — que neste momento estão todas ocupadas, em fase final de tratamento para quem não tem condições em casa para fazer o confinamento. Outro recurso tem sido o Alfeite, para pessoas que não podem ir para casa depois do tratamento, além disso há também a Proteção Civil com “uma série de estruturas de retaguarda”, anunciou.

No entanto, reconheceu, há já hospitais que estão cheios, quando outros estão vazios, o que não devia acontecer. Por causa dos casos em Sintra, por exemplo, o hospital Fernando da Fonseca, na Amadora, perdeu a capacidade e acabou por mandar doentes para o Beatriz Ângelo, em Loures, que também está cheio. Uma gestão que nem sempre é fácil.