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Há uma nova série espanhola para ver, mas desta vez só tem "30 Monedas" (e algum terror)

Este artigo tem mais de 3 anos

Falámos com Álex de La Iglesia, o criador e realizador dos oito episódios que se estreiam dia 29 na HBO Portugal. É a história de uma luta "entre o bem e o mal", com Judas à mistura e "medo". diz-nos.

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Se o mundo já não estava louco o suficiente, eis que chega este domingo a nova aposta da HBO, “30 Monedas”, para subir mais um degrau na loucura, ou, se quiser, no medo. Esta produção espanhola de fantasia e horror foi realizada por Álex de La Iglesia (“El Dia de la Besta” ou “El Bar”), traz-nos a desventura passada em Pedraza (Segovia) contra um perigoso inimigo demoníaco que anda à procura de moedas — numa alegoria às 30 moedas de prata que Judas ganhou por ter traído Jesus Cristo. E a personagem principal não podia ser menos improvável: Padre Vergara (Eduard Fernández), ex-presidiário, amante do boxe, fumador, de cabeça rapada, que agora vai ter de se resolver com o seu passado.

Há ainda uma veterinária (sim, porque uma vaca pariu um bebé) e um presidente de câmara (daqueles que mete mesmo mãos à obra) e juntos vão tentar derrotar este monstro. Comparações com “Lovecraft Country” são bem vindas — mas também com “The Preacher”, um pouco mais antiga, mas muito semelhante, nem que seja porque o protagonista também tem uma clérgima à volta do pescoço. Numa mesa redonda virtual, Álex de La Iglesia falou das suas influências, que vão de John Carpenter a H.R. Giger, das dificuldades de fazer uma produção sem os recursos de Hollywood e do fascínio pelo género de horror, “a sua casa”, onde é possível “ter a figura de Satanás, de fato e gravata, a falar da Criação”.

“Não somos uma produção americana, não trabalhamos em Hollywood com milhares de técnicos, com muita experiência. Fizemos tudo nós próprios. Podíamos ter gravado em locais urbanos, como acontece em ‘Silent Hill’ ou ‘Wayward Pines’, mas Pedraza, onde só se entra através de um portão, foi perfeita para a história. Um local medieval, a lembrar o século XX, onde não existe um edifício normal”.

É assim que o realizador espanhol começa por defender o seu mais recente trabalho, antecipando já uma segunda temporada, confessando que, mesmo não tendo os mesmos meios norte-americanos, é possível conseguir o mais importante: entreter e obter uma reação do público. Especialmente quando os monstros que nos surgem no ecrã têm cara de bebé. “Sempre gostei de adaptar lovecraft’s [subgénero de terror sobre o desconhecido], falar de criaturas que não sabemos exatamente o que são. Mas esta criatura que surge do início da série assusta por causa da sequência anterior. É como nos filmes dos anos 50, quando se via um monstro de latex, só que antes tínhamos a cara de uma mulher a gritar que nem uma louca. É aí que sentes que o monstro é bom, porque o grito é bom”, diz. Ou seja, a responsabilidade está do lado dos atores, porque se o medo lhes salta da garganta, talvez contagie o público. “Mas se a reação dos atores não é boa, estás perdido”, argumenta.

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[o trailer de “30 Monedas”:]

Ainda que comparações possam ser feitas com outras séries ou filmes, há algo que salta à vista neste novo projeto europeu da HBO: as cenas de ação entre atores mais velhos e mais novos. Não é todos os dias que vemos uma senhora de meia idade a lutar contra um padre, ou a levantar-se no meio de uma ambulância depois de ter levado  com uma mão cheia de tiros.

“Foi muito difícil. As pessoas são muito diferentes, não temos gente jovem a fazer cenas jovens. Temos atores mais velhos a fazer cenas arriscadas e perigosas, como enforcamentos. Os americanos estão habituados a fazê-lo, aqui em Espanha é diferente. Nem o Eduard Fernández nem a Megan Montaner (a veterinária) são duplos, têm de ser enforcados em espaços reais, não em sets. Acontece graças à sua bondade, é preciso um envolvimento, termos amigos reais”, diz.

As feridas e as nódoas negras tratam-se depois, a fatura do hospital logo pagará a grande plataforma de streaming. Quem sabe.

Álex de La Iglesia, além de ter muita fé neste género, diz que é mesmo o melhor atualmente. Para “30 Monedas”, o realizador foi buscar influências a John Carpenter (um dos mestres de terror e ficção científica) e Giger (artista plástico, um dos responsáveis pela criação de “Alien”), mas não deixa de olhar para o que se faz agora, para títulos como “Midsommar”, “Hereditary” ou até a série “True Detective” — que curiosamente também está na HBO. “Se tiver uma mente tão confusa como a minha, esta é a sua casa. Neste género pode se falar de temas sérios, como a luta entre o bem e o mal, o pecado no ser humano, pode-se falar filosoficamente sem se ser pretensioso. Isto não é um filme de Tarkovsky, é uma série estúpida espanhola onde, de repente, aparece Satanás, vestido de fato e gravata, a falar da origem da Criação. Só o terror é que permite isto”, afirma.

"Isto não é um filme de Tarkovsky, é uma série estúpida espanhola onde, de repente, aparece Satanás, vestido de fato e gravata, a falar da origem da Criação. Só o terror é que permite isto", diz o realizador espanhol

BorjaBenito

Este fascínio do realizador pelo cristianismo, pelas suas heresias, contradições e personagens bíblicas vem do tempo da universidade e tem acompanhado o trabalho do cineasta espanhol. Até porque, tal como defende Aléx de La Iglesia, aquilo que sabemos sobre esta religião foi evoluindo e mudando constantemente. No entanto, para os crentes, só há uma figura que sabe tudo desde o início: Deus. Até que Judas o iria trair.

“Se Deus é todo poderoso, se sabe tudo e se conta a história da humanidade, sabe quem vai para o Inferno e para o Céu. Sabe perfeitamente quem é Judas e que o vai trair. Ou seja, ele não é mau. Representa todos os maus da fita do mundo, que são necessários para o plano de Deus”, conta.

Portanto, para os cristãos que vão ver “30 Monedas”, a linha que separa os bons dos maus é muito ténue, pois “é tudo uma questão de funções que cada um desempenha. Se num episódio achar que o padre pugilista devia ser castigado, talvez mude de ideias depois de mais um binge watching. Agora, segundo o realizador, ainda que esta produção espanhola lide com o fantástico, não deixa de ter muita pesquisa e informação real, pelo menos a que está presente quer nas escrituras bíblicas, quer no Google, onde Aléx de La Iglesia se foi informar. Principalmente porque “o cristianismo não é uma partida de futebol”. Aqui, quem ganha pode nem ser o vilão, e quem perde pode nem ser santo. É como na vida real: tudo não passa de um grande enredo. Esperemos só que Deus não revele o final da série antes de lá chegarmos.

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