Não se sabe quando começa o desconfinamento, mas os agentes ligados a festivais e concertos estão confiantes de que haverá música ao vivo para milhares de pessoas no próximo verão e por isso continuam em reuniões com o Governo na tentativa de encontrar o melhor modelo para a realização do que agora começa a ser conhecido como “festivais-bolha” livres de Covid-19. Este modelo é defendido há várias semanas por empresários do setor e conheceu novidade nos últimos dias: os “festivais-bolha” serão ensaiados provavelmente já em abril sob a forma de vários “eventos-piloto” a realizar em Lisboa e no Porto, segundo informações recolhidas pelo Observador junto do setor.
Se tudo correr bem nos “eventos-piloto”, e se o Governo e as autoridades de saúde derem luz verde, os festivais de verão vão mesmo acontecer. Os “eventos-piloto”, ou experimentais, baseiam-se no que já aconteceu no ano passado em Londres e em Barcelona, com concertos de ambiente controlado em que todos os participantes foram testados à entrada.
O comportamento dos espectadores permitirá depois às autoridades de saúde avaliar se os recintos são seguros e se no interior destes podem ser levantadas as regras de distanciamento físico que procuram evitar a transmissão do coronavírus. Ao mesmo tempo, os promotores de festivais vão saber através dos “eventos-piloto” que logística e lotação adotar em espetáculos musicais de grande dimensão, ou seja, os festivais propriamente ditos — entendidos como “festivais-bolha” por serem locais onde só entram pessoas com um resultado negativo no teste à Covid-19, independentemente de terem sido vacinadas, à semelhança do que já hoje acontece na aviação comercial.
A data dos “eventos-piloto” em Lisboa e no Porto está dependente do calendário que o Governo vier a estabelecer para o desconfinamento, sendo abril uma das hipóteses. Não é certo que salas vão receber estes concertos experimentais, mas espaços de média dimensão como por exemplo o Campo Pequeno, em vez de grandes salas como a Altice Arena, apresentam-se como viáveis, até porque os “eventos-teste” vão ter um número muito reduzido de pessoas, permitindo criar um modelo matemático a partir daí.
Falta estabelecer se os testes aos espectadores serão feitos no local (testes rápidos) ou se tal como nas viagens de avião apenas são aceitáveis testes considerados mais sensíveis (PCR) feitos até 72 horas antes. Também por definir está o uso de máscaras por parte de quem deu negativo e se haverá lugares sentados ou de pé.
As condições de retoma dos espetáculos ao vivo, no contexto das restrições face à Covid-19, têm vindo a ser discutidas por um grupo de trabalho que começou a reunir-se por teleconferência a 13 de janeiro. Além da ministra da Cultura, Graça Fonseca, e dos secretários de Estado do Turismo e da Saúde, têm participado a Inspeção-Geral das Atividades Culturais e representantes do sector dos espetáculos (Associação de Promotores de Espetáculos, Festivais e Eventos – APEFE, Associação Portuguesa de Festivais de Música – Aporfest; Associação Portuguesa de Serviços Técnicos para Eventos – APSTE; e Associação Espetáculo, Agentes e Produtores Portugueses – AEAPP).
O mais recente encontro teve lugar na sexta-feira, 19, e contou pela segunda vez com um representante da Direção-Geral da Saúde. Fontes próximas descrevem como “dialogante” o tom geral das reuniões. A próxima teleconferência deve acontecer a 4 de março.
Contactado nesta terça-feira, o gabinete da ministra da Cultura não quis fazer comentários. Em fins de dezembro, quando o Observador avançou com a notícia da criação de um grupo de trabalho sobre o regresso dos festivais, o Ministério da Cultura tinha dito que as reuniões desta “plataforma de diálogo” serviriam para “antecipação de cenários” e “identificação de soluções”, mas “sem nunca descurar” a saúde pública.
A quebra no setor da música ao vivo terá sido de 80% em 2020, segundo números da APEFE. O primeiro confinamento e adiamento de todos os festivais, mas também as lotações reduzidas a 50% a partir de junho e o recolher obrigatório depois do verão podem ter retirado da economia mais de 1,6 mil milhões de euros. Os festivais de música movimentam a cada ano entre dois a três milhões de pessoas em Portugal e geram proventos diretos e indiretos de 18 mil milhões de euros, dizem dados de janeiro da Aporfest. Os bilhetes para este ano estão à venda em plataformas online e os que foram comprados em 2020 continuam válidos para 2021.