A Direção-Geral da Saúde recomendou, esta quinta-feira, que a vacina da AstraZeneca seja dada apenas a pessoas com mais de 60 anos enquanto se aguarda que mais dados sejam recolhidos e analisados sobre os potenciais efeitos secundários deste imunizante.

O anúncio foi feito pela diretora-geral da Saúde, Graça Freitas, numa conferência de imprensa no Infarmed, em conjunto com Rui Ivo, presidente do Infarmed, e o vice-almirante Henrique Gouveia e Melo, coordenador da task force do Plano de Vacinação Covid-19.

Quais as implicações diretas desta nova recomendação?

Previa-se que os docentes e não docentes do 2.º e 3.º ciclo, do secundário e todos os do pré-escolar e 1.º ciclo que não foram chamados em março fossem vacinados no fim de semana de 10 e 11 de abril. A nova recomendação faz atrasar a vacinação em uma semana, para 17 e 18 de abril.

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Estes profissionais não estão alheios às polémicas em torno da vacina da AstraZeneca, mas, apesar dos receios, estavam disponíveis para receber esta vacina. Agora, só quem pode tomá-la são os docentes e não docentes com mais de 60 anos e, até sábado, a task force arranjará uma solução para os restantes.

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O que acontece a quem recusa tomar a vacina?

“As vacinas são seguras e eficazes”, disse o coordenador da task force, deixando claro que ia seguir estritamente as regras definidas pela DGS que indicam que ninguém pode escolher que vacina quer tomar.

A vacinação não é obrigatória e o vice-almirante Gouveia e Melo não se mostrou muito preocupado com as pessoas que não compareceram para a vacinação. “Temos conseguido ter sempre pessoas para vacinar.”

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Esta alteração vai provocar atrasos no processo de vacinação?

Não. Pelo menos não terá o mesmo impacto de quando a vacina da AstraZeneca foi totalmente suspensa em Portugal, mesmo que por poucos dias. Neste momento, existem alternativas para administrar outras vacinas a quem tem menos de 60 anos, disse a diretor-geral da Saúde, Graça Freitas.

O coordenador da task force, o vice-almirante Gouveia e Melo, também não está preocupado que a vacina da AstraZeneca fique reservada para pessoas com mais de 60 anos: no segundo trimestre Portugal vai estar a vacinar sobretudo pessoas acima desta idade. Além disso, para o segundo trimestre as doses da AstraZeneca são apenas 1,4 milhões dos 8,8 milhões que se prevê que Portugal receba no total.

Quantas doses da vacina da AstraZeneca já foram administradas?

O vice-almirante Gouveia e Melo, coordenador da task force, disse que até ao momento já foram administradas 400 mil doses da AstraZeneca e estão 200 mil de reserva. A totalidade (ou quase) são primeiras doses, porque as doses são dadas com um intervalo de 12 semanas.

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O que vai acontecer a quem tem menos de 60 anos e já tomou a primeira dose da AstraZeneca?

Graça Freitas apelou a que estas pessoas ficassem descansadas quanto ao facto de poderem completar o programa de vacinação com duas vacinas como está previsto. A diretora-geral da Saúde considera que os três meses de intervalo entre as duas doses serão suficientes para termos mais informações sobre a vacina da AstraZeneca ou sobre possíveis alternativas.

Neste momento, ainda não se sabe se os mesmos efeitos secundários podem acontecer depois da segunda dose, porque ainda não existem muitas pessoas que já tenham tomado a segunda dose da vacina, conforme discutido na quarta-feira na conferência de imprensa da Agência Europeia do Medicamento (EMA).

Nem mesmo no Reino Unido, que apesar de ter começado a campanha de vacinação mais cedo, optou por dar o maior número de primeiras doses possível antes de passar às segundas doses.

Afinal a vacina da AstraZeneca provoca mesmo coágulos sanguíneos. Mas podemos ou não confiar nela?

Que precauções devem ter as pessoas que tomaram a vacina da AstraZeneca há pouco tempo?

Os casos de coágulos sanguíneos invulgares associados a baixos níveis de plaquetas foram registados no espaço de duas semanas após a toma da vacina. Nesse período, as pessoas vacinadas e os médicos assistentes devem estar atentos a sintomas que indiquem efeitos secundários adversos.

A EMA e o Infarmed definem como sinais a ter em atenção: falta de ar, dor no peito, inchaço nas pernas, dor de barriga persistente, sintomas neurológicos (incluindo dores de cabeça graves e persistentes ou visão turva) e pequenos pontos de sangue por baixo da pele no sítio onde foi dada a injeção.

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O que justifica a definição dos 60 anos acima ou abaixo dos quais se pode ou não dar a vacina?

As pessoas acima dos 60 anos podem e devem ser vacinadas porque têm um maior risco de desenvolver Covid-19 grave, ao mesmo tempo que têm menor risco de desenvolverem os efeitos secundários adversos raros associados à vacina da AstraZeneca, justificou Graça Freitas.

A decisão de vacinar tem sempre em conta um balanço entre os benefícios, como prevenir a doença Covid-19 (nomeadamente a doença grave), e os riscos, neste caso, reações adversas da vacina, conforme foi referido várias vezes na conferência de imprensa no Infarmed e na EMA.

Tanto Rui Ivo como Graça Freitas afirmaram que a EMA não tinha encontrado uma associação entre a utilização da vacina e a ocorrência de fenómenos trombóticos acima dos 60 anos, mas que abaixo dos 60 anos, sim, havia uma possível associação a estes fenómenos raros.

Na verdade, durante a conferência da EMA foi referido que a maior parte dos casos registados são de mulheres com menos de 60 anos, mas a agência disse não ter conseguido encontrar uma ligação à idade, sexo ou outros fatores de risco.

A idade escolhida em Portugal, como noutros países, estará, assim, mais relacionada com os fatores de risco inerentes à população e os objetivos que se pretende alcançar com a vacinação.

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Que países tomaram a mesma decisão de Portugal em relação a limitar os grupos etários a vacinar?

A Alemanha e os Países Baixos só vão dar a vacina da AstraZeneca a maiores de 60 anos e a Itália também o recomenda, mas também não o proíbe. Em França e no Canadá há um pouco mais de flexibilidade e pode ser dada a partir dos 55 anos. O Reino Unido é, de todos, o menos restritivo: as pessoas com menos de 30 anos podem escolher tomar outra vacina.

Depois, há um conjunto de países mais restritivos. Na Noruega está suspensa para todas as idades e em Espanha só pode ser dada entre os 60 e os 69 anos. No caso da Suécia pode ser dada a partir dos 65 anos.

Portugal já teve casos de coágulos sanguíneos invulgares como os reportados noutros países europeus?

Só se registaram dois casos de eventos tromboembólicos depois da vacinação contra a Covid-19, um deles depois da vacina da AstraZeneca e outro depois de outra vacina, disse Rui Ivo. Nenhum dos casos resultou na morte dos doentes.

Os casos podem relacionar-se com os que aconteceram noutros países da Europa, mas não são exatamente iguais, esclareceu o presidente do Infarmed.