Cada vez mais próximo de abandonar o poder, o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, acusou esta quinta-feira os seus adversários políticos de fazerem parte de uma coligação “perigosa” para Israel e apelou aos deputados de direita para chumbarem o governo proposto por Yair Lapid e Naftali Bennett.

Numa publicação na rede social Twitter, Netanyahu defendeu que todos os “deputados eleitos por eleitores de direita devem opor-se a este perigoso governo de esquerda” e acusou Lapid e Bennett de se terem “vendido” a políticos árabes — referindo-se a Mansour Abbas, líder do partido árabe israelita Raam, que aceitou apoiar a nova solução de governo.

Nas eleições israelitas do passado mês de março, o Likud (direita), de Benjamin Netanyahu, foi o partido mais votado, no entanto, o primeiro-ministro israelita não conseguiu votos suficientes no Knesset (parlamento) para formar uma maioria.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Perante este cenário, os partidos anti-Netanyahu, que vão desde forças políticas de esquerda a partidos de extrema-direita, encetaram negociações para a formação de uma “coligação de mudança”, cujo principal objetivo é afastar da liderança do executivo o atual primeiro-ministro, há 12 anos consecutivos no poder e a ser julgado por corrupção.

Israel. Oposição anuncia Governo de coligação sem Benjamin Netanyahu

Na quarta-feira, a apenas 30 minutos de terminar o prazo para que Yair Lapid (líder do Yesh Atid, segundo partido mais votado) apresentasse uma solução de governo ao Presidente israelita, Reuven Rivlin, o candidato centrista conseguiu fechar um acordo que, no total, reúne oito partidos, algo inédito em Israel.

De acordo com a solução governativa apresentado por Yair Lapid, o líder do Yamina, Naftali Bennett, de extrema-direita, vai assumir o cargo por um período de dois anos, trocando depois com o líder do centrista Yesh Atid.

No entanto, apesar da solução sem precedentes encontrada para a formação de um novo governo (que, pela primeira vez, inclui o apoio de partido árabe), a saída de cena de Netanyahu ainda não está consumada, e o primeiro-ministro israelita ainda tem alguns dias para tentar travar o novo executivo, que terá de ser aprovado pelo Knesset. Juntos, os deputados dos oito partidos que apoiam o executivo reúnem 61 dos 120 deputados.

Ou seja, para que a “coligação de mudança” seja chumbada, basta que um ou dois deputados destes partidos mude de posição e vote contra o novo executivo. Nesse sentido, Netanyahu espera conseguir apelar a deserções, sobretudo entre os sete deputados do Yamina, o partido de extrema-direita de Naftali Bennett, que já foi ministro em governos de Netanyahu (da Educação e da Defesa), mas rompeu com o seu antigo mentor, querendo suceder-lhe no cargo.

O fim do governo de Netanyahu. Lapid e Bennett confirmam estar a trabalhar numa solução multipartidária para governar Israel

Em declarações ao Canal 12 israelita, Avigdor Lieberman, também ele ex-ministro de Netanyahu e líder do nacionalista Israel Nossa Casa, que integra a nova coligação, espera “12 dias que não vão ser fáceis”, antevendo que Netanyahu vai dar tudo por tudo para travar o novo governo no Knesset.

O primeiro-ministro israelita e os seus aliados vão explorar, sobretudo, o apoio dado pelo partido árabe Raam à nova coligação, algo contraditório tendo em conta as posições defendidas, principalmente, por Naftali Bennett, que recusa a existência de um Estado palestiniano e defende a anexação de mais territórios por parte de Israel. Além disso, a nova coligação reúne vários partidos de esquerda, nomeadamente o Meretz e o Partido Trabalhista, que têm defendido uma solução de dois Estados para a resolução do conflito entre israelitas e palestinianos, o que pode aumentar a insatisfação de alguns deputados nacionalistas.

Ainda não há data para que a nova coligação vá a votos no Knesset, mas o bloco anti-Netanyahu espera que tal possa acontecer já na próxima semana. Nesse sentido, está a tentar substituir o porta-voz do Knesset, Yariv Levin, do Likud, que deverá adiar ao máximo a votação para dar mais tempo a Netanyahu.

Caso não haja um novo governo após essa votação, Israel terá de ir, muito provavelmente, para as quintas eleições legislativas em pouco mais de dois anos e meio.