O dono da cadeia de laboratórios Germano de Sousa avisa que a comparticipação de dez euros paga pelo Estado por cada teste à Covid-19 não é suficiente para garantir a qualidade e fiabilidade dos rastreios e descreve a medida como “confusa”.

O médico patologista Germano de Sousa lembra ao Observador que, para obter resultados concretos, os testes à Covid-19 têm de ter qualidade e seguir “todos os passos do rigor”. “Há testes e testes: os de antigénio e os rastreios de origem muito duvidosa que estão a ser vendidos por aí, sem aprovação dos reguladores e que pouco ou nada nos vão dizer”, afirma.

De acordo com a portaria publicada ontem pelo Governo, em causa nesta medida estão os testes rápidos de antigénio. O Estado paga a 100% o valor até dez euros e cada utente pode testar-se quatro vezes por mês, em laboratórios ou farmácias. No caso dos laboratórios, Germano de Sousa antevê muitas dificuldades.

Quando falamos dos testes duvidosos, o preço do reagente em si custa um ou dois euros. Não é o caso destes testes de alta qualidade, que o meu laboratório faz e que custam cerca de sete euros. Depois, acresce o material de proteção individual. Não sabemos como vamos conseguir fazer estes rastreios por dez euros, a não ser que o Governo comparticipe esse valor e o utente pague algo semelhante”, explica.

O antigo bastonário da Ordem dos Médicos exige também mais esclarecimentos. A medida entrou em vigor esta quinta-feira, pouco depois de ter sido anunciada, e Germano de Sousa refere que falta muita informação. “Isto é muito confuso. O próprio despacho não é suficiente esclarecedor”, critica. A portaria refere que a comparticipação não abrange pessoas que tenham a vacinação completa  há 14 dias, pessoas que tenham certificado de recuperação (que tenham tido Covid-19 há mais de 11 dias e menos de 180 dias) e ainda menores de 12 anos.

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Ouça aqui as declarações do médico patologista Germano de Sousa ao Observador

O dono da cadeia de laboratórios Germano de Sousa adianta que aguarda agora mais indicações do Governo e das autoridades de saúde. Ao Observador, o médico garante também que tem capacidade para fazer cerca de 13 mil testes à Covid-19 por dia e que nas últimas duas semanas foram feitos quase 6.000. Em janeiro, fase mais crítica da pandemia em Portugal até agora, a cadeia de laboratórios chegou aos 10.500 testes por dia.

Associação Nacional de Laboratórios Clínicos: “Não fomos tidos nem achados”

Ao Observador, fonte oficial da Associação Nacional de Laboratórios Clínicos também deixa duras críticas à medida: afirma que a entidade não foi contactada e que os profissionais dos laboratórios foram “apanhados de surpresa”.

A fonte alerta que há muitas dúvidas sobre como é que o processo vai ser posto em prática e avisa que há muitos laboratórios que não vão conseguir dar resposta ao previsível aumento da procura de testes antigénio gratuitos.

Os profissionais das farmácias, onde esta comparticipação também se aplica, já deixaram igualmente críticas à medida. Queixam-se de falta de informação e temem não ter capacidade para dar resposta à elevada procurada.

Entretanto, a Câmara Municipal de Lisboa revela ao Observador que, apesar da decisão do Governo de financiar estes rastreios, vai manter o programa de testagem gratuita para quem vive ou trabalha no concelho.

Governo comparticipa quatro testes rápidos por pessoa, mas Câmara de Lisboa mantém rastreios gratuitos sem limite