Em 2012, Primoz Roglic tomou uma das decisões mais complicadas da sua vida. Mais do que isso, tomou a decisão que muitos, ou pelo menos a maioria, não conseguiria tomar: nascido e criado entre montanhas e a fazer do esqui a sua vitrine para chegar ao sucesso, sentiu que deslizara de vez na trajetória ascensional que fazia antes de uma grave queda cinco anos antes que o deixou inconsciente (e com vários traumatismos até ser levado de helicóptero para o hospital.) e mudou de modalidade. Já tinha sido campeão mundial júnior por equipas, já tinha ganho duas Taças Continentais, sentiu que nunca chegaria ao topo como ambicionava desde que começou, em 2003. Aos 22 anos, estava apostado em mudar para o ciclismo.

Não era a primeira vez que um desportista passava de uma para outra modalidade ao mais alto, sendo o mítico Johnny Weissmuller um dos vários exemplos com sucesso disso mesmo entre natação e polo aquático (e o cinema, onde ficou como o mais conhecido protagonista do Tarzan). Ainda houve outros casos como Wilt Chamberlain, Fred Perry, Manny Pacquiao ou Lance Armstrong. Em relação ao esloveno, hoje com 31 anos, o ciclismo correu ainda melhor do que o esqui e 2021, mesmo tendo a desistência no Tour pelo meio depois de uma queda, tornou-se o grande ano da carreira de Primoz Roglic, na Jumbo desde 2016 depois de um início mais modesto no conjunto da Adria Mobil por quem ganhou o Tour do Azerbaijão e da Eslovénia.

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Depois de começar a época com a vitória na camisola dos pontos da Paris-Nice, onde venceu três etapas, o esloveno ganhou a Volta ao País Basco, terminou em segundo na La Flèche Wallonne (melhor resultado do ano em clássicas) e concentrou todas as atenções nos Jogos Olímpicos de Tóquio depois da desistência no Tour, tendo contribuído para a medalha do compatriota Tadej Pogacar na prova de estrada antes de ganhar a medalha de ouro no contrarrelógio. Estava dado o mote para fazer história na Vuelta, tornando-se apenas o terceiro a conseguir três triunfos consecutivos na geral depois de Roberto Heras e Tony Rominger.

Apesar de já ser virtualmente vencedor (algo que o próprio recusava na véspera apesar da vantagem de mais de dois minutos e meio), Roglic quis fechar com chave de ouro e venceu a quarta etapa nesta edição que este sábado ficou marcada por um caso inusitado que fez cair a capa do Superman Miguel Ángel López: por não concordar com a estratégia da Movistar de deixar cair unidades na subida de Castro de Herville, o espanhol, que estava descolar do grupo da frente, saiu da bicicleta, encostou à beira da estrada, sentou-se e recusou continuar a corrida, perdendo assim a terceira posição da geral que passou para Jack Haig. O assunto ainda foi tema do dia mas a passagem do esloveno a dobrar o segundo classificado Enric Mas no contrarrelógio voltou a colocar o foco no essencial. Próximo objetivo de Roglic? O Tour. Em 2022 ou 2023.