Zlatan Ibrahimovic completou 40 anos no início de outubro, há quase dois meses. Continua a jogar numa equipa que está na Liga dos Campeões, continua a ser o capitão da Suécia, continua a ser um dos principais nomes do futebol europeu — mas não deixa de ter 40 anos e ser um jogador profissional que não um guarda-redes. E já nem sequer esconde de que esses dois fatores são cada vez mais difíceis de conciliar.

“Esta manhã, tive dores em todo o lado. Mas enquanto tiver objetivos, enquanto tiver adrenalina, vou continuar. Sei que estou a caminhar para algo bom. Estou a caminhar e preciso de trabalhar para continuar no topo. Vou continuar a fazê-lo enquanto conseguir. Não quero ficar com o arrependimento de parar e depois, daqui a uns anos, dizer que podia ter continuado porque estava a sentir-me bem. É melhor estar totalmente acabado e dizer que não consigo mais. Mas agora ainda consigo e continuo a fazê-lo”, diz o avançado sueco numa entrevista ao The Guardian.

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Na antecâmara de uma visita ao Atl. Madrid onde o AC Milan vai disputar essencialmente as chances de continuar na Europa através do grupo da Liga dos Campeões onde também está o FC Porto, Ibrahimovic garante que está completamente confortável no papel de jogador mais velho numa das equipas mais jovens do panorama europeu. “É incrível, eles fazem com que eu pareça novo, tem este efeito de Benjamin Button. Seis meses aqui e já não tinha cabelos brancos, a sério”, começa por brincar o jogador, referindo depois que é essa juventude que o ajuda a manter-se em forma. “Fico muito orgulhoso porque vejo estes jogadores jovens a assumir mais responsabilidade, a mentalidade está a mudar. Esta é a minha felicidade agora, é a minha adrenalina. Vou treinar e corro tanto como eles. Tenho de dar o exemplo, não sou o cão que ladra e não faz nada”, acrescenta, recordando que o AC Milan está no segundo lugar da Serie A com os mesmos pontos que o Nápoles.

Ainda assim, o exemplo de Ibrahimovic nem sempre é o melhor. Há semana e meia, na última jornada da qualificação para o Mundial 2022 contra a Espanha, o avançado atingiu Azpilicueta com o ombro e derrubou o lateral do Chelsea. O sueco assume que foi propositado — mas explica que estava a tentar defender um colega de equipa. “Claro que fiz de propósito. Não tenho vergonha de o dizer porque ele fez algo estúpido ao meu jogador, armou-se em bom. Foi uma atitude estúpida mas voltaria a fazê-lo para o fazer entender que não pode fazer aquilo. Não faria aquilo comigo. Mas mostrei-lhe o que faria se fosse comigo. Foi por isso que o fiz”, atira o avançado, que garante que não falou com o espanhol após o apito final e que não está preocupado com o facto de o cartão amarelo que viu o tirar do primeiro jogo do playoff que a Suécia terá de disputar.

“O que é que ele podia dizer? A mim não tinha de dizer nada, só se dissesse ao meu jogador — que não ia fazer nada porque é demasiado simpático. Não foi uma boa atitude da minha parte mas voltava a fazê-lo. Sou assim e não tenho vergonha de o dizer. Isto não é sobre falhar o playoff. É sobre fazer com que aquele tipo entenda que não pode meter-se com alguém que está no chão. Não atacas um cão que não fala, atacas aquele que é capaz de fazer alguma coisa. É demasiado fácil provocar os meus colegas que têm 20 anos e são tipos simpáticos. Espero que ele tenha entendido”, completa o jogador do AC Milan, que voltou a Itália no final de 2019 depois de dois anos nos LA Galaxy, nos Estados Unidos.

Para qualquer outro jogador europeu, dois anos em Los Angeles tinham significado o fim da carreira mais competitiva. Para Ibrahimovic, dois anos em Los Angeles significaram a conquista de mais uma cidade, a prova de que ainda tinha capacidade para voltar à Europa e a certeza de que não se importa muito com dinheiro, contratos ou garantias. “Não quero saber de contratos ou de ser famoso, não preciso disso. A única coisa que me move é a adrenalina porque acordo todos os dias com dores em todo o lado. Mas não vão ser dois seguidores a mais que me vão curar. Não vai ser mais dinheiro que me vai curar. Não vai ser a atenção que me vai curar. O que me vai curar é a adrenalina. Não tenho problemas com o sofrimento. Para mim, sofrer é como o pequeno-almoço”, termina o avançado.