Um porta-voz do ministério dos Negócios Estrangeiros da China negou esta segunda-feira que o Kremlin tenha pedido ajuda militar — nomeadamente, armas para as tropas russas na Ucrânia — ao país presidido por Xi Jinping.

A informação foi relatada por meios como a Sky News, a CNN e a BBC, que indicam que este porta-voz classificou as notícias sobre o assunto como “desinformação” vinda dos EUA. As declarações foram proferidas durante um briefing à imprensa do ministério dos Negócios Estrangeiros chinês, em Beijing.

Este porta-voz, Zhao Lijian, acusou as autoridades norte-americanas de estarem a “traficar desinformação” com “intenções sinistras”. E acrescentou:

“A posição da China em relação ao tema da [guerra na] Ucrânia tem sido consistente e clara e temos desempenhado um papel construtivo na promoção de discussões para se chegar à paz. É imperativo que todas as partes se contenham e diminuam a tensão, em vez de se juntar gasolina ao fogo; é importante que os esforços sejam orientados para uma solução diplomática e não para aumentar a escalada de tensão”.

Este domingo à noite, o jornal norte-americano The New York Times noticiava que Putin teria pedido apoio militar a Xi Jinping, nomeadamente requerendo armas para as tropas russas que combatem na Ucrânia. O diário relatava que a informação fora obtida junto de fontes das autoridades norte-americanas.

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Na sequência da notícia, o conselheiro para a Segurança Nacional dos EUA, Jake Sullivan, tinha afirmado à estação CNN: “Estamos a comunicar diretamente e em privado a Beijing que existirão consequências, nomeadamente sanções em grande escala”, caso a China apoie a invasão russa à Ucrânia, seja através de armas e equipamento militar seja através de apoios à economia russa para a proteger das sanções impostas pelo Ocidente.

A reação da China chegou agora, poucas horas antes de um encontro em Roma entre Jake Sullivan e um dos principais operacionais diplomáticos da China para a política externa, Yang Jiechi.

Kremlin também nega ter pedido apoio militar da China

Também o Kremlin negou entretanto ter pedido apoio militar à China para as suas tropas na Ucrânia. A garantia foi deixada pelo porta-voz do regime russo, Dmitry Peskov, que descreveu como falsas as notícias publicadas este domingo em jornais norte-americanos, que citavam (anonimamente) fontes das autoridades dos EUA. As declarações de Peskov foram reproduzidas pela estação Sky News.

Segundo Dmitry Peskov, a Rússia será capaz de atingir os seus “objetivos” na Ucrânia sem apoio de outros países, nomeadamente da China. Esses objetivos, acrescentou Peskov, serão atingidos na plenitude e no prazo temporal previsto — que o Kremlin nunca detalhou publicamente. A invasão da Rússia à Ucrânia começou há 19 dias.

Já relativamente às sanções impostas pelo Ocidente à Rússia, o porta-voz do Kremlin prometeu que “os efeitos” do que descreve como “guerra económica contra a Rússia” vão ser “minimizados”.

Casa Branca confirma reunião com China para discutir situação na Ucrânia e ameaça: apoio à Rússia terá “consequências”

Os Estados Unidos da América disseram aos aliados na Europa e na Ásia que a China sinalizou disponibilidade para providenciar assistência militar à Rússia depois de o país ter solicitado equipamentos para encetar a invasão à Ucrânia, a 24 de fevereiro.

De acordo com a publicação Financial Times, que cita fontes familiarizadas com o conteúdo dos cabos diplomáticos citados, Washington disse aos aliados que a Rússia pediu à China cinco tipos de equipamentos, incluindo mísseis terra-ar, mas também drones e veículos blindados.

Os cabos diplomáticos, enviados pelo Departamento de Estado dos EUA a aliados na Europa e na Ásia, não especificam o nível de ajuda ou o momento em que assistência que possa ser fornecida.

A mesma publicação escreveu no domingo que a Rússia pediu assistência à China num determinado momento após o início do conflito — as autoridades dos EUA acreditam que a China está a tentar ajudar a Rússia.

Entretanto, Ned Price, porta-voz do Departamento de Estado, confirmou esta segunda-feira que as delegações diplomáticas norte-americanas e chinesas estão reunidas em Roma (Itália), de forma a discutir a situação na Ucrânia e o possível apoio chinês à Rússia.

Não querendo dar grandes detalhes sobre o que está a ser discutido, Ned Price ressalvou que os EUA não vão “tolerar qualquer ajuda militar, económica, financeira ou de qualquer domínio” à Rússia. “É da maior preocupação se isso acontecer”, descreveu, garantindo que haverá “consequências” caso exista algum tipo de auxílio.

Em conferência de imprensa, o porta-voz indicou que a posição da China à invasão da Ucrânia é “ambígua” e apontou que Moscovo e Pequim mantêm uma boa relação. “Eles têm uma visão do mundo em comum”, sublinhou, acrescentando que são “duas autocracias que querem um mundo mais fechado e menos livre”. “Podem juntar forças para determinar isso.”

O porta-voz disse ainda que os planos de Vladimir Putin estão “a falhar”, devido à resistência do povo ucraniano que “luta corajosamente contra o invasor”.