Depois de vários meses de negociação, com oposição frontal de alguns países, a União Europeia avançou mesmo com o sexto pacote de sanções à Rússia, onde prevê cortar em 90% a dependência de petróleo do Kremlin.

Na terça-feira, o Conselho Europeu conseguiu luz verde para o embargo progressivo ao petróleo russo, uma medida que faz parte do sexto pacote de sanções à Rússia e que atinge dois terços das importações europeias. O acordo entre os Estados-membros foi alcançado na noite de segunda-feira e foi o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel quem anunciou que havia fumo branco: “Acordo para proibir exportação de petróleo russo para a UE. Isto cobre imediatamente mais de 2/3 das importações de petróleo da Rússia, cortando uma enorme fonte de financiamento para a sua máquina de guerra. Máxima pressão na Rússia para acabar a guerra”, escreveu no Twitter.

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O acordo alcançado no Conselho Europeu concentra-se nas importações de petróleo bruto feito por navios, deixando para mais tarde possíveis restrições à circulação de hidrocarbonetos via oleodutos. O objetivo? Alivia a Hungria, mas também países com a mesma situação geográfica e energética, como a República Checa, a Eslováquia e a Áustria. Ou seja, estados sem litoral e com uma grande dependência de combustíveis fósseis russos que chegam precisamente através de oleodutos e gasodutos.

Há países fora do embargo?

Na prática, sim. Aquilo que a União Europeia embargou na totalidade foi a importação de petróleo por via marítima. Todo o petróleo que é transportado pelo oleoduto de Druzhba, o mais longo do mundo que atravessa vários países incluindo a Ucrânia, fica isento do embargo, o que irá permitir à Hungria — que se opunha fortemente ao embargo — continuar a ser abastecida pelo petróleo russo.

A União Europeia acredita que, até ao final do ano, a grande fatia das importações de petróleo russo terminará já que a Alemanha e a Polónia (que também dependem do oleoduto de Druzhba) deram garantias de poder abdicar desse fornecimento.

Haverá ou não um embargo total?

Até ao momento não há garantias que tal possa acontecer. Von der Leyen, presidente da Comissão Europeia, deixou no ar a indicação que a União Europeia irá discutir “o mais rapidamente possível” como acabar com as importações de petróleo russo que ainda se mantém depois de aplicados os seis pacotes de sanções.

No que diz respeito à Hungria, o país está dependente de eventuais financiamentos europeus para poder fazer a transição e equipar as refinarias que atualmente funcionam apenas com petróleo russo. Do outro lado, a Croácia terá de aumentar a capacidade de fornecimento à Hungria, através do gasoduto Adria.

Nos países da Europa central não houve nenhum tipo de compromisso ou ideia da UE sobre quando poderá ser suspensa a importação de petróleo russo.

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Que impacto tem o embargo na Rússia?

Neste momento, a União Europeia paga cerca de um mil milhões de euros por dia à Rússia por petróleo e gás, o que tem permitido indiretamente a Putin continuar a financiar a guerra contra a Ucrânia. Ainda assim, este corte radical que a longo prazo irá prejudicar os cofres do Kremlin, é apontado também por alguns especialistas como uma hipotética vantagem para Putin que tem beneficiado do aumento dos preços já que nos últimos meses a Rússia conseguiu encontrar outros países para exportar os produtos.

Há impacto para os consumidores e para as empresas europeias?

Ao que tudo indica, este embargo poderá resultar em novos aumentos dos preços dos combustíveis. O anúncio do embargo ao petróleo russo teve como consequência imediata aumento do preço do barril de Brent. Esta terça-feira, o preço do barril de petróleo Brent tocou os 124 dólares, o valor mais alto desde março, ainda que no entretanto tenha já descido.

Com subidas superiores a 55% no preço desde o início do ano, os preços do petróleo estão nos níveis mais altos desde 2008.

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