Dmitri Mouratov, chefe de redação do jornal de investigação independente Novaïa Gazeta vai leiloar esta segunda-feira a medalha de laureado do prémio Nobel da paz, em benefício das crianças deslocadas pelo conflito na Ucrânia.
O jornalista conquistou o prémio em 2021, juntamente com a jornalista filipina Maria Ressa — pelos esforços para preservar a liberdade de expressão.
O jornal Novaïa Gazeta anunciou no final de março que suspendia a publicação online e em formato de papel na Rússia, até ao fim da intervenção na Ucrânia, em pleno endurecimento do Kremlin contra as vozes dissonantes.
A leiloeira Heritage Auctions foi encarregada da venda da medalha do prémio Nobel que se conclui em Manhattan esta segunda-feira à noite. A oferta final foi de 103,5 milhões de dólares (98,3 milhões de euros). Os lucros irão para o programa humanitário da Unicef para as crianças ucranianas deslocadas pela guerra.
Dmitri Mouratov faz parte do grupo de jornalistas que fundaram o Novaïa Gazeta em 1993, após a queda da União Soviética. Antes de suspender a atividade, o jornal foi o último a exprimir críticas contra o Presidente russo, Vladimir Putin.
O Novaïa Gazeta é especialmente conhecido pelas investigações contra a corrupção e os atentados aos direitos humanos na Chechénia. Este envolvimento custou a vida a seis dos seus colaboradores desde os anos 90, entre os quais a célebre jornalista Anna Politkovskaïa, assassinada em 2006. Dmitri Mouratov dedicou o prémio Nobel à sua memória.
“Este jornal é perigoso para a vida das pessoas“, confidenciou, em 2021, à AFP.
Durante um vídeo publicado pela Heritage Auctions, o jornalista afirmou que ganhar o prémio Nobel dá “uma oportunidade de ser compreendido”.
A mensagem mais importante agora é que as pessoas entendam que há um conflito e que devemos ajudar aqueles que sofrem mais”, acrescentou.
No início de abril, Dmitri Mouratov foi atacado num comboio na Rússia por um desconhecido que o aspergiu com uma mistura vermelha de tinta a óleo e acetona, provocando-lhe ferimentos nos olhos.