Olá

850kWh poupados com a
i

A opção Dark Mode permite-lhe poupar até 30% de bateria.

Reduza a sua pegada ecológica.
Saiba mais

Archie Battersbee, o "lutador nato" que queria pertencer à equipa olímpica

Este artigo tem mais de 2 anos

Trepava barreiras de segurança das escadas quando era pequeno. Mais recentemente, treinava ginástica até aperfeiçoar a técnica. "Um bebé adorável desde o primeiro dia". O coração parou este sábado.

Nas palavras da mãe, Hollie Dance, Archie Battersbee era um “lutador nato”. Antes do incidente em abril, do qual nunca recuperou a consciência, era muito ativo e dividia o tempo livre por várias atividades: praticava artes marciais, boxe e ginástica. “Ele quer juntar-se à equipa olímpica um dia“, chegou a dizer a mãe, que várias vezes falava no presente do indicativo, recusando que o filho já estivesse morto. Foi também ela que, visivelmente emocionada, anunciou a morte do filho este sábado, pelas 12h15.

Archie é fruto do casamento de dez anos de Hollie Dance com o segundo marido, Paul Battersbee. O casal separou-se quando a criança tinha seis anos, mas tem estado lado a lado pela defesa do que acredita ser os interesses do filho.

Ele era um bebé adorável desde o primeiro dia”, lembra a mãe, numa entrevista ao Daily Mail. Dava-se muito bem com os irmãos, Tom, de 22 anos, e Lauren, de 20, filhos do primeiro casamento de Hollie.  O apoio veio, nestes meses, de diversas frentes e a família apelidou a comunidade que entretanto passou a acompanhar o caso diariamente como “Archie’s Army” — “O Exército de Archie“.

Máquinas de Archie foram desligadas. Coração da criança deixou definitivamente de bater às 12h15

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

A aptidão de Archie para as atividades físicas tornou-se evidente desde cedo, conta a mãe. “Tenho vídeos dele a trepar uma barreira de segurança de escadas, quando tinha 11 meses, e depois a tentar subir a vedação da porta do lado quando tinha tenra idade”, recorda.

Nos últimos tempos, Archie estava muito empenhado na ginástica, a melhorar a técnica e a condição física para chegar um dia à equipa olímpica. Hollie conta como o filho treinou repetidamente um mortal de costas até ter a certeza de que a técnica estava perfeita.

Archie treinava no mesmo ginásio que o ginasta e campeão olímpico Max Whitlock. O sonho, segundo a mãe, era chegar à equipa olímpica e o Daily Mail chega a caraterizá-lo como um “ginasta talentoso”.

Nos últimos dois anos, cresceu em Archie a ligação ao cristianismo. As artes marciais foram as responsáveis. A BBC conta que Archie via os outros lutadores rezar antes dos confrontos e queria fazer o mesmo. O The Guardian acrescenta que queria ser batizado. Tinha um coelho — chamado Simeon — e no fatídico dia de 7 de abril era para ter ido ver o mais recente filme do Batman, se o incidente não tivesse acontecido.

Archie está morto, em termos biológicos e legais. Como seria tratado um caso destes (por pais, médicos e justiça) em Portugal?

O anúncio da morte de Archie foi dado pela própria mãe, à porta do hospital, perante as televisões. Vestida de preto, ao lado da namorada do filho mais velho, Ella Carter, e mais duas pessoas, revelou que a morte aconteceu pelas 12h15 e sublinhou como o filho “lutou até ao fim”. “Tenho muito orgulho em ser mãe dele“, disse

Foi Ella Carter quem continuou, em lágrimas: “Os médicos pararam a medicação da criança às 10h00, sendo que Archie ainda ficou estável durante duas horas até lhe retirarem a máquina de ventilação. Foi então que “ficou completamente azul”. “Não há absolutamente nada dignificante em ver um familiar ou uma criança sufocar”, afirmou. E concluiu: “Esperamos que nenhuma família tenha de passar por aquilo que passámos. É bárbaro.” Ella e Hollie abraçaram-se depois.

O desafio que correu mal

Hollie Dance recordou à imprensa britânica os momentos antes do incidente, que ocorreu na casa da família, em Southend, Essex (Reino Unido). “Ele chegou ao meu quarto e ofereceu-me um saco de gomas, mas sei que o Archie adora piadas, por isso, disse-lhe que sabia que era o coelho de estimação dele, Simeon, que estava no saco”. E tinha razão: nesse preciso momento, o animal coloca a cabeça de fora, como se soubesse que era o tema da conversa. “Rimo-nos muito”, conta Hollie.

Archie Battersbee está inconsciente desde 7 de abril

Poucos minutos depois, Hollie, de 46 anos, notou que Archie estava muito silencioso, no quarto. Não estranhou logo — “Tem 12 anos, não precisa que esteja em cima dele o tempo todo em casa”. Mas quando chegou ao quarto, Archie estava inconsciente, com uma “ligadura” à volta do pescoço, segundo documentos do tribunal citados pelo Washington Post. Nalgumas entrevistas, porém, a mãe fala mesmo no cinto de um robe. A família acredita que o incidente resultou de um desafio da rede social Tik Tok, que se chama “Blackout Challenge” e que terá corrido mal.

“A Lauren [a irmã] disse-me que encontrou o Archie a mexer no mesmo cinto na noite anterior”, contou ao Daily Mail. “Tinha-o amarrado à volta da cabeça, não do pescoço, e enrolou-o à volta da maçaneta da porta para a fechar.” A mãe recusa que se tenha tratado de suicídio: “Ele estava feliz, estava a trabalhar para os seus objetivos na ginástica e a fazer planos. No início dessa tarde [de 7 de abril], pediu-me para lhe encomendar um casaco novo que chegaria na semana seguinte”.

Depois de desamarrar o cinto, em desespero, Hollie correu para a rua aos gritos, a pedir ajuda. Um vizinho ainda fez manobras de reanimação, mas sem sucesso.

Como se mantém vivo um bebé na barriga de uma mulher em morte cerebral?

Archie Battersbee, de 12 anos, sofreu lesões cerebrais irreversíveis por ter ficado privado de oxigénio. Desde então, a história de Archie e da família tem sido marcada por uma dura batalha legal com a justiça.

O rapaz foi primeiro transportado para o Southend Hospital e depois transferido para o Royal London Hospital, no leste da capital britânica. A mãe foi publicando vídeos, relatos e críticas nas redes sociais sobre o tratamento que o filho recebia no hospital.

Os médicos comunicaram à família que o rapaz estaria em morte cerebral, mas a família recusou que os testes fossem feitos argumentando que o procedimento poderia lesar ainda mais o filho. Um tribunal acabaria por decidir que os testes tinham de ser concluídos, o que veio a acontecer a 31 de maio.

Archie Battersbee court case

Pais travaram uma batalha legal com a Justiça britânica para evitar que as máquinas fossem desligadas

PA Images via Getty Images

O caso chegou ao Supremo e, no final de uma audiência a 13 de junho, o juiz decidiu que Archie morreu no dia em que fez a ressonância magnética, desse dia 31 de maio. Ou seja, as máquinas que mantinham os pulmões a envher e despejar deveriam ser desligadas.

Os pais recorreram para que a decisão fosse revertida e conseguiram que o Supremo Tribunal realizasse nova audiência para determinar qual seria o melhor interesse de Archie. A decisão chegou a 15 de julho: o juiz decidiu que as máquinas que o mantinham artificialmente com funções vitais deveriam ser desligadas por serem “fúteis” dado o estado de saúde da criança – o menino já estava morto.

Os pais acreditam que ainda havia possibilidade de Archie recuperar. “É Deus quem decide o que deve acontecer ao Archie, incluindo se, e quando, ele deve morrer”, atirou a mãe. “Enquanto o Archie estiver a lutar pela vida, não posso traí-lo.”

Archie, o menino em morte cerebral a quem os pais não querem ver desligar o coração

Os pais ainda apresentaram um novo recurso, mas o tribunal rejeitou o pedido por acompanhar a decisão do Supremo. A família recorreu ao Comité dos Direitos de Pessoas com Deficiência das Nações Unidas, que pediu ao governo britânico que tentasse adiar o desligar das máquinas. O governo interveio, pela mão do secretário de Estado da Saúde, Steven Barclay, que pediu aos tribunais uma audiência urgente sobre o caso. Os três juízes do tribunal superior mantiveram a decisão de que as máquinas deveriam ser desligadas.

O mais recente pedido dos pais era que Archie fosse transferido para uma unidade de cuidados paliativos, para passar os últimos dias em família e morrer “com dignidade” — a mãe chegou a queixar-se que, no hospital em que estava, a família não conseguia ter um momento a sós com a criança e havia muito ruído. “Nós nem sequer temos a oportunidade de estarmos num quarto juntos como uma família, sem enfermeiras”, disse, numa entrevista à Times Radio.

Archie com a mãe, Hollie Dance

O pedido de transferência para os paliativos foi rejeitado pelo Supremo. Os pais ainda tentaram recorrer para o Tribunal de Recurso, que não aceitou o pedido.

Os médicos que acompanharam Archie disseram ao Supremo Tribunal que era “muito provável” que o rapaz já estivesse em morte cerebral: segundo os especialistas, os testes não mostram nenhuma atividade cerebral “discernível” e partes do cérebro mostravam “áreas significativas de necrose de tecidos”. Além disso, “todas as função corporais de Archie são agora mantidas por meios artificiais”, segundo uma decisão anterior.

O coração de Archie acabaria por parar definitivamente este sábado pelas 12h15, não sem levantar um complexo debate, incluindo em Portugal, sobre quais os direitos dos pais nas situações em que os filhos estão em morte cerebral.

 
Assine o Observador a partir de 0,18€/ dia

Não é só para chegar ao fim deste artigo:

  • Leitura sem limites, em qualquer dispositivo
  • Menos publicidade
  • Desconto na Academia Observador
  • Desconto na revista best-of
  • Newsletter exclusiva
  • Conversas com jornalistas exclusivas
  • Oferta de artigos
  • Participação nos comentários

Apoie agora o jornalismo independente

Ver planos

Oferta limitada

Apoio a cliente

Este artigo é exclusivo a assinantes
Tenha acesso ilimitado ao Observador a partir de 0,18€ /dias

Não é só para chegar ao fim deste artigo:

  • Leitura sem limites, em qualquer dispositivo
  • Menos publicidade
  • Desconto na Academia Observador
  • Desconto na revista best-of
  • Newsletter exclusiva
  • Conversas com jornalistas exclusivas
  • Oferta de artigos
  • Participação nos comentários

Ver planos

Apoio a cliente

Ofereça este artigo a um amigo

Enquanto assinante, tem para partilhar este mês.

A enviar artigo...

Artigo oferecido com sucesso

Ainda tem para partilhar este mês.

O seu amigo vai receber, nos próximos minutos, um e-mail com uma ligação para ler este artigo gratuitamente.

Ofereça artigos por mês ao ser assinante do Observador

Partilhe os seus artigos preferidos com os seus amigos.
Quem recebe só precisa de iniciar a sessão na conta Observador e poderá ler o artigo, mesmo que não seja assinante.

Este artigo foi-lhe oferecido pelo nosso assinante . Assine o Observador hoje, e tenha acesso ilimitado a todo o nosso conteúdo. Veja aqui as suas opções.

Atingiu o limite de artigos que pode oferecer

Já ofereceu artigos este mês.
A partir de 1 de poderá oferecer mais artigos aos seus amigos.

Aconteceu um erro

Por favor tente mais tarde.

Atenção

Para ler este artigo grátis, registe-se gratuitamente no Observador com o mesmo email com o qual recebeu esta oferta.

Caso já tenha uma conta, faça login aqui.

Apoie o jornalismo. Leia sem limites. Apoie o jornalismo. Leia sem limites.
Desde 0,18€/dia
Apoie o jornalismo. Leia sem limites.
Apoie o jornalismo. Leia sem limites. Desde 0,18€/dia
Em tempos de incerteza e mudanças rápidas, é essencial estar bem informado. Não deixe que as notícias passem ao seu lado – assine agora e tenha acesso ilimitado às histórias que moldam o nosso País.
Ver ofertas