O Governo timorense criou esta terça-feira e mandatou uma força conjunta, a ser formada pelas forças armadas e polícia nacionais, para “reprimir a situação criminosa de indivíduos que está a causar instabilidade social”, desde a passada sexta-feira em Díli.

Na sequência dos graves incidentes ocorridos nos últimos dias entre indivíduos integrados em grupos de artes marciais, com especial incidência nos confrontos ocorridos no final de ontem, dia 5 de setembro, em plena cidade de Díli”, o Governo mandatou os chefes de estado-maior da polícia e das forças armadas a constituírem uma “força tarefa” conjunta para enfrentar o problema, em todo o território nacional, de acordo com um despacho esta terça-feira publicado no diário oficial timorense.

O despacho, assinado pelo ministro da Defesa interino, Fidelis Magalhães, e pelo vice-ministro do Interior, António Armindo, ressalva que a “situação de grave alteração da ordem pública” “não justifica” a declaração de um “estado de exceção constitucional”, mas “impõe ao Governo a adoção de medidas excecionais de atuação conjunta” entre as forças armadas e as forças policiais para “prevenir e dissuadir qualquer tentativa de atuação criminosa”.

Pelo menos quatro pessoas ficaram feridas, incluindo um efetivo das forças armadas, e pelo menos quatro pessoas foram detidas na sequência de confrontos entre grupos rivais e forças de segurança em Díli, anunciaram esta terça-feira fontes policiais timorenses.

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Os confrontos, que envolveram elementos de, pelo menos, dois grupos rivais de artes marciais, o PSHT e o 77, marcaram a tensão que se vive na capital timorense desde a morte, na sexta-feira, de um jovem de 21 anos que se encontrava detido numa cela da Polícia Nacional de Timor-Leste (PNTL) em Díli.

Esse jovem, do grupo PSHT, foi detido na madrugada de quinta-feira depois de agredir violentamente um outro jovem, do grupo 77, que não resistiu aos ferimentos e morreu na segunda-feira à noite, no Hospital Nacional Guido Valadares.

Apesar das investigações iniciais apontarem o suicídio como causa da morte do jovem na cadeia, famílias e elementos do PSHT levantaram suspeitas sobre um possível envolvimento de efetivos policiais na morte, com rumores a espalharem-se nas redes sociais.

Preventivamente, e apesar de ainda estar a decorrer a investigação pela Polícia Nacional de Timor-Leste (PNTL) e pela Polícia Científica de Investigação Criminal (PCIC), o comando geral da polícia timorense suspendeu os oito agentes que estavam de piquete no dia da morte, na sexta-feira passada.

Ainda assim, fontes da investigação explicaram à Lusa que os dados preliminares, incluindo a autópsia ao jovem de 21 anos, não apontam ter havido qualquer agressão, confirmando a morte por “asfixia mecânica por meio de enforcamento”.

Perícias e diligências adicionais continuam a ser conduzidas para apurar exatamente as circunstâncias da morte, confirmaram fontes policiais.

O velório do jovem, na sexta-feira, foi marcado por confrontos no centro de Díli, tendo a polícia sido forçada a usar gás lacrimogéneo para dispersar uma multidão.

A tensão manteve-se durante o fim de semana, e, na segunda-feira, depois do funeral, apoiantes dos dois grupos rivais voltaram a confrontar-se, com vídeos amadores a registarem, entre outros momentos, as agressões com murros, pontapés e pedras a um efetivo das Forças de Defesa (F-FDTL), que tentava acalmar a situação.

A força tarefa esta terça-feira criada foi incumbida de levar a cabo “operações de patrulhamento em todo o território nacional” e de exercer “especial vigilância e controlo de todos os locais considerados sensíveis na cidade de Díli, de modo a prevenir e a reprimir a situação criminosa de indivíduos que está a causar instabilidade social”, ainda segundo o texto publicado esta terça-feira no Jornal da República.

O despacho entrou em vigor com a data de hoje e termina às 23h59 do dia 13 de setembro de 2022, “podendo ser renovado caso subsistam comportamentos desviantes relacionados com este assunto”, estabelece o mesmo.