O mais recente Presidente do Brasil, e candidato à reeleição nas presidenciais do país que se decidem no final de este mês (dia 30 de outubro), lembrou em entrevista um encontro fortuito em Brasília com raparigas venezuelanas “de 14, 15 anos” em que, nas suas palavras, “pintou um clima”.

As declarações, polémicas, foram proferidas durante uma entrevista de Bolsonaro a um podcast brasileiro, na última sexta-feira — e estão a ser muito comentadas no Brasil, nomeadamente na imprensa brasileira, tendo já originado uma reação do próprio Jair Bolsonaro, que se defendeu de críticas e acusou o PT de Lula de deturpar as suas palavras.

No momento em que utilizou a expressão em causa, o candidato à Presidência do Brasil contava “uma história” cujo intuito parecia ser lamentar o facto de raparigas daquela idade terem de “ganhar a vida”, parecendo sugerir implicitamente que se prostituíam. “Você quer isso para a tua filha, que está a ouvir-nos agora? E como chegou a esse ponto? Escolhas erradas!”, afirmou Bolsonaro, que tem insistido na colagem de uma possível eleição de Lula com um desfecho social e económico para o Brasil próximo do que teve a Venezuela de Chávez e Maduro.

Porém, a utilização da expressão “pintou um clima”, referindo-se ao encontro com as jovens, levantou dúvidas e “viralizou nas redes sociais, causou muita indignação e gerou comentários de repúdio de personalidades do meio político, cultural e de diversos setores da sociedade” brasileira, de acordo com o jornal A Folha de São Paulo.

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O encadeamento das palavras foi o seguinte: referindo-se a venezuelanos que emigram para o Brasil, Bolsonaro disse que “chegam fugindo da fome, da miséria, da violência e à procura de paz, tranquilidade”. Depois, sobre as mulheres venezuelanas, lamentou que fossem “violentadas”. Começou então por dizer “quando chegam…”, antes de decidir “contar uma coisa”.

Prosseguiu então o candidato brasileiro, relatando a tal história: “Eu estava em Brasília, na comunidade de São Sebastião, sábado, [andando] de moto (…) Parei a moto numa esquina, tirei o capacete e tem umas menininhas — três, quatro, e bonitas, de 14, 15 anos, arrumadinhas [bem vestidas] num sábado numa comunidade. E vi que eram meio parecidas”.

Pintou um clima, voltei. ‘Posso entrar na tua casa?’ Entrei. Tinha umas 15, 20 meninas, sábado de manhã, se arrumando [aperaltando-se], todas venezuelanas. E eu pergunto: meninas bonitinhas de 14, 15 anos, se arrumando num sábado? Para quê? ‘Ganhar a vida’. Você quer isso para a tua filha, que está a ouvir-nos agora? E como chegou a esse ponto? Escolhas erradas!”

“Sempre combati a pedofilia. O PT ultrapassou os limites”, diz Bolsonaro

Com as palavras a tornarem-se virais nas redes sociais e a originarem uma onda de críticas, Jair Bolsonaro entrou em direto nas redes sociais, já ao início da madrugada de este domingo (hora brasileira), acusando o partido de Lula da Silva, o PT, de procurar deturpar as suas palavras: “O PT ultrapassou todos os limites. Vinham falando há pouco barbaridades… mexem com a minha vida particular, fazem barbaridade. Agora fizeram uma que extrapolou todos os limites”, afirmou o candidato, citado pela Folha.

O PT está tentando desqualificar-me. Distorceu, como seu fosse uma pessoa que entrasse naquela casa com outros interesses”, referiu ainda.

Prosseguindo na sua defesa, Bolsonaro quis vincar que a única mensagem que tentou passar foi de indignação por “meninas humildes, bem arrumadas [bem vestidas], num sábado de manhã, venezuelanas que fugiram da fome do seu país” terem de “ganhar a vida”. E garantiu que além de ter sido sempre “contra o regime venezuelano”, também “sempre” combateu “a pedofilia”.