E eis que o momento, enfim, chegou. Ou, pelo menos, está prestes a chegar. A Seleção Nacional parte para o Mundial do Qatar já esta sexta-feira, vai assistir no sofá ao primeiro jogo da competição no próximo domingo e estreia-se dias depois, contra o Gana. Esta quinta-feira, porém, ainda havia tempo para a despedida dos adeptos, a despedida dos portugueses e a despedida de Portugal.

Contra a Nigéria de José Peseiro, em Alvalade, a equipa de Fernando Santos realizava o último jogo de preparação para o Campeonato do Mundo. Contra um adversário escolhido por ser uma seleção africana, tal como o Gana, e também pela facilidade garantida pela presença de um treinador português, Portugal entrava em campo dois meses depois da derrota contra Espanha na Liga das Nações e na sequência de uma semana particularmente complexa.

Ficha de jogo

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Portugal-Nigéria, 4-0

Jogo particular de preparação para o Mundial do Qatar

Estádio José Alvalade, em Lisboa

Árbitro: Chrysovalantis Theouli (Chipre)

Portugal: Rui Patrício, Diogo Dalot, Rúben Dias (Pepe, 45′), António Silva, Nuno Mendes (Raphael Guerreiro, 45′), Otávio (Ricardo Horta, 76′), Bruno Fernandes (Vitinha, 45′), William Carvalho, Bernardo Silva (João Mário, 45′), André Silva (Gonçalo Ramos, 67′), João Félix

Suplentes não utilizados: José Sá, João Palhinha, Danilo, Rafael Leão, Rúben Neves, João Cancelo, Diogo Costa, Matheus Nunes

Treinador: Fernando Santos

Nigéria: Uzoho, Osayi-Samuel, Akpoguma, Ekong, Bassey, Aribo (Etebo, 69′), Ndidi (Chukwueze, 45′), Iwobi, Lookman (Onyeka, 45′), Moffi (Onuachu, 58′), Simon (Dennis, 76′)

Suplentes não utilizados: Okoye, Adeleye, Duru, Dessers, Chidozie, Ebuehi, Onyemaechi

Treinador: José Peseiro

Golos: Bruno Fernandes (9′ e 35′), Gonçalo Ramos (82′), João Mário (84′)

Ação disciplinar: cartão amarelo a Etebo (81′)

A entrevista de Cristiano Ronaldo a Piers Morgan, que começou a explodir na noite de domingo e continuou a ecoar nos dias que se seguiram, colocou uma nuvem de incerteza por cima da concentração portuguesa na Cidade do Futebol. Fernando Santos afastou as dúvidas na conferência de imprensa, o avançado português ainda treinou mas falhou a preparação desta quarta-feira devido a uma gastrite, ficando também de fora da receção à Nigéria. Ou seja, para ver Ronaldo em campo depois de tudo o que disse a Piers Morgan, será mesmo preciso esperar pelo Qatar.

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Neste contexto, e mesmo depois de o selecionador nacional ter garantido que seria necessário gerir os esforços de uma equipa que é a mais sobrecarregada de todas as que vão estar no Mundial, Fernando Santos não fazia grandes revoluções no onze inicial. Rui Patrício voltava à baliza em detrimento de Diogo Costa, Otávio, Bruno Fernandes, William apareciam no meio-campo e Bernardo e João Félix apoiavam André Silva no ataque. Pelo meio, António Silva era titular ao lado de Rúben Dias e cumpria a primeira internacionalização por Portugal. Do outro lado, José Peseiro lançava Iwobi e Ndidi no onze e deixava Chukwueke no onze — assim como o ex-FC Porto Chidozie e o ex-Benfica Ebuehi.

Os minutos iniciais permitiram desde logo perceber que a Seleção Nacional atuava num 4x3x3 muito móvel, com Bernardo e João Félix no apoio a André Silva mas com via verde total para ocuparem as mais variadas posições no relvado. O jogador do Manchester City, particularmente, recuava inúmeras vezes até aos espaços entre os centrais, pegando no jogo desde aí para depois construir e desdobrar a movimentação ofensiva da equipa. Félix, por outro lado, caía muito na zona do meio-campo e permitia as subidas de Bruno Fernandes ou Otávio, arrastando adversários e eliminando as referências posicionais a que a Nigéria obedecia.

Bruno Fernandes teve o primeiro lance mais perigoso do jogo, ao atirar ao lado depois de um bom trabalho de Bernardo na esquerda (8′), e acabou por abrir o marcador logo depois. Félix tirou um passe longo brilhante que encontrou Dalot na grande área, o lateral temporizou e esperou pela subida de Bruno Fernandes, que só precisou de desviar de primeira depois do passe do colega de equipa no Manchester United (9′).

A Seleção Nacional beneficiou de um ascendente claro depois de chegar ao golo, instalando-se no meio-campo adversário de forma mais constante e consistente e congelando as investidas que a Nigéria teve até aí, essencialmente pela ala esquerda. Nuno Mendes quase marcou com um cruzamento largo muito puxado à baliza (14′), João Félix atirou pouco por cima de muito longe (21′) e William rematou contra um adversário já na grande área (28′). Pelo meio, António Silva ainda teve uma ação muito importante ao travar uma movimentação de Aribo (26′) e Simon assinou o primeiro pontapé nigeriano ao atirar rasteiro e à figura de Rui Patrício (31′).

Ainda antes do intervalo, de grande penalidade, Portugal conseguiu mesmo aumentar a vantagem. O árbitro da partida considerou que Osayi-Samuel tocou com a mão na bola na grande área da Nigéria e Bruno Fernandes, na conversão do penálti, não falhou e bisou na partida (35′). O médio do Manchester United ainda ficou muito perto do hat-trick no último lance da primeira parte, ao atirar à malha lateral quando estava sozinho na sequência de mais um passe delicioso de Félix (45′), e a Seleção recolheu aos balneários sem impressionar mas a vencer tranquilamente a equipa nigeriana.

Fernando Santos começou a tal gestão logo ao intervalo, trocando Rúben Dias, Nuno Mendes, Bruno Fernandes e Bernardo por Pepe, Raphael Guerreiro, Vitinha e João Mário, sendo que José Peseiro também lançou Chukwueze e Onyeka. A segunda parte desenrolou-se sem ritmo e sem momentos de interesse durante grande parte do tempo, com Portugal a manter uma superioridade clara mas que não tinha consequências no último terço.

O selecionador nacional lançou Gonçalo Ramos e Ricardo Horta já nos 25 minutos finais, período em que o jogo acelerou ligeiramente e até teve algumas aproximações mais perigosas às duas balizas. Rui Patrício evitou o golo de Chukwueze com uma enorme defesa (71′) e João Félix ficou perto de aumentar a vantagem em duas ocasiões, com um pontapé que desviou num adversário (73′) e outro que passou ao lado (75′) — mas tudo parecia ter ficado guardado para o último quarto de hora da partida.

Dalot fez falta sobre Osayi-Samuel na grande área portuguesa e o árbitro da partida assinalou grande penalidade. Na conversão, porém, Rui Patrício defendeu o remate de Dennis (81′). Até ao fim, num ataque que sentiu claramente a influência positiva da entrada de Ramos, Portugal ainda chegou à goleada: o próprio avançado do Benfica estreou-se a marcar no dia da primeira internacionalização, finalizando sem oposição após passe de Raphael Guerreiro (82′), e ainda teve tempo para assistir João Mário de calcanhar (84′), num golo que culminou uma jogada brilhante da Seleção Nacional.

Assim, Portugal goleou a Nigéria no último jogo de preparação para o Mundial e parte para o Qatar com a bagagem recheada de golos. Num encontro em que Bruno Fernandes brilhou na primeira parte, João Félix e Otávio estiveram a alto nível, Rui Patrício defendeu uma grande penalidade e António Silva cumpriu 90 minutos na primeira internacionalização, Gonçalo Ramos acabou por evidenciar-se. O avançado do Benfica, um dos nomes que menos certezas reunia na antecâmara da convocatória, estreou-se ao serviço da Seleção, fez um golo e uma assistência e deixou claro que Fernando Santos terá muito em que pensar na hora de escolher o onze inicial no Campeonato do Mundo.