Coexistir no mesmo espaço não é significado de se ter condições de chegar a um objetivo pelos mesmos meios. Quando se joga num campo inclinado, quem sobe é penalizado com a força contrária à direção para onde se pretende ir e quem desce usufrui de um embalo facilitador. O FC Porto tem feito por estar do lado mais conveniente, aproveitando a descida para para agarrar a vitória mais rápido que os adversários. Pelo terceiro jogo consecutivo, os dragões marcaram antes do minuto três, facto que condicionou positivamente o desenrolar dos últimos encontros dos azuis brancos.

Foi um início avassalador que tornou o desfecho da partida da jornada 14 da Primeira Liga tão previsível que fez parecer inúteis os minutos que se interpuseram entre o primeiro e o último apito do árbitro. Não estavam decorridos 30 segundos e Otávio dava o mote para o 5-1 com que o FC Porto bateu o Arouca do regresso dos dois conjuntos ao campeonato após o Mundial do Qatar e que fez Sérgio Conceição igualar o recorde de Pedroto como treinador portista com mais vitórias no clube (215).

A agenda tem sido e vai continuar a ser preenchida para FC Porto e Arouca. Com tantas competições a preencherem o calendário dos clubes, torna-se natural definir prioridades. Habitualmente, as equipas fazem um esforço mais hercúleo no campeonato nacional do que nas restantes provas. O racionamento das forças disponíveis não é uma questão de somenos, uma vez que ambas as equipas em confronto ainda se encontram em todas as competições nacionais e, no caso do FC Porto, também na Liga dos Campeões.

O treinador dos arouquenses, Armando Evangelista, queria até aproveitar o momento vivido pela equipa para fazer do favoritismo dos dragões um mero erro de perceção. “Temos sido competitivos em todas as frentes e queremos continuar a ser, mas sem dúvida que o campeonato é onde está o nosso foco”, disse o técnico não esquecendo que a viagem ao Estádio do Dragão tinha como “intenção criar dificuldades ao FC Porto” mesmo que os visitantes só tivessem 18 jogadores disponíveis não preenchendo o lote de 20 que podem estar na ficha de jogo. O próprio técnico dos azuis e brancos, Sérgio Conceição, admitiu que o Arouca tinha capacidade para o fazer. “É uma equipa que tem bons jogadores e que, em todos os momentos do jogo, sabe o que fazer”, disse o treinador portista.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Ficha de Jogo

↓ Mostrar ↑ Esconder

FC Porto-Arouca, 5-1

Primeira Liga – Jornada 14 

Estádio do Dragão, Porto

Árbitro: Tiago Martins (AF Lisboa)

FC Porto: Diogo Costa, João Mário (Danny Loader 84′), Fábio Cardoso, Iván Marcano, Wendell, Matheus Uribe (Eustáquio 68′), Marko Grujic, Wenderson Galeno (Toni Martínez 69′), Otávio, Gabriel Veron (Pepê 68′) e Taremi (Rodrigo Conceição 83′)

Suplentes não utilizados: Cláudio Ramos, David Carmo, André Franco, Gonçalo Borges.

Treinador: Sérgio Conceição

Arouca: Ignacio de Arruabarrena, Bogdan Milovanov, João Basso, Opoku (Uri 75′), Mateus Quaresma, Ismaila Soro (Antony 62′), David Simão (Moses 75′), Alan Ruiz (Galovic 76′), André Bukia, Morlaye Sylla e Oday Dabbagh (Bruno Marques 62′)

Suplentes não utilizados: João Valido e Rafael Fernandes.

Treinador: Armando Evangelista

Golos:Otávio (1′), Taremi (18′, 34′, 50′), Opoku (própria baliza, 70′) e Bruno Marques (75′)

Ação disciplinar: cartões amarelos Alan Ruiz (36′), Sylla (49′), Marcano (59′) e Basso (85′)

Apesar do início de época tremido, o FC Porto entrou na senda dos bons resultados e já olha para o primeiro lugar. Embora os oito pontos que separavam os dragões do Benfica à entrada para a jornada 14 fossem uma realidade, a verdade é que os encarnados vão ter uma deslocação difícil a Braga e um mau resultado pode beneficiar os azuis e brancos. No entanto, os jogadores de Sérgio Conceição tinham que fazer a parte que lhes competia e não perderam tempo em cumprir a missão.

O primeiro golo azul e branco surgiu quando o eco do som com que o juiz do encontro, Tiago Martins, ainda não se tinha dissipado até atingir uma dimensão inaudível. Otávio (1′) aproveitou uma defesa incompleta do guarda-redes do Arouca, Arruabarrena, a remate de Veron, e fez o primeiro.

Não tardou a que a vantagem fosse alargada. O sujeito do costume, Taremi (18′), foi assistido por Veron e, em jeito, fez o segundo.

Era o início do espetáculo do avançado iraniano que teve novo ato aos 34 minutos. Taremi foi lançado no espaço disponível nas costas da defesa, aguentou a carga de Basso e atirou para o bis.

Sem poder contar com Evanilson devido a lesão, Sérgio Conceição não apostou no substituto mais óbvio que seria Toni Martínez e optou por Gabriel Veron para jogar no 4-4-2 portista. A escolha obrigou a que fosse Taremi a jogar como segundo avançado, promovendo com frequência movimentações de trás para a frente que, com Veron a servir de âncora de distribuição, se revelaram destabilizadoras para a defesa do Arouca. Mesmo com o médio defensivo arouquense, Soro, destacado no 4-3-3 de Armando Evangelista para tentar anular o jogo entre linhas do adversário, o FC Porto conseguiu com facilidade utilizar o corredor central.

Tal como já tinha acontecido no segundo golo azul e branco, a dupla contracenou com sucesso. Veron serviu Taremi (50′) e, mesmo perante o esforço de Basso para conseguir o corte, o iraniano acabou a marcar o hat-trick que já tinha desperdiçado num par de ocasiões.

O FC Porto estava tão eficaz que marcava até o que não queria. Quando Taremi tentava cruzar de trivela (70′), o esférico acabou por embater no central Opoku e ir parar dentro da baliza num lance que foi considerado autogolo.

Na única oportunidade que teve para o fazer, o Arouca marcou um golo que serviu para que a goleada não pesasse tanto. O FC Porto perdeu a bola numa zona recuada. Bruno Marques (75′) ficou com muito espaço para chegar perto da área e finalizar de pé esquerdo.

A alegria do Arouca não foi suficiente para estragar a festa de aniversário de Pinto da Costa que completou 85 anos esta terça-feira e foi homenageado com uma tarja pelos adeptos. Os dragões ficam a olhar com expectativa para o que pode acontecer em Braga esta sexta-feira. Um deslize encarnado pode ser motor de aproximação à liderança do campeonato.