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O funeral do Papa emérito Bento XVI, que morreu este sábado aos 95 anos de idade, vai realizar-se na próxima quinta-feira, dia 5 de janeiro, às 9h30, na Praça de São Pedro. O Vaticano anunciou que Bento XVI será enterrado nesse mesmo dia numa cripta na Basílica de São Pedro, em Roma.
Morreu Bento XVI, uma década depois da renúncia. Foi o primeiro Papa da história moderna a resignar
“O caixão do pontífice emérito será levado para a Basílica de São Pedro e depois para as grutas do Vaticano [que albergam os túmulos papais] para ser enterrado”, de acordo com o que foi avançado pelo gabinete de imprensa da Santa Sé, citado pela France Presse
A celebração que antecederá este momento vai ser presidida pelo Papa Francisco: será a primeira vez na história que um Papa em funções preside ao funeral do seu antecessor.
A partir de segunda-feira, o corpo de Bento XVI vai estar na Basílica de São Pedro em velório, onde os fiéis poderão prestar as últimas homenagens.
A informação foi avançada na manhã deste sábado pelo porta-voz do Vaticano, Matteo Bruni, em conferência de imprensa. Bruni avisou os jornalistas que, para já, esta era toda a informação disponível — e a verdade é que a morte de Bento XVI levanta uma questão nunca antes colocada: qual o protocolo a seguir?
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Os rituais previstos para a morte de um Papa em funções estão definidos ao detalhe nas normas internas da Igreja Católica (e até envolvem vários mitos populares não confirmados), mas não é certo o que acontece agora que Bento XVI morreu, quase dez anos depois de ter abdicado do trono pontifício.
A verdade é que o precedente histórico das renúncias papais é muito limitado: há registos pouco claros sobre abdicações forçadas de alguns papas durante o primeiro milénio, marcado por jogadas políticas numa Igreja transformada em poder secular na Europa, e há os dois exemplos habitualmente apontados: Celestino V (que renunciou em 1294) e Gregório XII (que renunciou em 1415).
No primeiro caso, Celestino V viria a morrer dois anos depois da abdicação, prisioneiro do seu sucessor, Bonifácio VIII; no segundo caso, Gregório XII abdicou do trono para resolver o cisma que se gerou no final do século XIV e acabou por morrer como cardeal.
Efetivamente, Bento XVI foi o primeiro da história a usar o título de Papa emérito. Nunca deixou de usar o seu nome pontifício e nunca deixou de usar as vestes brancas: não voltou a ser o cardeal Ratzinger, mas manteve-se com o título de Papa, ainda que aposentado e sem a autoridade papal, que passou para Francisco.
Pela primeira vez na história, a Igreja vê-se confrontada com a necessidade de realizar as cerimónias fúnebres de um Papa que abdicou, mas que não ficou de relações cortadas com Roma.
Desde a renúncia de Bento XVI, em 2013, que o Vaticano andou a explorar terrenos novos no que toca ao lugar que o Papa aposentado deveria ocupar na Igreja Católica. Tendo em conta que Bento XVI foi o primeiro Papa a abdicar em 600 anos, não havia qualquer protocolo preparado para si — e o mesmo acontece agora no momento da sua morte.
O que existem são, na verdade, protocolos para a morte do Papa, mas vários deles não se podem aplicar neste caso.
Segundo o jornal especializado Crux, as normas do Vaticano ditam que, quando o Papa morre, a sua morte tem de ser proclamada em latim depois de o médico declarar o óbito.
O modo como é declarado o óbito do Papa tem sido envolvido em mistério ao longo da história. Um dos mitos mais conhecidos é o de que, quando o Papa morre, o cardeal camerlengo (um cargo hoje ocupado pelo cardeal americano Kevin Farrell) bate lentamente na cabeça do Papa três vezes com um martelo de prata, enquanto o chama pelo nome de batismo. Se não receber resposta, é ele que declara a morte do Papa em latim. Porém, este mito já foi várias vezes rejeitado pelo Vaticano — o processo, na verdade, é muito mais científico. Quando o Papa João Paulo II morreu, por exemplo, o Vaticano revelou que o Papa foi declarado morto depois de o seu eletrocardiograma não apresentar sinais vitais durante mais de 20 minutos.
Ouça aqui o episódio extra do podcast “A História do Dia” sobre o Papa Bento XVI.
O que é certo é que, quando a morte do Papa é declarada, é dado início a uma longa cadeia de contactos e procedimentos internos para anunciar a notícia ao mundo e para garantir que o processo de sucessão é seguido à risca: o apartamento papal é fechado à chave, o anel do Papa é destruído e o corpo do pontífice não é tocado por mais ninguém. Além disso, o Vaticano proíbe a realização de autópsias ao Papa.
Estes procedimentos são essenciais no início da sede vacante, o período de 15 dias em que não existe Papa na Igreja Católica. Durante estes 15 dias, é o cardeal camerlengo que gere o dia-a-dia do Palácio Apostólico, que nesses dias está centrado nas cerimónias fúnebres do Papa. Nesse período, não podem ser tomadas decisões de grande relevo na Igreja, devendo apenas ser feita uma gestão do quotidiano por parte do colégio cardinalício, que não fica com os poderes do Papa.
É ao cardeal camerlengo que cabe a tarefa de começar a difundir a notícia, através de uma ordem bem definida: primeiro ao vigário de Roma, depois ao decano do colégio dos cardeais, e depois aos embaixadores acreditados junto da Santa Sé, de modo a fazer a notícia chegar aos chefes de Estado com quem a Santa Sé tem relações diplomáticas.
Só depois é que é feito o anúncio público, simultaneamente em comunicado e através de uma proclamação pública na Praça de São Pedro.
Começa aí o período de luto oficial de nove dias — com o Papa a ser enterrado entre o quarto e o sexto dias de luto.
Contudo, todos estes procedimentos têm como principal objetivo assegurar a proteção do cargo pontifício durante o período da sede vacante, motivo pelo qual não se deverão aplicar agora no caso de Bento XVI.
Ainda assim, como explica o jornal Crux, Bento XVI foi um antigo chefe de Estado, pelo que receberá as honras formais associadas a essa posição. Deverá haver um velório público com a presença de chefes de Estado e de Governo de todo o mundo, bem como celebrações exequiais que, embora não tenham a formalidade de um funeral do Papa em funções, serão especiais.
Outro aspeto que já estava definido é o lugar onde Bento XVI vai ser sepultado. De acordo com o desejo do próprio Bento XVI, o seu corpo será colocado no túmulo onde João Paulo II esteve sepultado, na cripta da Basílica de São Pedro, e que ficou vazio depois de os restos mortais do Papa polaco terem sido colocados num altar de destaque no interior da Basílica na sequência da sua canonização.
Artigo atualizado às 17h20 com a confirmação oficial do Vaticano sobre o local do túmulo do Papa emérito