A escultura “Manguito”, de Carlos Oliveira, concebida como “manifesto de descontentamento e indignação pelo desgoverno que estamos a viver”, foi colocada esta segunda-feira à tarde no Jardim dos Teixos do Palácio de Belém, em Lisboa, disse o escultor à agência Lusa.

Carlos Oliveira acrescentou que a escultura, que ao início desta segunda-feira fora instalada no passeio em frente ao Palácio Belém, foi transportada a meio da tarde para o interior do jardim do Palácio, “com autorização da Presidência da República”.

Depois de terem sido abordados durante a manhã, de “forma delicada”, por elementos das forças da autoridade, que aconselharam os artistas a colocarem a escultura noutro local, e “após algumas indecisões por parte da Câmara Municipal de Lisboa”, sobre a retirada da peça, “um representante da Presidência da República convidou os artistas a exporem o ‘Manguito’ nos Jardins do Palácio Nacional de Belém”.

Com ateliê em Óbidos e Caldas da Rainha, o escultor Carlos Oliveira explicou à Lusa ter-se inspirado na figura do Zé-Povinho, de Bordallo Pinheiro, para conceber o “Manguito”.

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Esculpida em alabastro e resina de poliéster reforçada a fibra de vidro, a obra mede perto de dois metros e pesa quase 70 quilogramas, indicou.

Concebida há perto de dez anos, a escultura foi finalizada durante a semana passada pelo duo Malibu Ninjas, que a pintou, acrescentou o escultor.

O “descontentamento popular em relação à desgovernação, hipocrisia e corrupção” é a mensagem dos artistas na obra, com a qual pretendem também “lançar um apelo a favor da verdade, da democracia, justiça e paz”, observou Carlos Oliveira à Lusa.

No comunicado de apresentação desta peça, os artistas envolvidos afirmam que, “sem cor política, a favor dos direitos humanos, ‘o Manguito’ é a representação da voz popular, de quem sofre com as indecisões políticas.”

A estátua ficou “precisamente no local onde há uns anos foi colocada a cadeira de Mário Soares”, escultura concebida por Leonel Moura.

O escultor Carlos Oliveira referia-se a uma obra de Leonel Moura acolhida de forma temporária, em novembro de 2021, por Marcelo Rebelo de Sousa, no Jardim dos Teixos, que representava Mário Soares sentado numa cadeira, onde estavam inscritas as palavras Liberdade, Humanismo, Solidariedade, Política, Revolução e Cultura, antecipando os cinco anos sobre a morte do antigo Presidente da República, que se cumpriam a 07 de janeiro de 2022.

Escultor e ceramista, com base em Óbidos, Carlos Oliveira tem privilegiado pesquisa e investigação nas áreas de materiais e técnicas de aplicação, com expressão em peças de autor, arte iconográfica, azulejaria, monumentos e arte urbana, apelando também a técnicas ancestrais.

Entre as suas obras contam-se o mural do edifício Cerejas, nas Caldas da Rainha, o monumento ao vidreiro, em Pataias, a escultura de João Paulo II, em Oeiras, a homenagem ao pescador, em Santa Cruz, e o alto relevo do centenário do escritor José Saramago, em Óbidos.

Os Malibu Ninjas são artistas multidisciplinares, oriundos de Lisboa, reunidos “com o propósito de aplicar a arte dos Ninjas em vários tipos de media”, de acordo com a sua página no Centro Português de Serigrafia.

Com “fascínio pela cultura pop, o psicadelismo e o surrealismo”, as diferentes expressões desdobram-se no seu universo “sob o formato de sátiras a questões e conflitos, tanto pessoais como colectivos”, com que se confrontam “diariamente enquanto indivíduos e sociedade”, fazendo apelo a um “tom humorístico” para fazerem “uma celebração à vida e um desafio à condição humana”.