A tampa em calcário, pesando cerca de quatro toneladas, foi recolocada sobre a arca funerária usando uma estrutura construída de propósito para o encerramento. No seu interior, foi deixado um exemplar de um jornal diário desta quarta-feira, repetindo o gesto de há 80 anos, quando o túmulo foi aberto pela primeira vez. Quatro anos após ter sido aberto, o túmulo de D. Dinis, no Mosteiro de Odivelas, voltou a ser encerrado.
O processo minucioso e extremamente delicado demorou cerca de 30 minutos e começou com a elevação da tampa através de um sistema de roldanas. Esta foi depois deslocada até ao túmulo e, uma vez alinhada com a arca, foi descida com cuidado. Tudo aconteceu sob o olhar atento de Sofia Wilton, a restauradora de escultura que foi responsável pelos trabalhos de limpeza do túmulo, aberto em 2019.
Antes do encerramento, que aconteceu esta quarta-feira, o esqueleto de D. Dinis, que tinha sido retirado para ser estudado, foi recolocado no interior do túmulo, dentro de uma caixa em acrílico e sobre um pano feito de linho. Apenas um pequeno osso foi deixado de fora, na esperança de que um dia seja possível utilizá-lo para decifrar o código genético do rei, que permitirá confirmar qual a cor do cabelo e dos olhos do monarca. Os investigadores optaram por não tentar extrair o ADN dos restos mortais por se tratar de um processo muito invasivo.
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▲ Antes do encerramento do túmulo, os restos mortais de D. Dinis foram recolocados no seu interior
Sergiy Shcheblykin/CM Odivelas/DGPC
Lâmina da espada de D. Dinis ainda não foi estudada. Resultados de análises laboratoriais serão divulgados até ao final do ano
O processo de conservação e restauro do túmulo de D. Dinis, iniciado em 2016, seguirá agora para uma fase de componente laboratorial, que culminará com a divulgação pública dos resultados científicos definitivos, em data ainda incerta. Para já, é apenas possível avançar com algumas conclusões preliminares — que o rei tinha 64 anos quando morreu, que media cerca de 1,60 metros (era mais baixo do que a rainha, D. Isabel de Aragão, que teria mais dez centímetros de altura), que tinha todos os dentes e que não sofria de qualquer doença degenerativa que pudesse deixar vestígios nos ossos além de um problema na coluna.
Eugénia Cunha, antropóloga forense da Universidade de Coimbra que integra o projeto, explicou à agência Lusa que a análise aos restos mortais do rei permitiu recolher “dados novos, interessantes, uns melhores que outros”, que serão divulgados até ao final do ano. De acordo com a investigadora, é possível fazer hoje um retrato mais fiel do monarca a partir da análise dos seus ossos, porque foi feita uma reconstituição em 3D da coluna.
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▲ O estudo das ossadas permitiu concluir que D. Dinis sofria de um problema na coluna
Sergiy Shcheblykin/CM Odivelas/DGPC
Maria Antónia Amaral, uma das responsáveis pelo estudo em curso, especificou à agência Lusa que os restos mortais do monarca foram estudados por uma equipa de antropólogos, destacando que ainda é preciso analisar o espólio associado a D. Dinis e a um dos seus netos, também sepultado no Mosteiro de Odivelas. Segundo a arqueóloga, serão produzidas análises, datações, inventários, relatórios e artigos científicos.
A arqueóloga revelou ainda à agência Lusa que propôs a classificação do manto originalmente bordado a ouro com motivos animais e florais e da espada encontrados no interior do túmulo como tesouros nacionais pela sua importância. Maria Antónia Amaral disse que “o processo está em curso”, salientando que a classificação “pode demorar dois anos”. O tecido encontra-se em Odivelas e a espada no Laboratório José de Figueiredo, em Lisboa. Esta precisa de uma “consolidação assertiva” e a lâmina terá ainda de ser analisada, afirmou Maria Antónia Amaral.
Espada e manto de D. Dinis podem vir a ser classificados como Património Nacional “a seu tempo”. Objetos ainda não têm para onde ir
O ministro da Cultura, que assistiu ao encerramento do túmulo de D. Dinis, acompanhado pela secretária de Estado da Cultura e pelo presidente da câmara de Odivelas, descreveu o momento como “o encerrar de uma etapa de um processo longo”, que incluirá “a investigação e conservação da espada e dos tecidos”. Pedro Adão e Silva aproveitou a ocasião para elogiar o trabalho de todos os envolvidos, das “pessoas que trabalham no ministério e nos vários serviços”.
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▲ O manto encontrado no túmulo poderá vir a ser classificado, juntamente com a espada do rei
FILIPE AMORIM/LUSA
Questionado sobre a eventual classificação da espada e dos tecidos encontrados no interior do túmulo do rei, Adão e Silva concordou que isso é “uma possibilidade”, mas que acontecerá “a seu tempo”, seguindo “os trâmites habituais”. “Para já, é fazer o trabalho de investigação e a conservação. Cada coisa a seu tempo”, disse o governante.
O ministro disse ainda não ter sido escolhido o local onde os objetos ficarão em exposição, reiterando a importância de acabar o processo ainda em curso. “É um trabalho demorado”, mas importante.
Dinis morreu a 7 de janeiro de 1325, em Santarém. Para que se cumprisse a disposição do seu último testamento, datado de 1322, foi sepultado no Mosteiro de Odivelas, que fundou em 1295.
Em 2019, a gestão do monumento passou para a Câmara Municipal de Odivelas, através de um acordo de cedência com um prazo de 50 anos que implica um investimento previsto por parte da autarquia de cerca de 16 milhões de euros em obras de requalificação, bem como o pagamento de uma renda mensal de 23 mil euros, anualmente atualizável. Com a requalificação, a autarquia prevê a criação de um Centro Interpretativo do Mosteiro de Odivelas.