O Presidente da República Sérvia da Bósnia-Herzegovina, Milorad Dodik, rejeitou este domingo, categoricamente, as decisões adotadas no sábado pelo alto representante internacional para este país, Christian Schmidt, e ameaçou tomar mais passos secessionistas.

“A República Sérvia não aceitará nenhuma decisão de Schmidt, ele não é legal. A República Sérvia não pretende desistir da sua posição”, insistiu o pró-russo Dodik, numa conferência de imprensa, que decorreu em Banja Luka, a segunda maior cidade da Bósnia e Herzegovina, e que foi transmitida em direto pela televisão pública sérvia-bósnia RTRS.

No sábado, o alto representante internacional para a Bósnia-Herzegovina, Christian Schmidt, anulou duas leis secessionistas sérvias, por considerar que violam diretamente a constituição do país e o Acordo de Paz de Dayton, que pôs fim à guerra em 1995, e também incluiu no código penal que desobedecer ao seu mandato é considerado crime.

Essas leis secessionistas anulam a competência do Tribunal Constitucional da Bósnia, assim como do alto representante internacional para a Bósnia-Herzegovina.

O veto legal ao Tribunal Constitucional foi impulsionado pelo Presidente da República Sérvia da Bósnia-Herzegovina, o nacionalista Milorad Dodik, e aprovada por 56 dos 65 deputados do parlamento da entidade sérvia.

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Milorad Dodik afirmou hoje, por várias vezes, que assinará as duas leis anuladas por Schmidt e que entrarão em vigor sem falta.

O nacionalista disse que, se o Tribunal e o Ministério Público da Bósnia-Herzegovina decidirem agir contra ele, a República Sérvia da Bósnia proibirá a sua ação no seu território, assim como a da agência central da polícia da Bósnia SIPA.

Desta forma, as instituições centrais da República Sérvia da Bósnia deixariam de funcionar.

O líder sérvio-bósnio anunciou que se continuar a pressão contra o seu Governo, a República Sérvia organizará, até ao final do ano, um referendo secessionista.

Dodik referiu ainda que a Bósnia-Herzegovina é um “estado sem sentido, insustentável, em que os sérvios não se sentem bem e querem a sua liberdade”.

O chefe de Estado garantiu também que a República Sérvia “não tolerará a organização criminosa formada pelos embaixadores dos Estados Unidos da América e do Reino Unido, o falso representante Schmidt e os políticos de Sarajevo” e as suas pressões.

Schmidt foi designado em julho de 2021 pelo Conselho de Segurança da ONU (Organização das Nações Unidas), mas com os votos contra da Rússia e da China, sendo por esse motivo considerado ilegítimo pelas autoridades sérvias-bósnias.

A ex-república jugoslava continua a confrontar-se com as ambições secessionistas dos sérvios bósnios e uma crescente fratura e afastamento entre os nacionalistas bosníacos muçulmanos e croatas católicos.

Os partidos nacionalistas continuam a dirigir as respetivas entidades, num cenário de divisões étnicas.

Em 02 de outubro passado foram eleitos os parlamentos das duas entidades, o presidente da RS e as assembleias dos 10 cantões da Federação partilhados entre bosníacos e croatas.