O co-fundador do movimento de ação ambiental “Extinction Rebellion”, Robin Boardman, considerou esta quinta-feira que “nenhum país” está ainda no caminho certo para o combate às alterações climáticas, frisando que Portugal também não está a reduzir o suficiente as emissões.

“Por exemplo, em Portugal temos o gás em Sines e outras fontes de gás e, por isso, não está a reduzir (as emissões) o suficiente. A ciência é clara. Precisamos de reduzir pelo menos metade das emissões (de gases) até 2030 e Portugal não está no caminho certo, mas está melhor que o Reino Unido”, observou o ativista britânico que está em Portugal para participar esta quinta-feira e dia 13 de julho, em palestras no Goethe-Institut em Lisboa.

Para Robin Boardman a mudança deve ser feita “com o movimento do povo e não apenas [com a] política do Governo. Precisamos de um movimento nacional para fomentar esta mentalidade para um mundo novo. Não é a política radical que precisamos, precisamos de uma linguagem mais forte”.

Robin Boardman sublinhou que pretende juntar o movimento do Reino Unido com o de Portugal, recordando a aliança de 650 anos entre os dois países, a mais antiga do mundo.

Precisamos desta aliança no combate à crise climática. Para partilhar táticas, para partilhar emoções. Estou a aprender um bocado mais sobre a situação daqui (portuguesa) e vou partilhar esta informação com os meus colegas no Reino Unido para juntar o movimento, para criar esta ação”, anotou.

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O ativista climático criticou ainda alguns políticos, dizendo que “não estão a dizer a verdade sobre a crise climática”.

“Não estão a dizer a verdade, porque não querem perder votos através de políticas que não são populares nesta matéria e, por isso, temos este problema de ação lenta e as pessoas desconhecem a gravidade da situação”, adiantou.

Exigindo uma mudança de mentalidade, Boardman disse à Lusa que a ‘Extinction Rebellion’ vai “organizar uma declaração de rebelião em Portugal”, em setembro, como no Reino Unido e na Alemanha, mas sem adiantar pormenores.

“Cada mês, antes de setembro, vamos ter uma ação para mobilizar as pessoas para consciencializar as pessoas em Portugal sobre o movimento, com sereias mortas, por exemplo, e com ações criativas”, frisou.

O ativista frisa que população tem que reduzir as emissões poluentes e adaptar-se às alterações climáticas, que considerou serem já irreversíveis.

“Observo todos os dias a ciência. Sinto no coração o peso de não podermos mudar e reverter completamente estas coisas [alterações climáticas]. Vamos sofrer — e estamos a sofrer agora — com os incêndios florestais, com o calor no Texas [Estados Unidos] e noutras partes do mundo. Está a matar as pessoas”, afirmou.

A espécie humana, face à situação, terá de reduzir as emissões de gases poluentes, proteger a biodiversidade e adaptar-se, disse o rebelde, como se intitula.

“Não podemos reverter isto, mas podemos fazer duas coisas: uma é reduzir as emissões e proteger a biodiversidade (…) e a segunda é adaptarmo-nos aos problemas que temos agora”, indicou, sustentando que se “pode reduzir o calor no futuro e cada grau que é reduzido” vai proteger as gerações do perigo.

O ativista do movimento internacional descentralizado e sem filiação político-partidária que usa ação direta não-violenta para pressionar os governos explicou que a sociedade também deverá apostar mais nas energias renováveis e em sistemas de diques junto às zonas costeiras, para proteger as pessoas do aumento do nível médio do mar.

“[Devemos] criar o movimento, reduzir as emissões, adotar políticas e adaptarmo-nos como comunidade para este colapso da sociedade, do mundo ecológico”, realçou.

Depois de o ‘Extinction Rebellion’ ter sido “fortemente atingido pela pandemia” em termos de inciativas, Boardman, que tem vontade de trazer o movimento de volta ao panorama internacional, deixou uma mensagem aos críticos, dizendo que há “um par de anos para mudar as coisas” para controlar a extinção das espécies.

“Os críticos dizem que nos estamos a queixar de mais (…), mas a ciência é clara. Todos podem ver a ciência, não é complicado. Os críticos normalmente são a fonte deste ‘status quo’ de querem apenas os lucros e, isso, não é útil para nós. Precisamos de vida no planeta e, isso, é mais importante do que os lucros”, sublinhou.

Evento pode ser oportunidade para gerar sociedade preocupada com o clima

Por outro lado, Robin Boardman defendeu que a Jornada Mundial da Juventude (JMJ), que se realiza em Lisboa em agosto, pode ser uma oportunidade para gerar uma sociedade preocupada com as alterações climáticas.

“Eu penso que o Papa [Francisco] diz algumas coisas boas sobre as alterações climáticas e, para mim, é muito importante que todas as religiões se juntem nesta crise. No Reino Unido temos grupos de muçulmanos e cristãos. Quero isso também em Portugal”, afirmou o ativista em entrevista à agência Lusa.

“Neste momento, não temos ações previstas mas [a JMJ] pode ser uma boa oportunidade para criar uma comunidade de cristãos que se preocupam com o tema”, adiantou.

Referindo-se à JMJ — encontro de jovens de todo o mundo com o Papa Francisco, que decorrerá na primeira semana de agosto – Robin Boardman disse que o Papa poderá influenciar as pessoas para “criar uma visão mais ecologista”.

O ‘Extinction Rebellion’ é um movimento ambiental global que utiliza a desobediência civil não-violenta para tentar deter a extinção massiva das espécies e minimizar o colapso da sociedade. Os seus elementos têm organizado iniciativas como sentarem-se à volta de aviões particulares, enquanto outros circulam de bicicleta em redor das aeronaves, impedindo-os de descolarem.

O movimento surgiu em 2018 depois de ativistas britânicos se terem reunido na praça do parlamento em Londres para anunciar uma declaração da rebelião contra o governo do Reino Unido.

Em Portugal, embora não se dizendo adeptos deste movimento, estudantes mobilizaram-se em protesto pelo clima e pelo fim dos combustíveis fósseis no final do ano passado e ocuparam várias escolas e universidades durante uma semana, um protesto que repetiram noutros espaços, como o Ministério da Economia, e que obrigou, por vezes, à intervenção das forças de segurança.

Em maio, um grupo de ativistas da Plataforma Parar o Gás acorrentou-se no portão da entrada principal do Terminal de Gás Natural Liquefeito, no Porto de Sines (Setúbal), para bloquear o funcionamento daquela infraestrutura.