Sete vitórias em 2018, incluindo uma maratona contra Rafa Nadal nas meias-finais que terminou apenas nas vantagens do quinto parcial e uma final contra Kevin Anderson resolvida em três sets. Mais sete vitórias em 2019, com uma decisão memorável diante de Roger Federer no tie break das vantagens que fechou o quinto set com 13-12 depois de ter aguentado dois match points do suíço (um jogo realizado há exatamente quatro anos). Mais sete vitórias em 2021, sem os outros mosqueteiros em prova mas com uma final bem jogada e decidida em quatro sets com Matteo Berrettini. Mais sete vitórias em 2022, incluindo um duelo mais prolongado nos quartos frente a Jannik Sinner passando de 0-2 para 3-2 e a decisão em quatro sets frente a Nick Kyrgios. Agora, mais cinco vitórias em 2023, com nomes fortes pelo passado ou pelo atual ranking como Pedro Cachín, Wawrinka, Hurkacz ou Rublev. Djokovic e Wimbledon estão numa relação.

Ao todo, o sérvio levava 33 triunfos consecutivos no torneio inglês, entre o cancelamento da prova devido à pandemia em 2020. Aliás, era preciso recuar em 2017 para encontrar uma derrota do antigo número 1 do mundo sendo que até aí esse desaire com o checo Tomás Berdych aconteceu por lesão no segundo set (o que fez com que falhasse o resto da temporada). Assim, e em termos factuais, Sam Querrey tinha sido o último a ganhar em campo a Djokovic em Wimbledon na terceira ronda de 2016. Aí, Sinner preparava-se para fazer 15 anos e não tinha sequer entrado ainda no circuito de juniores. Era muito tempo. Demasiado. No entanto, havia aquela memória do confronto do ano passado, uma das três vitórias nessa série de 33 que foi a cinco sets, algo que acontecera apenas com Nadal e Federer. E o italiano agarrava-se a isso para sonhar.

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Depois de ter experimentado os quartos de todos os torneios do Grand Slam, Sinner não tremeu frente a uma das revelações desta edição, o russo Roman Safiullin, e carimbou pela primeira vez uma presença nas meias-finais. Esse encontro era um bom barómetro para o momento que atravessava: nas melhores fases do jogo, quando fez prevalecer o seu serviço, não deu hipóteses; quando Safiullin variou mais as suas pancadas e teve o condão de “forçar” mais erros, o transalpino vacilou. Era isso que teria ao máximo de evitar na primeira meia-final com Novak Djokovic, apostado em igualar os oito títulos de Federer no Major inglês.

“É a primeira vez dele [Sinner] nas meias-finais de Wimbledon. Estou ansioso por esse desafio. Ambos temos dois dias para recuperar. Tenho a certeza de que ele vai estar muito, muito motivado para vencer. Por outro lado, eu também estou. Não quero parecer arrogante mas é claro que me consideraria favorito. Tendo em conta os resultados que tive aqui, ao longo da minha carreira, as vezes que conquistei Wimbledon e o facto de ter chegado a outra meia-final, considero-me favorito”, destacara o sérvio após a vitória frente a um Andrey Rublev muito motivado e com um nível de jogo extraordinário nos oitavos com Sasha Bublik.

Não era mesmo arrogância – era a mais pura constatação dos factos. Djokovic, de 36 anos, tinha conseguido nesta edição superar a percentagem de vitórias em Wimbledon de Pete Sampras, superando a barreira dos 90%, e tinha também igualado as 46 meias-finais de Grand Slam de Roger Federer. Havia mais. E naquele que foi o encontro das meias do Major inglês com maior diferença de idades entre os jogadores (14 anos e 86 dias), o sérvio passou a ser o jogador da história com mais finais do Grand Slam superando a americana Chris Evert (35), esperando agora pelo vencedor da partida entre Alcaraz e Medvedev para saber com quem irá discutir a possibilidade de chegar a uma oitava vitória em Wimbledon, naquela que poderia ser a 35.ª vitória consecutiva no torneio e a 46.ª no court central daquela que para muitos é a Meca do ténis.

A partida até começou com um surpreendente ponto de break de Sinner no serviço de Djokovic. Surpresa à vista? Nem por isso. Aliás, foi nessa altura em que estava num “aperto” que apareceram as melhores bolas do sérvio, a procurar os cantos e a tirar de forma constante o transalpino. Com isso, fez o 1-0, quebrou logo de seguida o serviço e fez o 3-0 que o projetou para a vitória no primeiro set, que ainda teve novamente um jogo de serviço de Djokovic a ir às vantagens para o 4-1 antes do 6-3 que começou com um 0-15 e terminou com quatro serviços canhão que valeram outros tantos pontos diretos. No segundo parcial, mais do mesmo: na altura em que sentiu Sinner a tremer no seu serviço, Djokovic ainda desperdiçou dois breaks mas fez mesmo o 2-1, dando mais um passo de peso para ficar mais próximo da vitória antes de fechar com 6-4.

Olhando para o segundo set, o grande e inesperado duelo no jogo acabou por ser entre o sérvio e o árbitro principal, Richard Haigh. E tudo ficou concentrado no quarto encontro, com Djokovic a servir: primeiro deu um ponto a Sinner ao assinalar “hindrance” ao número 2 do mundo, penalizando um grito antes do tempo que na sua visão perturbou depois a ação do italiano (o que deixou o sérvio estupefacto a perguntar o que é que tinha assinalado); pouco depois, fez uma advertência pelo tempo que estava a demorar entre os seus serviços. A maioria dos jogadores, quase todos, ficariam inquietos, nervosos, irritados. No caso de Novak Djokovic, respirou fundo, concentrou-se, salvou pontos de break e seguiu a sua caminhada.

O terceiro set acabou por ser aquele com mais história. Sinner melhorou o seu jogo, sobretudo pela confiança com que ganhou no seu serviço, Djokovic também teve alguns erros não forçados mas a maior experiência foi permitindo ao sérvio aguentar-se “vivo”, até perante uma situação de 4-5 e 15-40 com o primeiro serviço falhado parou por momentos a partida, salvou os dois set points e acabou por entrar numa zona de tie break que lhe era favorável, tendo em conta que levava 14 triunfos consecutivos em Grand Slams. Assim como não há duas sem três, não houve 14 sem 15 e a vitória foi carimbada com 7-4 que fechou um jogo com 2h45.