Eram 12h30 quando a polícia marítima de Antibes recebeu o alerta. Nesse dia 29 de julho, o pedido de socorro chegava do iate Cujo, que pouco depois se afundaria a cerca de 35 quilómetros da costa de Beaulieu-sur-Mer, na riviera francesa, 26 anos depois de Diana ser fotografada a bordo com uns calções brancos e um top preto, naquelas que seriam as suas derradeiras férias (e que forneceram mais umas quantas fotos imagens icónicas da princesa do Povo)

Segundo o comunicado emitido pelas autoridades locais, o barco de resgate chegou à zona em questão 45 minutos depois da chamada de auxílio. Por essa altura, encontraram a proa da embarcação parcialmente submersa, com as cabines “já inundadas”. Todos os sete passageiros a bordo haviam sido resgatados em segurança, num bote salva-vidas.

Apesar de ter sido ainda possível recuperar alguns objetos no interior do iate, o Cujo terminaria os seus dias a cerca de 762 metros de profundidade, com  7.000 litros de combustível a bordo e respetiva ameaça ambiental. A investigação segue o seu curso.

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Desconhecendo-se ainda as causa do acidente — segundo fontes escutadas pela BOAT International o iate terá embatido contra algo que flutuava e que danificou o casco — as atenções centram-se sobretudo no insólito desfecho de uma embarcação cujas origens nos devolvem a 1972.

Apesar de ter passado à história em larga medida como “o iate de Diana”, a lenda do Cujo, com os seus 20 metros de comprimento, é rica em detalhes — de resto, esse verão de despedida da princesa e do namorado, o egípcio Dodi Al Fayed, passou também pelas águas de Portofino, agora a bordo de um iate maior, o Jonikal (mais tarde Sokar), então propriedade do pai de Fayed, e que ainda hoje navega sob o nome de Bash. É aliás daqui que resulta a célebre foto de Diana com um fato de banho azul, meditativa, sentada na prancha da embarcação, um registo que correu mundo.

Alta velocidade, muito conforto e um estilo militar: foram estas as exigências do seu primeiro dono, John Von Neumann, famoso empresário austríaco que introduziu a Porsche e a Volkswagen nos EUA, aí abrindo os primeiros concessionários das marcas. A embarcação foi fabricada pela Baglietto, construtor naval italiano que cumpriu os pedidos à risca para uma embarcação de lazer com um layout único. Von Neumann adorou o resultado e terá dado devido uso ao brinquedo nos anos que se seguiram, mas acabaria por trocar o Cujo por um modelo ainda mais célere e com um design mais sofisticado.

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Diana em St Tropez, nesse agosto de 1997 passado no Mediterrâneo, poucos dias antes da sua morte, em Paris

O senhor que seguiu foi Adnan Khashoggi, negociante de armas saudita que também não manteria o iate em suas mãos demasiado tempo. Vendeu-o ao sobrinho Dodi Fayed, que por essa altura, dado o estado da embarcação, empreendeu uma reforma profunda do iate, nascendo assim o Cujo.

Nos anos 90, as relações próximas de Dodi com a fauna de Hollywood resultaram em inúmeras visitas VIP ao iate. Pelas águas do Mediterrâneo terão passado estrelas como Clint Eastwood, Bruce Willis, Brooke Shields, Robert Downey Jr. ou Winona Ryder, uma afluência que terá sido interrompida quando Diana entrou na vida de Al Fayed e subiu a bordo do Cujo.

[As icónicas imagens de Diana a bordo do Cujo, no sul de França]

Após a morte trágica do casal, em Paris, poucos dias depois dessa temporada a sul, o iate foi despromovido a táxi aquático para o clã Fayed, e desativado por fim em 1999. Coube ao primo de Dodi, Moody Al-Fayed, retirá-lo desse sono profundo e investir quase um milhão no seu restauro, incluindo a atualização dos motores.

Segundo a Auto Evolution, o iate seria vendido em leilão em 2020, ficando nas mãos do colecionador de carros britânico Simon Kidston, que deu novo fôlego e ânimo à então já longa vida do Cujo. No ano seguinte, no entanto, venderia o iate a uma família italiana, que gozou da embarcação até ao final de julho deste ano, quando a lenda se afundou.