Os 115.000 euros anuais atribuídos em bolsas pela Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (SCML) aos atletas do programa de preparação olímpica são insuficientes, disse esta quarta-feira o presidente do Comité Olímpico de Portugal (COP).

“Não apenas não cobrem os custos administrativos da operação, assim como o COP tem de colocar sobre esse valor receitas próprias para poder contemplar todo o conjunto de atletas que integram esses critérios que são colocados em apreciação para as respetivas candidaturas. Agora, o dinheiro não fica no COP e vai para os atletas. Somos apenas um ponto de passagem administrativa“, observou à agência Lusa José Manuel Constantino.

Os anunciados cortes no apoio financeiro da SCML ao setor levaram esta quarta-feira o secretário de Estado da Juventude e do Desporto, João Paulo Correia, a anunciar o pedido de uma reunião urgente com Ana Jorge, tendo classificado aquela decisão como “preocupante”.

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Através de cartas assinadas pela provedora Ana Jorge, que assumiu funções em maio, a SCML avisou as federações desportivas e o COP para a necessidade de os patrocínios serem reavaliados, a menos de um ano dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos Paris2024.

Em causa, de acordo com várias das missivas a que a Lusa teve acesso, está a revisão do “plano de patrocínios delineado para 2023“, advertindo, ainda, que o patrocínio, em nome dos Jogos Santa Casa, na sua maioria, além dos contratos em vigor não está assegurado.

“Isto de invocar permanentemente a responsabilidade social, mas, depois, comportar-se como uma agência de natureza capitalista pura e dura, que efetua uma avaliação entre o apoio financeiro e o retorno que possa ter em termos promocionais, não leva em linha de conta a realidade de natureza social para a qual muitas modalidades não têm condições de poder contribuir. Acentua a desigualdade no apoio às organizações [desportivas] e é pouco positivo para o desenvolvimento sustentado [do setor]”, lamentou o líder do COP.

Constantino receia que corte da Santa Casa seja apenas no desporto

O corte é justificado pela “conjuntura económico-social que se vive”, que conferiu “novas exigências sociais e financeiras à SCML” junto das “populações mais vulneráveis”, sem estar excluída “uma eventual reavaliação futura” da situação caso as premissas mudem.

“Seria relevante para o país conhecer qual é o valor financeiro que o desporto transporta para os cofres dos jogos da Santa Casa e qual é a percentagem desse volume que tem retorno para as organizações desportivas, quer no que a lei obriga, quer em contratos de patrocínio. Era muito importante para se perceber qual é o equilíbrio que existe, se é que existe algum, e qual é o conjunto de entidades que, sem contribuírem para a construção deste valor, dele também acabam por ser beneficiadas”, disse José Manuel Constantino.

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Entre as entidades apoiadas pelos Jogos Santa Casa, de acordo com a lista publicada no seu site, constam o COP, o Comité Paralímpico de Portugal (CPP) e a Confederação do Desporto de Portugal (CDP), bem como as federações de andebol, atletismo, ciclismo, canoagem, equestre, futebol, ginástica, judo, motociclismo, natação, patinagem, remo, râguebi, surf, ténis de mesa, triatlo, voleibol e de desporto para pessoas com deficiência.

“Se [a provedora] entende que a nossa presença é útil, teremos total disponibilidade para dar o nosso parecer sobre estas matérias. Se entender, como tem entendido até à data, que a nossa participação é dispensável, e em alguns casos até não é desejável, não nos faremos de convidados. Estamos, naturalmente, inteiramente disponíveis para cooperar naquilo que for necessário, mas essa cooperação não paga o nosso silêncio“, terminou.