A exibição não foi perfeita, o grupo pode não ter propriamente grandes colossos (além de apurar não uma mas duas equipas) mas os números não enganam. Nem os de Portugal, nem os de Roberto Martínez. E se o treinador espanhol ganhou todos os encontros feitos em qualificações para Campeonatos da Europa entre a Bélgica e Portugal, a Seleção partia também com aquele que já era o melhor arranque de sempre numa fase de apuramento: cinco jogos, cinco vitórias, 15 golos marcados, nenhum sofrido. Quer isso dizer que tudo era perfeito? Não, longe disso. E se a primeira experiência em 4x3x3 desde que substituiu Fernando Santos no comando nacional terminou com uma vitória, alguns pontos do jogo com bola em Bratislava, sobretudo a construção a partir de trás, tiveram períodos menos conseguidos. Com uma nuance: não haveria Ronaldo.

Portugal “atropela” Luxemburgo no Algarve por 9-0 e consegue maior goleada de sempre

“Estamos com um espírito muito bom, acho que o balneário está desejoso de jogar o jogo com o Luxemburgo. Gosto muito do espírito de equipa e isso dá para perceber pela forma como eles falam sobre o jogo. O Luxemburgo é uma equipa estável, gosto muito da ideia que têm. Gostam de jogar sempre nos últimos terços do jogo, têm sempre muito objetividade e um jogo dinâmico. Da última vez entrámos muito bem, com muita intensidade, e marcámos cedo e isso mudou um pouco o rumo do jogo. Depois, o Luxemburgo ganhou confiança, foi à Bósnia ganhar e teve um resultado positivo com a Eslováquia. Têm um treinador com boas ideias, principalmente de ataque”, começara por referir na antevisão ao jogo no Estádio do Algarve o técnico espanhol, passando ao lado de uma qualificação para o Euro-2024 que se afigura cada vez mais sentenciada.

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“O nosso objetivo é melhorar sempre, como dissemos após o jogo com a Eslováquia. Queremos melhorar a relação entre os jogadores e com os jogadores. O nosso processo de crescimento é importante. Os cinco jogos são essenciais para melhorarmos. Gostei muito do trabalho defensivo da equipa, que ajudou-nos a conseguir a vitória. Agora contra o Luxemburgo, vamos todos juntos para tentarmos demonstrar o melhor nível que temos e conseguimos mostrar. Qualificação? Ainda não estamos apurados. Gosto de ter uma equipa ganhadora e essas têm qualidades com e sem bola. Sem bola, contra a Eslováquia, tivemos momentos de grande nível. Com bola, não tivemos a qualidade que sei que temos, assim como as qualidades individuais que sabemos que temos no balneário. Acreditem sempre que este grupo pode ir crescendo jogo a jogo e com capacidade para vencer todos os jogos”, prosseguira Martínez, que também passava ao lado dos números.

“15 golos marcados ou nenhum sofrido? Gosto de ambos, gosto de tudo. É importante para sermos uma equipa completa e ganhadora termos a baliza a zero mas também de marcar golos. No futebol moderno, há sempre jogos difíceis e é preciso ter uma estrutura coletiva e individual que nos permita marcar golos mas também trabalharmos para sermos defensivamente fortes. Se não sofrermos golos, fica mais fácil ganharmos jogos”, acrescentara a esse propósito, naquilo que era mais um desafio para a sexta partida da qualificação.

Jogando em 4x3x3 ou regressando ao 3x4x3, Portugal iria sempre ter um “desafio” extra até agora ainda não testado que era jogar sem ter Ronaldo como referência do ataque depois do amarelo frente à Eslováquia que colocou o avançado com um jogo de suspensão (e fez com que voltasse mais cedo à Arábia Saudita e ao Al Nassr). E num formato tático que muitas vezes com bola passava a 4x4x2, colocando Diogo Jota mais ao lado de Gonçalo Ramos com Rafael Leão a dar a largura na esquerda e Bernardo Silva mais à direita dando o comando das operações no meio a Bruno Fernandes, a Seleção mostrou que tem na dupla BB de Bruno Fernandes e Bernardo Silva os protagonistas ideais num formato de reality show sem Ronaldo que também consegue marcar, criar oportunidades e jogar bem para cativar audiências. Com isso, Portugal fez a sexta vitória consecutiva e passou a ter oito pontos de avanço na qualificação… com apenas 12 por jogar.

Ficha de jogo

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Portugal-Luxemburgo, 9-0

6.ª jornada do grupo J da qualificação para o Europeu

Estádio do Algarve, em Faro/Loulé

Árbitro: John Brooks (Inglaterra)

Portugal: Diogo Costa; Nelson Semedo (João Cancelo, 60′), Rúben Dias, Gonçalo Inácio, Diogo Dalot; Danilo (Rúben Neves, 75′), Bruno Fernandes, Bernardo Silva (Ricardo Horta, 60′): Diogo Jota, Rafael Leão (Otávio, 75′) e Gonçalo Ramos (João Félix, 60′)

Suplentes não utilizados: Rui Patrício, José Sá, António Silva, Toti Gomes, João Palhinha, Pedro Neto e Vitinha

Treinador: Roberto Martínez

Luxemburgo: Moris; Bohnert (Lars Gerson, 46′), Jans, Chanot (Korac, 78′), Mahmutovic, Mica Pinto (Vincent Thill, 54′); Borges Sanches, Rupil (Sébastien Thill, 46′), Leandro Barreiro, Sinani e Curci (Carlson, 46′)

Suplentes não utilizados: Schon, Pereira, Ikene, Dardari, Dzogovic, Elshan e Marvin Martins

Treinador: Luc Holtz

Golos: Gonçalo Inácio (12′ e 45+4′), Gonçalo Ramos (18′ e 34′), Diogo Jota (58′ e 78′), Ricardo Horta (67′), Bruno Fernandes (83′) e João Félix (88′)

Ação disciplinar: cartão amarelo a Vincent Thill (55′), Mahmutovic (65′) e Lars Gerson (76′)

Portugal começou o encontro dentro do domínio com bola que se esperava e de novo com o movimento do lateral esquerdo por dentro, com Diogo Dalot a juntar-se a Bruno Fernandes no meio-campo, Danilo a recuar para fazer uma falsa linha de três com os centrais e Rafael Leão a dar largura pela esquerda num sistema que muitas vezes de transformava num 4x4x2 com Diogo Jota a jogar mais por dentro ao lado de Gonçalo Ramos quando Bernardo Silva descaía mais sobre a direita (em alguns momentos a parecer quase replicar a nuance tática que Pep Guardiola implementou no Manchester City, primeiro com Cancelo e depois com Stones). No entanto, a primeira oportunidade acabou por surgir apenas de bola parada, com Gonçalo Inácio a desviar de cabeça ao lado (9′). Ficou o aviso, o Luxemburgo pareceu não ter ligado, o remake valeu mesmo o 1-0: em mais um canto na direita, Diogo Jota não quis arriscar o remate, devolveu de novo em Bruno Fernandes e o cruzamento de trivela encontrou o central do Sporting ao primeiro poste para fazer o seu primeiro golo.

Mesmo sendo de longe melhor, mesmo tendo pela frente um adversário que tentou nunca abdicar de jogar com os seus princípios de sair a partir de trás com bola controlada à procura de espaços quando conseguia, o golo acabou por dar ainda mais confiança ao jogo de Portugal com bola, nem sempre com aquela qualidade de saída na primeira fase de construção que Martínez queria mas a ser capaz de dar largura e de “queimar” linhas perante a organização defensiva do Luxemburgo. Depois, havia outra capacidade de pressão em zonas mais adiantadas, o que iniciou a jogada do 2-0 para a Seleção: Bruno Fernandes, mais uma vez, foi ganhar a bola logo no terço inicial dos visitantes, conseguiu dar em Bernardo Silva e o campeão europeu só teve de assistir de primeira para Gonçalo Ramos rematar isolado na área na segunda oportunidades (18′).

O jogo estava fácil para Portugal pelo resultado, o jogo tornava-se ainda mais fácil para Portugal por Bruno Fernandes. Dominava o meio-campo, fazia o que queria da bola, colocava os passes com o pé como se fosse à mão para onde ninguém estava à espera. Eram essas dinâmicas ofensivas que iam contagiando o resto da equipa, com Diogo Jota apostado também em marcar com um remate à entrada da área que saiu por cima a aproveitar o arrastamento dos centrais pela diagonal de Ramos e um desvio de cabeça ao lado (29′ e 30′). O golo parecia uma questão de tempo e a surpresa foi a não intervenção do jogador do Manchester United: Rafael Leão arrancou pela esquerda a todo o gás, Ramos teve uma excelente receção orientada e rematou sem hipóteses após mais uma finta (34′). Ainda antes do intervalo, Diogo Jota recuperou uma bola em zona alta mas, sozinho, acertou em cheio na trave (35′) mas o festival dos Gonçalos iria continuar, com Inácio a aproveitar mais uma assistência de Bruno Fernandes após canto na direita para fazer o 4-0 (45+4′).

De forma quase natural, mesmo não sendo esse o objetivo, o ritmo e a intensidade do jogo acabaram por ir caindo, sendo que o próprio Luxemburgo, que fez quatro substituições até aos 55′, também quis arriscar um pouco mais nas suas zonas de pressão. Contudo, até mesmo com uma mudança abaixo, Portugal continuou a passear classe ligado a um mestre real que joga muitas vezes como se estivesse em realidade virtual chamado Bruno Fernandes: numa primeira instância, voltou a arriscar o cruzamento para Gonçalo Inácio agora ao segundo poste mas o desvio de cabeça saiu por cima (54′); pouco depois, mesmo pressionado na zona mais central do terreno, fez um passe longo vendo a diagonal da esquerda para o meio de Diogo Jota e o avançado do Liverpool recebeu bem de forma orientada para fuzilar sem hipóteses Moris (57′). Se o jogo já estava “terminado” ao intervalo, as lacunas dos visitantes estendiam a passadeira para outra goleada.

Roberto Martínez aproveitou o andamento do encontro para mexer pela primeira vez na equipa, tirando Nelson Semedo, Bernardo Silva e Gonçalo Ramos para as entradas de João Cancelo, Ricardo Horta e João Félix. E a primeira oportunidade a seguir a esse momento até pertenceu ao Luxemburgo, que no primeiro remate que fez em todo o encontro quase marcou por Leandro Barreiro, a ver Diogo Costa fazer uma grande defesa a um tiro rasteiro cruzado (62′). Portugal diminuía um pouco a intensidade no jogo sem bola mas nem por isso deixou de conseguir criar mais ocasiões, com Ricardo Horta a fazer o 6-0 após assistência de Diogo Jota num lance que começou num passe longo de Rúben Dias a explorar as costas dos laterais (67′) e a ter a chance de bisar logo a seguir (70′) antes de Diogo Jota bisar para o 7-0 num lance mal cortado pela defesa contrária (77′), Bruno Fernandes marcar o 8-0 após assistência de Ricardo Horta (83′) e João Félix fazer o histórico 9-0 com um grande remate de fora da área ao ângulo para a maior goleada de sempre (88′).