“Don Juan”

No novo filme de Serge Bozon, Don Juan é um ator, Laurent (Tahar Rahim), que está a ensaiar a peça homónima de Molière, e que foi abandonado pela noiva, Julie (Virginie Efira), no dia em que se iam casar. E quando a protagonista feminina da peça abdica do papel, é a mesma Julie que surge para a substituir. Esta reinterpretação do mito donjuanesco para o século XXI e pós-#MeToo, traz-nos (como não podia deixar de ser…) uma personagem masculina vulnerável e desamparada, obcecada pela mulher que o deixou e a cujos avanços as outras resistem. Depois do muito curioso “Madame Hyde”, Bozon assina em “Don Juan” um filme pedestre e desligado, desastradamente “poético”-fantasioso (aqui e ali, as personagens põem-se a cantar de forma arbitrária, qual filme de Jacques Demy do pobre) e por vezes involuntariamente ridículo, que nunca encontra o tom adequado para se expressar, entre o ligeiro e o sério.

“A Romancista e o Seu Filme”/”Lá em Cima”

Dois dos mais recentes filmes do prolífero Hong Sangsoo, o mais afrancesado e “artsy” dos realizadores sul-coreanos, estreiam em simultâneo esta semana, e quer os seus devotos fervorosos, quer os seus incréus impenitentes, já sabem com o que podem contar: cinema ultra-miniaturista (e a preto e branco muito contrastado, nos dois casos), emocionalmente atrofiado e tão estático como verboso, em que as personagens se relacionam e revelam ao longo de muita conversa de circunstância (muitas vezes, à mesa e com bastantes copos à mistura) e não pela acção e pelos comportamentos, e idiossincrasias formais várias (mais em “Lá em Cima”, cheio de saltos temporais quase imperceptíveis, do que em “A Romancista e o Seu Filme”). Este duo de fitas será um deleite para os membros do “Clube Hong Sangsoo”, e quase tão entediante como ver uma parede recém-pintada a secar para os restantes—- entre os quais me incluo.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

“Mistério em Veneza”

Pela terceira vez, após “Um Crime no Expresso do Oriente” e “Morte no Nilo”, Kenneth Branagh regressa à pele de Hercule Poirot neste filme inspirado no livro “A Festa das Bruxas”, que se passa numa sumptuosa casa situada na Inglaterra rural, e de cujo enredo o actor e realizador e o argumentista Michael Green conservaram apenas o ter lugar durante o Halloween, ou Dia das Bruxas. Poirot está reformado e mora em Veneza, onde recebe a visita da sua amiga Ariadne Oliver, que o convida para uma festa de Dia das Bruxas, seguida de uma sessão espírita, no “palazzo” de uma famosa cantora de ópera cuja filha se suicidou após o noivo ter rompido com ela, atirando-se de uma varanda para um canal. “Mistério em Veneza” foi escolhido como filme da semana pelo Observador e pode ler a crítica aqui.