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“A Rapariga da Cabana”: uma lição intensiva sobre como fazer um thriller

Este artigo tem mais de 6 meses

Raptos, mortes, fugas, adrenalina, suspense, muitas perguntas e o dobro das teorias. São seis episódios que nos tiram o fôlego. Isso e um nome para decorar: Naila Schuberth. Para ver na Netflix.

"A Rapariga da Cabana" é uma história de crianças em cativeiro durante anos e de um caminho turtuoso com o objetivo de as encontrar
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"A Rapariga da Cabana" é uma história de crianças em cativeiro durante anos e de um caminho turtuoso com o objetivo de as encontrar

"A Rapariga da Cabana" é uma história de crianças em cativeiro durante anos e de um caminho turtuoso com o objetivo de as encontrar

Como é que temos a certeza de que um thriller é mesmo bom?

a) Acabamos vários episódios de boca aberta;
b) temos 50 perguntas e 150 teorias como resposta;
c) quando finalmente sabemos alguma coisa, a história muda no minuto seguinte e afinal não sabemos nada do que parecia que sabíamos no episódio anterior, sabem?;
d) todas as peças acabam por se encaixar na perfeição mas o nosso cérebro continua a digerir a informação muito depois dos créditos finais.

A Rapariga da Cabana chegou discreta, vinda da Alemanha, mas em poucos dias instalou-se no primeiro lugar do top das séries mais vistas da Netflix e é assim que continua em mais de 50 países, segundo o site FlixPatrol, que monitoriza as tabelas dos streamings em mais de 150 territórios.

O fenómeno desta série de seis episódios é mais do que justificado. Baseado no livro de Romy Hausmann, este é o melhor thriller psicológico dos últimos tempos. Está dito. Assim, sem medos. E o maior problema é que não posso revelar assim tantos detalhes que corroboram esta afirmação. Escrever este texto é mais ao menos como caminhar sobre um campo de minas. A comparação faz sentido porque há, de facto, um campo de minas que interfere na história mas isto é basicamente o máximo que posso contar. Havia tanta coisa para dizer, mas se acrescento uma palavra, corro o risco de dar um passo em falso e de fazer explodir detalhes importantes que só devem ser descobertos à medida que os episódios vão sendo consumidos.

Comecemos pelo elementar: a história. Uma mulher em fuga é atropelada e fica gravemente ferida. A acompanhá-la na ambulância segue uma criança, aparentemente sem qualquer ferimento. Não têm identificação, a miúda diz que a mãe tem um tipo de sangue que não corresponde à realidade e tem um comportamento invulgar na presença de adultos. Sempre que alguém entra na sala, mostra de imediato as palmas e as costas das mãos, garantindo que não tem nada escondido. É intolerante à luz do sol, fala da mãe, do pai e do irmão mas desenha a família feliz numa casa com barras de ferro nas janelas e na porta. Os alarmes começam a soar, sobretudo quando parece haver semelhanças entre a mulher que continua inconsciente e uma jovem desaparecida há 13 anos.

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[o trailer de “A Rapariga da Cabana”:]

Não é spoiler dizer que a mulher (Kim Riedle) e a criança, Hannah (Naila Schuberth), vivem em cativeiro há anos, privadas de liberdade e do contacto com outras pessoas. Percebemos isso logo no início do primeiro episódio, onde também surge o agressor, embora a sua identidade esteja longe de ser revelada. Porém, a partir daqui tudo o que vamos descobrindo é chocante e avassalador mas, melhor do que isso, nunca pode ser tomado como verdade absoluta à partida. As perguntas surgem e, quando parece que a narrativa nos dá a resposta, a série tira-nos o tapete logo a seguir e redireciona-nos para outro caminho. Estamos num labirinto e nunca sabemos se, depois da próxima curva, há mais uma volta ou a saída. E isso transporta A Rapariga na Cabana numa tensão e suspense constantes, cujo ritmo raramente abranda. A história agarra o espectador de tal forma que até uma vontade repentina de ir à casa de banho terá de esperar — não há permissão para pausas antes do final do episódio.

O primeiro capítulo apresenta-nos os vários núcleos que protagonizam este mistério. A mãe e a criança, por um lado; Aida Kurt (Haley Louise Jones), a detetive responsável pelo caso atual, e Gerd Bühling (Hans Low), o detetive que investigou o desaparecimento há mais de uma década; e os pais de Lena, a jovem desaparecida, que agora renascem com a ínfima esperança de terem recuperado a filha — claro que, para estes, nada será assim tão simples. As personagens vão tomando rumos distintos: algumas parecem culpadas e depois não são, outras parecem irrelevantes e depois não são. Tudo acaba por fazer sentido mas, se é que podemos apontar algum defeito, é uma pena que Aida Kurt vá perdendo relevância à medida que os episódios avançam, deixando-se ultrapassar por Gerd, que tem ligações pessoais ao caso e nem sempre tem o discernimento correto.

Há muitos thrillers por aí, mas muito poucos que consigam fazer um percurso quase perfeito, como é o caso desta produção da Netflix

Em contrapartida, a estrela é Naila Schuberth (é provável que a reconheçam de Bird Box: Barcelona). É ela que interpreta a miúda de 12 anos, Hannah, da forma mais inocente e complexa que pode existir — aqui, estes conceitos estão sempre de mãos dadas. Fala de forma rápida quando apresenta factos de cultura geral (como os metros da Torre Eiffel e uma data de características complexas) que nenhuma criança daquela idade sabe. Tem uma inteligência e capacidade de absorção acima da média — até porque as regras, como ela refere várias vezes, são a coisa mais importante e comandam tudo o resto. Ao mesmo tempo, relata factos assustadores da vida isolada como se fossem as coisas mais normais do mundo. Porque, de facto, para ela são. Hannah não conhece outra realidade, não tem sequer termo de comparação. O pai (ou aquilo que ela conhece como figura paterna) é a autoridade e tudo o que ele diz ou manda fazer é lei. Isto leva-a a ter comportamentos algo assustadores e a dizer coisas que nos dão a volta ao estômago. Para nós pode ser claramente uma lavagem cerebral, para ela é a única vida que conhece. Isto faz-nos pensar no que será a adaptação à vida normal (aquela que nós conhecemos, com escola, vizinhos, ar puro, televisão, etc). Esta questão é bem explorada na figura da mãe, quando esta sai do hospital e vai para casa. Mas que casa? Que vida? Com que traumas na cabeça? E no corpo?

O mais arrepiante é que nada disto é pura ficção:

  • Josef Fritzl, o “monstro de Amstetten”, manteve a filha presa na cave durante 24 anos, teve seis filhos com ela;
  • Ariel Castro manteve três jovens presas na própria casa durante 11 anos;
  • Natascha Kampush, raptada e privada de liberdade durante mais de oito anos.

A lista é bem mais longa do que isto e a ficção, por mais que seja entretenimento, também nos transporta para estes relatos reais com pormenores mais doentios do que qualquer obra de terror. Estas mulheres fugiram, sobreviveram, mas que tipo de vida terão hoje? A prisão pode não ser só física. Kim Riedle explica tudo isso (ou pelo menos levanta o véu de uma realidade incompreensível) através da sua interpretação.

A Rapariga da Cabana faz lembrar Quarto (o impactante filme de 2015 que deu o Óscar de Melhor Atriz a Brie Larson e revelou um mini talento chamado Jacob Tremblay). As reviravoltas também têm inspirações de filmes como Em Parte Incerta ou Não Digas a Ninguém mas a série alemã não se cola a nenhum conteúdo. Tem uma ideia inicial clara, usa elementos que funcionam neste tipo de thrillers e é muito inteligente quanto às pontas que vai deixando soltas. São como sementes, que no momento certo nos indicam o caminho para a verdade.

Há muitos thrillers por aí, mas muito poucos que consigam fazer um percurso quase perfeito, como é o caso desta produção da Netflix. Se tem seis horas para gastar, é neste conteúdo. Se não tem, o melhor é arranjar rapidamente para não passar ao lado do melhor e mais viciante thriller dos últimos tempos.

 
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