“Estranha Forma de Vida”

Pedro Almodóvar subverte o “western”, e a masculinidade e virilidade que lhe estão associadas, nesta curta-metragem em que Ethan Hawke e Pedro Pascal interpretam dois “cowboys” que foram amantes na juventude, quando eram pistoleiros. Agora, 25 anos mais tarde, voltam a ver-se, porque o primeiro é xerife e vai prender o filho do segundo por assassínio. Numa entrevista complementar ao filme, Almodóvar explica a sua génese, o título anacrónico (o famoso fado de Amália é cantado na fita por Caetano Veloso, e o realizador mostra que não percebeu o seu significado), a sua intenção de introduzir o “desejo masculino” num género cinematográfico completamente alheio ao tema (resulta mal, porque Hawke e Pascal não são nada convincentes) e conta como seria o resto da história se Estranha Forma de Vida fosse uma longa-metragem, revelando assim que o filme seria bem mais interessante do que neste formato curto. Mas trata-se, basicamente, da ilustração de um fantasma sexual gay.

A Sibila

Agustina Bessa-Luís não é a mais cinematográfica das escritoras, nem tinha muito a noção do que era escrever para cinema (ver essa estopada palavrosa que é Party, de Manoel de Oliveira). Esta adaptação de A Sibila, talvez o romance mais conhecido e lido de Agustina, vem assinada por Eduardo Brito, a sua primeira longa-metragem após algumas curtas. É um filme correto mas que parece muito constrangido — espartilhado, mesmo — pelo livro (de que a própria autora é uma das personagens), pelo seu peso “institucional” e pela sua reputação junto dos apreciadores da escritora, da crítica e do mundo universitário, como se o realizador temesse dar um passo que seja em falso ou tomar qualquer liberdade mais ousada em relação à obra. A narradora omnisciente, que não pára de explicar a ação, as personagens e as suas motivações e relações, faz com que o peso “literário” de A Sibila seja maior, mais significativo e omnipresente do que o elemento propriamente cinematográfico e a palavra tenda a se sobrepor à imagem.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

“Os Três Mosqueteiros: D’Artagnan”

Martin Bourboulon, o realizador de Eiffel, assina esta nova adaptação do clássico de capa e espada de Alexandre Dumas, que terá uma continuação, Os Três Mosqueteiros: Milady. François Civil personifica D’Artagnan, acompanhado de Vincent Cassel, Romain Duris e Pio Marmai nos mosqueteiros do rei Luis XIII. Os argumentistas Matthieu Delaporte e Alexandre de la Patellière mexem, desnecessariamente, no enredo do livro de Dumas, inventando novas peripécias, baralhando alguns elementos do enredo, mudando a caracterização de algumas das personagens e dispensando outras, caso de Planchet, o fiel criado de D’Artagnan. O elenco do filme inclui ainda nomes como Louis Garrel no monarca francês, Eva Green como Milady de Windsor ou Lina Khoudry no papel de Constance de Bonacieux. “Os Três Mosqueteiros: D’Artagnan” foi escolhido pelo Observador como filme da semana e pode ler a crítica aqui.