Parecia que estava escrito. Puxando agora a fita atrás, quando Marc Guiu entrou com aquela passada meio envergonhada enquanto ia agarrando as mangas da camisola, o primeiro cumprimento que recebeu foi logo o de João Félix, avançado que se estava a cotar como o melhor de um Barcelona que fazia tudo menos golos. Sem o lesionado Robert Lewandowski, Xavi Hernández tinha apostado no português com Ferran Torres e Fermín López no ataque apoiados por Gavi e Gündogan, tinha depois lançado Yamine Lamal mas a baliza de Unai Simón continuava em branco. João Félix tinha acertado na trave e rematado por cima, Fermín López não conseguiu superar o guarda-redes, João Cancelo sofreu com o mesmo obstáculo, Lamine Yamal atirou ao lado sozinho. Nada parecia desfazer o nulo até que tudo mudou com um estreante apenas em 30 segundos.

Félix voltou a ser a água de uma cantera com sede de vitória: Barça bate Athl. Bilbao com estreia a marcar de Marc Guiu

O avançado formado nos catalães não tinha sequer tocado na bola ainda quando foi lançado por João Félix para um momento que ficará para a sua história: fez a diagonal para ir receber a bola nas costas dos centrais contrários, recebeu de forma orientada com o pé esquerdo, rematou em desequilíbrio de pé direito com Unai Simón ainda a tocar mas sem conseguir desviar da direção da baliza e fez o 1-0 com que o Barça bateu o Athl. Bilbao em vésperas de clássico com o Real, ficando a um ponto dos merengues. Com a família nas bancadas em lágrimas com o feito alcançado, Guiu foi muito saudado por todos os companheiros entre uma mensagem especial em jeito de “promessa” de João Cancelo: “Vais ter de pagar um jantar no McDonald’s”.

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No Barça desde 2013, altura em que foi recrutado pelo destaque que estava a ganhar na Peña de Sant Celoni com sete anos, Marc Guiu foi fazendo toda a trajetória de formação nos blaugrana, sendo um jogador que andou sempre nos radares mais altos por ter características invulgares dentro do jogador tipo que costuma ser produzido em La Masia: é rápido, tem potência no arranque, remata bem e sente-se confortável com a posição assumida de ‘9’, até pela estatura que tem (1,87m). Agora, depois de ter começado a temporada nos juniores e ter merecido uma oportunidade na equipa B, subiu ao conjunto principal e parece ter vindo para ficar, tendo em conta o elevado número de lesões que afetam nesta altura a formação de Xavi.

“Sonhei muitas vezes com este momento, muitas noites e em muitos momentos. Estou bem, estou mesmo muito feliz. Golo? Vi o João Félix a controlar a bola muito sozinho, havia espaço nas costas dos centrais e colocou-me com toda a qualidade que tem para enfrentar o Unai Simón e tornar tudo realidade. Foi uma ação muito rápida em que quase não pensei, foi tudo intuição. Na cantera estamos todos preparados para este tipo de momentos, quando subimos à equipa A vamos com tudo. Todos os meus companheiros ajudaram muito, davam-me os parabéns e diziam que não ia conseguir dormir… O que me disse Xavi? Para entrar com tudo, para pressionar e que para aproveitar a oportunidade que ia ter”, referiu no final do jogo.

Este foi já o 13.º jogador da formação lançado por Xavi Hernández, também ele um produto de La Masia. Em alguns casos existem elementos que até acabaram entretanto por sair do clube mas, desde que assumiu o comando técnico dos catalães, o antigo médio deu oportunidade a Ilias Akhomach, Ferran Jutglà, Estanis Pedrola, Álvaro Sanz, Mika Mármol, Iñaki Peña, Marc Casadó, Chadi Riad, Ángel Alarcón, Aleix Garrido, Lamine Yamal, Fermín López e agora Marc Guiu. Os três últimos foram lançados no encontro com o Athl. Bilbao de início ou a partir do banco, sendo que entre os suplentes havia mais canteranos. E há ainda uma ligação curiosa do técnico com Guiu, que conheceu ainda em 2016 no seu Campus Xavi que costuma organizar há mais de uma década e onde o jogador marcou presença quando já estava no Barça (Guiu exibe também com visível orgulho nas redes sociais uma fotografia com Lionel Messi quando tinha nove anos).

A mais recente pérola do Barcelona é também visto como o avançado de futuro por Deco, ex-internacional português que assumiu durante a temporada o cargo de diretor desportivo do clube. No caso do dirigente, o “encanto” chegou sobretudo na última fase final do Campeonato da Europa Sub-17, onde Marc Guiu foi um dos grandes destaques de Espanha apesar da derrota nas meias-finais com a França. Curiosidades? O ‘9’ que utiliza o número 38 e que já tinha jogado pela equipa A dos culé num encontro particular de homenagem a Andrés Iniesta no Japão não estava na lista de inscritos da Liga dos Campeões (o Barça joga na quarta-feira com o Shakhtar) e tem nesta fase um contrato até 2025 a receber apenas 60.000 euros brutos anuais.