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Tudo mudou e Frasier está na mesma. Isso é bom, mas também pode ser mau

Este artigo tem mais de 6 meses

Outra cidade, profissão diferente e novas personagens. Neste regresso (que passa na SkyShowtime) Frasier é o de sempre. Resta saber se isso basta para querermos ser os mesmos com ele.

O próprio tom geral das piadas, nesta sitcom mais uma vez protagonizada por Kelsey Grammer está cristalizado nos anos 90, com pouca subtileza e diálogos muito explicadinhos
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O próprio tom geral das piadas, nesta sitcom mais uma vez protagonizada por Kelsey Grammer está cristalizado nos anos 90, com pouca subtileza e diálogos muito explicadinhos

O próprio tom geral das piadas, nesta sitcom mais uma vez protagonizada por Kelsey Grammer está cristalizado nos anos 90, com pouca subtileza e diálogos muito explicadinhos

O chamado “mercado da nostalgia” é um maná para quem gere marcas e conteúdos. Paira em todas as gerações (mesmo nas mais novas) um constante saudosismo do que viram, foram e fizeram há uns anos, geralmente rematado com um sentido e suspirado “porque antes era diferente, percebes?” — e por este “diferente” subentende-se “melhor”, mesmo que na verdade o Bollycao nunca tenha sido assim tão saboroso. A televisão não escapa a isso, como os últimos anos bem ilustram.

Assim de repente, regressaram, mesmo que com roupagens ligeiramente diferentes, Sexo e a Cidade (agora chamado And Just Like That), Fresh Prince Of Bel Air (que deixou de ser uma sitcom para ser o drama Bel Air) e, por cá, até os Morangos Com Açúcar (que já não são uma telenovela diária, mas sim uma série de apenas 10 episódios com a Amazon ao barulho). Chegou agora a vez de Frasier, que se estreia na sexta-feira dia 3 de novembro na SkyShowtime. A maior diferença do regresso do psiquiatra em relação ao naipe acima mencionado? Frasier não mudou nada desde os anos 90. Se isso é bom ou mau? Bom, como dizia o mítico status de relações no Facebook, “it’s complicated”.

[o trailer de “Frasier”:]

Frasier, o original que durou 11 temporadas entre 1993 e 2004, é uma das sitcoms mais premiadas e relevantes do seu tempo. Começa logo por fazer história ao ser uma derivação (ou um spin off) de uma série muito aclamada, mas conseguir a raridade de se tornar num sucesso ainda maior. Quando “Friends” — talvez a sitcom mais famosa de sempre — acabou, Joey durou uns modestos 46 episódios que não deixaram boa (se é que alguma) memória. Já Frasier durou 262 episódios, ainda mais do que a tal série que lhe deu origem — passava-se num bar, chamava-se Cheers e ainda hoje é um ex-libris da cidade de Boston e uma música de genérico cantarolada de memória por quem tem mais de 40 anos. Nessa primeira vida, Dr. Crane é um psiquiatra que se apaixona por uma das funcionárias do bar, apenas para esta o deixar no altar. Era aqui absolutamente secundário, mais um dos clientes que passavam demasiado tempo a pedir bebidas ao balcão.

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Quando em 1993 ascendeu ao panteão de protagonistas, Frasier Crane teve de se tornar mais complexo — mas não demasiado, porque a década de 90 ainda apelava muito ao estereotipo nas personagens humorística sem muitas camadas a complicar. Aqui, fez-se um intelectual cliché. Na série mudou-se de Boston para a sua cidade natal de Seattle, tornou-se famoso a dar conselhos num programa de rádio (famoso e rico — como é que alguém fica tão rico a fazer rádio local é um mistério para mim), deu guarida a um pai polícia reformado (Martin) que era o seu oposto em tudo. A isto juntou-se uma empregada pispineta (Daphne) e um irmão (Neils) ainda mais snob do que o próprio protagonista. As narrativas eram relativamente simples, muito baseadas nas dinâmicas entre personagens. No fim, o irmão fica com a empregada, o pai casa-se de novo e Frasier é convidado para ter um programa de televisão, mas aparentemente desiste para rumar até Chicago para reatar a sua relação com a burlã Charlotte.

Em 2023, a história é outra. Essencialmente, porque nenhuma das anteriores personagens do universo regressa. O ator que fazia de Martin morreu, o que fazia de Neils recusou-se a voltar ao papel. Daí que Frasier volta à casa de partida: Boston, a cidade de Cheers. Desta vez, para dar aulas em Harvard (desistiu do programa de televisão de sucesso que apresentava, uma espécie de Dr. Phil) e tentar reatar com o filho, Fred, que é bombeiro, depois de ter desistido da mesma licenciatura que o pai. Fred é filho da fria e cínica Lilith Sternin (Bebe Neuwirth) com quem Frasier casa e tem este filho durante Cheers, para que ambos se divorciem ainda antes da ação de Frasier.

Frasier está igual a si mesmo, o vaidoso com um coração de ouro e uma carteira recheada. Nunca há muito em causa, os problemas resolvem-se com tal facilidade que mal há conflito

Então mas se tanto mudou (cidade, personagens, profissão), estará Frasier muito diferente do que nos lembramos dele? Não, está rigorosamente na mesma. Fred tem um feitio quase igual a Martin; Neils é substituído pelo seu filho-fotocópia David; até Daphne está de algum modo representada na colega de casa de Fred, a empregada de mesa Eve e no colega de Harvard Alan (aqui representado por Nicholas Lyndhurst, mítica figura do humor britânico de Only Fools And Horses). É como te todos tivessem sido substituídos pela sua versão recauchutada e quase sempre millennial.

Frasier está igual a si mesmo, o vaidoso com um coração de ouro e uma carteira recheada. Nunca há muito em causa, os problemas resolvem-se com tal facilidade que mal há conflito. E o próprio tom geral das piadas está cristalizado nos anos 90, com pouca subtileza e diálogos muito explicadinhos (na primeira cena, no aeroporto de Boston, Frasier relata a Alan, que o foi buscar, exatamente tudo o que se passou no gap entre séries). Frasier é ainda aquilo a que os americanos chamam “filmed in front of a live studio audience” (ou seja, filmado perante uma plateia), um modo de fazer sitcoms antigo e já pouco usado, com risos mais ou menos forçados a avisarem-nos quando foi dita uma piada, de um modo que em 2023 cheira a mofo sem ter dado ainda a volta para o vintage.

A questão aqui é que Frasier seria preso por ter cão e preso por não ter. Bel Air mudou tanto que se tornou irrelevante; And Just Like That é achincalhado por ceder demasiado ao woke contemporâneo; até os Morangos Com Açúcar ouvem bocas por agora terem atores a sério e não canastrões. Se Frasier tivesse ido pelo mesmo caminho, o mais provável é que os fãs se queixassem. Assim, parece só que alguém encontrou o DVD perdido com a temporada 12, num 2023 que podia ser 1997 sem problema algum. Murphy Brown tentou o mesmo caminho em 2018, num comeback que ninguém viu e só durou uma temporada. No caso de Frasier, resta saber se ainda há quem tenha gula pelo sabor de sempre deste bollycao.

 
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