Nova Zelândia e África do Sul fazem parte do imaginário do râguebi. São as duas equipas que representam o pináculo da modalidade. Na final do Mundial 2023, disputada no Stade de France, as seleções mais consagradas estavam frente a frente (e há poucos desportos em que esta expressão possa ser aplicada à letra).

Os dois países detinham, à entrada para a final, seis títulos, três para cada lado. Para a história ficou a icónica final de 1995, até aqui a única vez que Nova Zelândia e África do Sul se tinham encontrado no jogo decisivo da competição. Desta vez, as duas potências superaram as expectativas que baixaram quando ambas terminaram no segundo lugar na fase de grupos, perdendo terreno para outras equipas que podiam parecer melhor colocadas para ganhar a competição.

Logo nos quartos de final, a Nova Zelândia teve a difícil tarefa de eliminar a Irlanda. A África do Sul retirou a França, equipa da casa, da competição. Nas meias-finais, os neozelandeses tiveram a tarefa facilitada ao defrontarem a Argentina. O mesmo não podem dizer os sul-africanos, que só nos últimos instantes derrotaram a Inglaterra, terceira classificada deste Mundial.

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Era então um jogo de alta tensão que ia definir a seleção com mais títulos até à data. A Nova Zelândia começou logo por errar, com Shannon Frizell a realizar um contacto ilegal com Mbongeni Mbonambi e vendo o cartão amarelo que deixava a equipa em inferioridade durante dez minutos. O talonador da África do Sul teve que deixar o campo devido a lesão. Handre Pollard aproveitou para colocar os primeiros pontos no marcador.

Más notícias esperavam a Nova Zelândia. Sam Cane acertou com o ombro na cara de Jesse Kriel. Inicialmente, o asa viu amarelo, mas acabou por ser expulso do encontro após a revisão do video-árbitro. Curiosamente, com um homem a menos, a Nova Zelândia esteve perto do primeiro ensaio do jogo, mas Kurt-Lee Arendse travou Rieko Ione no limite. No entanto, os neozelandeses estavam a jogar uma situação de vantagem devido a um fora de jogo de Eben Etzebeth. Por isso, Richie Mo’unga ainda teve oportunidade de colocar mais pontos no marcador, reduzindo a desvantagem para 6-12.

Ainda sem ensaios, o jogo ia sendo decidido nos detalhes. O capitão Siya Kolisi também errou uma placagem, logo no início da segunda parte, e deixava o jogo em igualdade numérica, situação que a Nova Zelândia não podia desperdiçar. Faltavam apenas dois minutos para os Springboks voltarem a ter superioridade numérica. Richie Mo’unga realizou uma grande arrancada, oferecendo o offload em Aaron Smith, porém, o ensaio foi anulado por uma falta no alinhamento que iniciou o lance.

Quando Siya Kolisi regressou, a Nova Zelândia estava instalada no ataque e Beauden Barrett conseguiu chegar à linha de validação após um grande esforço de Mark Tele’a. Richie Mo’unga podia ter dado a vantagem no encontro aos neozelandeses, mas falhou a conversão.

As decisões arrastavam-se para a fase em que era raro o jogador que não tivesse um corte no rosto. Kurt-Lee Arendse tinha estado em destaque na defesa e esteve à beira do ensaio, mas largou a bola a milímetros da área de validação para desespero do ponta sul-africano.

A Nova Zelândia continuava a precisar de anular um ponto de desvantagem. Cheslin Kolbe cortou intencionalmente o ataque dos All Blacks em fora de jogo. O que significava que os oito minutos finais iam ser disputados catorze contra catorze. Jordie Barrett falhou a penalidade correspondente, deixando os neozelandeses a lamentaram-se dos chutos errados porque, no fim (11-12), a África do Sul foi mesmo campeã do mundo, vencendo o quarto título e tornando-se na seleção que mais vezes ganhou a competição.