Sérgio Conceição utilizou a tática de muitos apostadores. O treinador do FC Porto fez uma previsão quanto ao futuro do Estoril, ao estilo de um comentador desportivo, sabendo que uma vitória dos azuis e brancos diante do emblema canarinho ia contribuir para que o cenário que vaticinou não se concretizasse. De qualquer modo, o técnico ia sair contente, porque acabaria por ganhar de algum dos lados: ou se cumpria o prognóstico ou o FC Porto igualava, à condição, o Sporting na liderança do campeonato.

“O último lugar do Estoril não reflete aquilo que é a qualidade individual e coletiva”, opinou Sérgio Conceição na antevisão ao jogo contra o último classificado da Primeira Liga. “Esta equipa vai ficar no meio da tabela para cima, acredito que o Estoril é mais do que a tabela reflete neste momento”. O técnico tinha dados que o justificavam. A equipa da Linha, mesmo no fundo da tabela, visitava o Estádio do Dragão com mais golos marcados no campeonato (14) do que o FC Porto (13), ou seja, o lado defensivo tem sido o principal problema do plantel agora às ordens de Vasco Seabra. “Se olharmos para a tabela, vai ser um. jogo, teoricamente, fácil. Na minha opinião, naquilo que vai ser o jogo em si, vai ser um jogo difícil”.

Por ironia, o FC Porto começou o jogo com o maior teste de probabilidades que existe no futebol. Uma grande penalidade de Volnei sobre Eustáquio levou Taremi para a marca dos 11 metros. O guarda-redes do Estoril, Marcelo Carné, usou as ínfimas possibilidades que tinha para travar as pretensões do iraniano e manteve o nulo, evitando que os canarinhos ficassem numa situação de desvantagem cedo no encontro. De qualquer modo, o Estoril sacudiu desde logo um dos tabus do início de época, as bolas paradas.

Vasco Seabra é o segundo treinador do Estoril esta temporada. O técnico de 40 anos, que rendeu Álvaro Pacheco, avançava para o sexto jogo no comando da equipa e ainda procurava a primeira vitória no campeonato. “É um momento em que estamos em desenvolvimento, em que estamos a construir cada vez melhor a nossa base de ataque à bola e a nossa forma de termos também os nossos apoios para que possamos estar mais estáveis no momento de atacar a bola com mais efetividade. Desde que estou cá, penso que sofremos seis golos e acredito que foram quatro de bola parada, de livre e de penálti. Portanto, sentimos que em jogo corrido a equipa tem vindo a estancar o número de oportunidades que concede”, explicou o técnico.

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O FC Porto tinha por obrigação estar oleado, pois Sérgio Conceição não fez qualquer mudança no onze inicial que venceu o Vizela (0-2), dando de novo a possibilidade a Jorge Sánchez e a Francisco Conceição de serem titulares e constituírem a ala direita. João Mário, que o treinador azul e branco elogiou pela versatilidade, encostou-se ao flanco esquerdo. Vasco Seabra mudou duas peças em relação à derrota com o Portimonense (1-0). Mateus Fernandes, jogador emprestado pelo Sporting, ocupou o meio-campo ao lado de Holsgrove no 3x4x3 estorilista. João Marques, internacional português sub-21, ocupou a vaga de Heriberto no ataque, tornando-se, tal como Guitane, num terceiro médio em várias situações.

Ficha de Jogo

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FC Porto-Estoril, 0-1

10.ª jornada da Primeira Liga

Estádio do Dragão, no Porto

Árbitro: Tiago Martins (AF Lisboa)

FC Porto: Diogo Costa, Jorge Sánchez (Gonçalo Borges, 64′), Pepe, David Carmo, João Mário, Alan Varela (Nico González, 64′), Eustáquio, Francisco Conceição (André Franco, 82′), Pepê, Evanilson (Danny Namaso, 82′) e Taremi (Toni Martínez, 64′)

Suplentes não utilizados: Cláudio Ramos, Fábio Cardoso, Grujic e João Mendes

Treinador: Sérgio Conceição

Estoril: Marcelo Carné, Rodrigo Gomes, Bernardo Vital, Volnei, Pedro Álvaro, Tiago Araújo (Wagner Pina, 79′), Holsgrove, Mateus Fernandes (Mor Ndiaye, 82′), Guitane (João Carlos, 82′), João Marques (Heriberto Tavares, 61′) e Alejandro Marqués (Cassiano, 61′)

Suplentes não utilizados: Daniel Figueira, Raúl Parra, Alex Soares e Koindredi

Treinador: Vasco Seabra

Golo: Holsgrove (75′)

Ação disciplinar: cartão amarelo a Volnei (10′), Eustáquio (29′), Francisco Conceição (31′), Mateus Fernandes (35′), João Marques (39′), Bernardo Vital (45+1′), Pedro Álvaro (55′), Tiago Araújo (56′), Nico González (70′), David Carmo (74′) e Toni Martínez (78′)

Francisco Conceição fazia all-in junto ao corredor, sendo que Jorge Sánchez preferia subir por zonas interiores, sendo muitas vezes o joker que o FC Porto usou para sair para o ataque. Taremi procurava ganhar confiança descaindo para as laterais, sobretudo a esquerda. Pepê ficava assim com caminho aberto para fazer movimentos interiores, sendo que Evanilson se dedicava a fixar os três centrais adversários, Volnei, Pedro Álvaro e Bernardo Vital.

Era acima de tudo pelo lado direito que o ataque portista se desenvolvia. Situação semelhante acontecia com o Estoril. Guitane conseguiu rodar várias vezes entre linhas e encarar de frente a defesa dos dragões. Foi assim que, em múltiplas ocasiões, o Estoril se aproximou da área em lances que os azuis e brancos iam resolvendo no limite, tal era a incapacidade de travar cedo a saída de bola a partir de trás dos jogadores de Vasco Seabra.

O árbitro do encontro, Tiago Martins, estava a mostrar amarelos com relativa facilidade, mas muitos deles eram forçados por Francisco Conceição, travado em falta pelos defesas que não tinham capacidade para o pararem de outra forma. O extremo esteve sempre ligado à corrente até lhe faltarem as pilhas. Quando o jogador de 20 anos colapsou, Sérgio Conceição já tinha operado três alterações. Pepê recuou para lateral, Toni Martínez rendeu Taremi na frente e Nico González refrescou o meio-campo. De nada valeu.

O efeito das substituições ainda não se tinha feito notar e Guitane, o melhor em campo do lado do Estoril, arrancava o que o árbitro pensou ser uma grande penalidade. Com o auxílio do VAR, chegou-se à conclusão de que a falta de David Carmo sobre o extremo francês tinha sido fora da área. No entanto, para Holsgrove (75′), um livre daquela zona vale o mesmo que um penálti. O médio escocês cobrou a bola parada e bateu Diogo Costa.

O FC Porto foi em busca de, pelo menos, empatar. Ainda assim, o Estoril, que demonstrou confiança desde o início do jogo, ficou ainda mais sereno e não permitiu aproximações perigosas nos minutos finais, controlando o jogo defensivamente (0-1). A equipa da Linha somou no Dragão a segunda vitória no campeonato e saiu, por agora, da zona de despromoção. Os dragões ficam na expectativa para perceberem o que o Benfica vai fazer em Chaves e o Sporting em Alvalade, contra o Estrela da Amadora, enquanto faz contas aos prejuízos que pode ter na luta pela liderança.