Os médicos de saúde pública admitem que o frio e as infeções respiratórias podem ter um papel importante no aumento da mortalidade registado esta semana e chamam a atenção para a cobertura vacinal da gripe, que consideram abaixo do desejável.
Em declarações à agência Lusa, o presidente da Associação Nacional dos Médicos de Saúde Pública (ANMSP), Gustavo Tato Borges, apesar de assinalar que é difícil analisar dados “em cima do acontecimento”, reconheceu que o aumento das infeções respiratórias, com as temperaturas mais frias que se fazem sentir, podem levar a um aumento da mortalidade.
“Tudo isso pode levar a um aumento da mortalidade, sendo que nos últimos sete dias, de acordo com os dados do SICO, estamos com 325 óbitos em excesso”, afirmou o responsável, salvaguardando que “pode ser desta vaga de frio, ou da gripe que está a assolar o país, como podem ser outras questões”.
Infeções respiratórias fazem aumentar mortalidade esta semana
Segundo os dados do Sistema de Informação dos Certificados de Óbito (SICO), a mortalidade em Portugal registou um pico desde o passado fim de semana e o dia de Natal deste ano (440 óbitos) foi aquele em que mais pessoas morreram nos últimos 10 anos.
Os dados indicam ainda que, na quinta-feira, a mortalidade foi “muito acima do esperado”. Morreram 448 pessoas, um valor que não era alcançado para o mesmo dia desde o primeiro ano da pandemia em Portugal (2020), quando no dia 28 de dezembro se registaram 453 óbitos.
A informação disponível no site do SICO indica ainda que nos últimos sete dias se registaram 325 óbitos em excesso.
Tato Borges apontou igualmente a fragilidade da saúde da população, “idosa e com várias morbilidades”, destacando a mortalidade em excesso acima dos 70 anos.
“Vemos efetivamente um aumento de óbitos na população mais vulnerável e que tem mais risco de desenvolver doença grave associada a estas infeções respiratórias no Inverno associadas ao frio”, considerou o responsável, acrescentando: “também temos um parque habitacional que, infelizmente, não tem a qualidade necessária”.
Sobre a proteção desta população dada pelas vacinas, Tato Borges considerou que a cobertura vacinal este ano está “abaixo do ideal”, podendo não ser suficiente para proteger a população.
“Precisávamos que houvesse mais adesão à vacina da gripe”, considerou.
Segundo os últimos dados da Direção Geral de Saúde, a cobertura vacinal contra a gripe nas pessoas com 60 ou mais anos é de 61,87%.
Os casos de gripe têm colocado pressão nas urgências dos hospitais, sobretudo na região de Lisboa, onde esta semana já se verificaram tempos de espera para doentes urgentes a rondar as 18 horas.
Média de espera para doentes urgentes entre as quatro e as três horas na região de Lisboa
Para responder ao pico de procura, também a Linha SNS 24, que recebeu 204 mil chamadas em dezembro, vai abrir dois novos centros de atendimento.
Segundo os Serviços Partilhados do Ministério da Saúde (SPMS), a Linha SNS 24 recebeu mais de 204 mil chamadas este mês, sendo que só no dia 26 foram atendidas mais de 9.500 chamadas (mais 4.000 do que no dia anterior) e no dia 27 cerca de 10.200.
Para fazer face a um previsível aumento da afluência nesta época festiva, as autoridades mantiveram a funcionar com horário complementar centenas de centros de saúde no fim de semana e no dia de Natal, medida que vai repetir-se na passagem do ano.