Era uma noite de massa de ar gelado da Escandinávia, fenómeno que saltava do boletim meteorológico para o Estádio António Coimbra da Mota em forma de casacos volumosos para quem se sentou no banco de suplentes e muitas camisolas compridas. O que acontece nestas situações é que os pés incham nas chuteiras que recebem a bola como se de uma desconhecida se tratasse. Estas eram as condições para a generalidades das pessoas, mas para Evanilson era como se estivesse a jogar futvólei nas areias de Copacabana, porque aquele domínio de peito ao passe longo de Pepe, que antecedeu o momento em que fuzilou a baliza adversária, não se aprende a jogar na neve da Serra da Estrela.

Foi o calmante perfeito já que, até aos 24 minutos dos oitavos de final da Taça de Portugal, contra o Estoril, o FC Porto teve alguns sustos, quase todos vindos do corredor direito onde as subidas de Wagner Pina incomodavam a equipa azul e branca. No entanto, foi o extremo que atuou nesse mesmo flanco, Heriberto, que forçou Diogo Costa a ir ao chão para impedir que a equipa da Linha se adiantasse. Não foi a única vez que os jogadores de Vasco Seabra chegaram à frente no arranque, mas foi aquela que serviu de maior alerta para a defesa do conjunto de Sérgio Conceição.

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Ficha de Jogo

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Estoril-FC Porto, 0-4

Oitavos de final da Taça de Portugal

Estádio António Coimbra da Mota, no Estoril

Árbitro: Fábio Veríssimo (AF Leiria)

Estoril: Dani Figueira, Rodrigo Gomes (Tiago Araújo, 70′), Volnei, Mangala (Vital, 67′), Pedro Álvaro, Wagner Pina, Koindredi (Holsgrove, 45′), Mateus Fernandes, Heriberto, João Marques (Guitane, 45′), Cassiano (João Carlos, 67′)

Suplentes não utilizados: Carné, Raúl Parra, Michel, Alejandro Marqués

Treinador: Vasco Seabra

FC Porto: Diogo Costa, João Mário, Pepe, Fábio Cardoso, Wendell (Jorge Sánchez, 82′), Alan Varela, Nico González (Iván Jaime, 72′), Pepê (André Franco, 82′), Francisco Conceição, Galeno (Gonçalo Borges, 78′) e Evanilson (Toni Martínez, 72′)

Suplentes não utilizados:  Samuel Portugal, Zé Pedro, Grujic e Namaso

Treinador: Sérgio Conceição

Golos: Evanilson (24′, 31′ e 56′) e Galeno (76′)

Ação disciplinar: cartão amarelo a João Marques (45+1′), Pedro Álvaro (49′), Nico González (53′) e Wendell (79′)

Não é que fossem precisos muito mais avisos. O treinador do FC Porto vinha de um empate contra o Boavista para o campeonato (1-1) e terminou o encontro a ouvir críticas do adeptos. “O jogador tem de ouvir aplausos, assobios, nomes que saem da bancada. É natural de adeptos apaixonados que gostam do clube. Não é só no FC Porto, quando se ganha é tudo bom, quando se perde nem tanto”, reconheceu Sérgio Conceição antes da viagem ao Estádio António Coimbra da Mota, onde os dragões tentavam vencer um adversário com o qual tinham saído derrotados para o campeonato (0-1) e para a Taça da Liga (3-1).

Para isso, Sérgio Conceição lançou Nico González de início, algo que não acontecia desde outubro. Ao todo, foram quatro as alterações do onze do FC Porto em relação ao empate no Bessa (1-1). Alan Varela, Francisco Conceição e Galeno foram os restantes três jogadores a terem a oportunidade de estarem dentro das quatro linhas no momento do apito inicial de Fábio Veríssimo. Se os dragões lançaram quatro novos nomes, o Estoril manteve apenas quatro em relação à goleada sofrida em Alvalade (5-1). Só Rodrigo Gomes, Pedro Álvaro, João Marques e Koindredi mereceram novamente a confiança de Vasco Seabra.

Frente a uma equipa que tem como característica marcante a utilização do corredor central no momento de organização defensiva, o FC Porto deu mais robustez à dupla de meio-campo do 4x4x2 com a presença de Nico González e Alan Varela. Restava a dúvida em relação ao elemento que jogava nas costas de Evanilson, papel que coube a Pepê. O Estoril, por sua vez, jogou assumidamente num esquema de três centrais, o que também permitiu ter nos flancos dois nomes extremos puros, no caso Rodrigo Gomes e Wagner Pina. No meio-campo, Vasco Seabra recuperou Mateus Fernandes que atuou ao lado de Koindredi, setor ao qual muitas vezes se juntou João Marques, fazendo oscilar o sistema entre o 3x4x3 e o 3x5x2.

Quando se começaram a perceber as dinâmicas que iam imperar, cedo se viu que o posicionamento de Pepê no centro/direita do ataque azul e branco ia causar problemas ao bloco curto, mas subido do Estoril. Rodrigo Gomes, Mateus Fernandes e Mangala foram frequentemente apanhados em conflito quanto à responsabilidade pela marcação do brasileiro, o que, consequentemente, também ajudou a que Francisco Conceição elevasse o nível de rendimento. Da influência destes dois jogadores nasceu o lance em que Mangala derrubou o extremo que ia ouvindo das bancadas “sais ao teu pai” dentro da área. Na conversão da grande penalidade, Evanilson bisou (31′).

A baliza de Diogo Costa, guarda-redes que, face à indisponibilidade de Claúdio Ramos, somou a primeira participação na Taça de Portugal esta época, esteve a salvo até ao final da primeira parte. Mais do que isso, a equipa parecei ter encontrado a dose certa de agressividade que Sérgio Conceição tinha para levar a cabo a desforra frente ao Estoril. Talvez estivesse na altura de se lançar o desafio para que a nota artística subisse.

Se foi essa a mensagem que Sérgio Conceição passou ao intervalo aos jogadores, então a eficácia da comunicação foi total. Foi com o brilhantismo de que a ocasião era merecedora que Evanilson chegou ao hat-trick (56′). Desta vez, Pepê foi à esquerda cruzar para área. Galeno simulou, deixando a bola correr para Wendell que amorteceu para a finalização.

O FC Porto falhou algumas boas oportunidades que neste jogo não fizeram falta, mas que podem vir a fazer no futuro. Francisco Conceição teve no pé esquerdo várias dessas situações. Teria que ser Galeno, que contornou o guarda-redes do Estoril, Dani Figueira, a pôr o ponto final no resultado (0-4) que leva os dragões até aos quartos de final.