Mais de 24 mil toxicodependentes estavam em tratamento em ambulatório em 2022, dos quais 3.596 iniciaram a terapêutica nesse ano, o maior número desde 2015, revela um relatório do Serviço de Intervenção nos Comportamentos Aditivos e nas Dependências.

“Em 2022 estiveram em tratamento 24.176 utentes com problemas relacionados com o uso de drogas no ambulatório da rede pública. Dos 3.596 utentes que iniciaram tratamento em 2022, 1.681 eram readmitidos e 1.915 novos utentes“, refere o documento, adiantando que, pelo segundo ano consecutivo, se observou um ligeiro aumento (1%), após descidas nos quatro anos anteriores, estando ainda aquém dos valores pré-pandemia.

No mesmo ano, 518 utentes estavam internados em Unidades de Desabituação (UD) e 1.565 em Comunidades Terapêuticas (CT), valores já próximos dos pré-pandémicos, segundo o Relatório Anual 2022 – A Situação do País em Matéria de Drogas e Toxicodependências, a que a Lusa teve acesso.

“A heroína continua a ser a droga mais referida entre os utentes em ambulatório e das UD, mas já há uns anos que a canábis é a mais prevalente entre os novos utentes em ambulatório e, a cocaína é predominante nos utentes das CT”, sublinha o documento, que destaca “o relevante aumento de utentes a iniciarem tratamento com a cocaína como droga principal”.

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Os indicadores sobre o consumo de droga injetada e partilha de seringas apontam para reduções destas práticas no último quinquénio face ao anterior.

Em 2022, os consumos recentes (consumo nos últimos 30 dias) de droga injetada variaram entre 3% e 15% nos vários grupos de utentes em tratamento, e as práticas recentes de partilha de seringas entre 13% e 23%.

“Entre os utentes das UD e CT há uma diminuição dos consumos recentes de droga injetada no último quinquénio, atingindo as proporções mais baixas nos últimos três anos”, salienta o documento.

As Estimativas do Consumo Problemático/de Alto Risco de Drogas de 2022, publicadas no documento, evidenciam que os consumidores recentes de opiáceos e os utilizadores de drogas injetáveis estão a baixar, mas os de cocaína, incluindo ‘crack’, estão a aumentar em Portugal continental.

Os dados apontam uma taxa por mil habitantes de 15-64 anos de 4,5% para os consumidores recentes de opiáceos (7,7 nos homens e 1,3 nas mulheres), o que representa um ligeiro decréscimo do número de consumidores recentes entre 2018 e 2022, como já tinha ocorrido entre 2015 e 2018.

No sentido inverso, estima-se uma taxa por mil habitantes de 15-64 anos na ordem de 11,2% em 2022 dos consumidores recentes de cocaína.

As estimativas apontam ainda para uma taxa por mil habitantes de 15-64 anos na ordem de 1,3% no caso dos consumidores recentes de drogas por via endovenosa,

No preâmbulo do relatório, o coordenador nacional para os Comportamentos Aditivos e as Dependências, João Goulão, afirma que, “embora os estudos nacionais mais recentes apontem para evoluções positivas ao nível das prevalências de consumo de drogas na população geral e em outros subgrupos populacionais, verificam-se algumas evidências negativas relativas a padrões de consumo problemáticos”.

No caso da canábis, a droga mais consumida no país, há um agravamento continuado do consumo de risco elevado entre os mais jovens, em particular entre os 15-24 anos (quase duplicou em cinco anos e sextuplicou em dez anos) e um agravamento da dependência entre os consumidores de canábis.

Por outro lado, houve nos últimos dois anos um aumento da experiência de problemas relacionados com o consumo de drogas entre os jovens de 18 anos, observa João Goulão, presidente do Instituto para os Comportamentos Aditivos e as Dependências (ICAD).