O criador do Football Leaks, Rui Pinto, que está em França a colaborar com as autoridades do país depois de ter sido condenado a duas penas de prisão suspensas, decidiu disponibilizar os seus discos rígidos aos investigadores franceses e de outros países europeus.

Esta terça e quarta-feira, Rui Pinto esteve a ser ouvido em Paris como testemunha por magistrados e investigadores franceses, alemães, belgas e neerlandeses, num processo cujos contornos não são claros. Mas foi nesse âmbito, noticia a AFP, que Rui Pinto decidiu abrir o acesso aos documentos e dados que estão na sua posse.

A AFP conta que num encontro com a agência, mas também com os jornais L’Equipe e Mediapart, no escritório do seu advogado, William Bourdon, em Paris, que Rui Pinto explicou que “pela primeira vez as autoridades francesas e estrangeiras têm acesso total e irrestrito” aos dados e documentos que recolheu antes de ser detido.

Como a agência explica, é um acesso muito mais amplo do que existia até agora e do que obteve o consórcio de meios de comunicação europeus que chegou a publicar investigações com base nesses dados. É nesses discos rígidos, diz Rui Pinto, que existirão “de certeza ainda muitas coisas que não foram investigadas” e que não dizem apenas respeito aos processos do Football Leaks e Luanda Leaks, sendo estes dados “muito mais volumosos”.

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Numa altura em que colabora com a justiça francesa, Rui Pinto deixou, nesta conversa com vários órgãos de comunicação, elogios aos órgãos judiciais do país por terem mostrado “interesse” nas suas informações, ao contrário da justiça portuguesa, que acusa de o “assediar”.

A AFP classifica Rui Pinto como uma “testemunha chave”, tendo a garantia do seu advogado de que a justiça francesa prometeu não o investigar mais além dos processos já conhecidos — ao mesmo tempo que Bourdon acusa Portugal de permitir um “risco de perseguição vitalícia” e de promover uma “luta sem fim” entre Rui Pinto e o Ministério Público.

Por estar em França, Rui Pinto falhou esta quinta-feira o debate instrutório em Lisboa do processo no qual é acusado de 377 crimes.

Rui Pinto falha debate instrutório por estar em França a colaborar com a justiça

Como a Agência Lusa recorda, Rui Pinto acabou condenado, em setembro do ano passado, pelo Juízo Central Criminal de Lisboa a quatro anos de prisão com pena suspensa, por um crime de extorsão na forma tentada, três de violação de correspondência agravado e cinco de acesso ilegítimo. Em novembro, foi condenado em França a seis meses de prisão, com pena suspensa, pelo Tribunal Judiciário de Paris, por aceder ilegalmente a emails do Paris Saint-Germain.

Em relação ao processo cuja instrução chega agora à reta final, com a realização do debate instrutório, Rui Pinto responde por 377 crimes relacionados com o acesso aos emails do Benfica e de outros clubes, Liga de clubes, empresas, advogados, juízes, procuradores, Autoridade Tributária e Rede Nacional de Segurança Interna.

Segundo a acusação, estão em causa 202 crimes de acesso ilegítimo, 134 de violação de correspondência, 23 de violação de correspondência agravado e 18 de dano agravado.