A presidente do Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida (CNECV) admitiu esta quinta-feira a importância crescente da inteligência artificial (IA) no domínio da biomedicina, mas sublinhou que a última palavra deve caber sempre ao profissional de saúde.

Em declarações à Lusa, Maria do Céu Patrão Neves frisou que a IA deve “complementar, mas nunca substituir” o trabalho do profissional de saúde ou do cientista.

“Mas a realidade é que os sistemas de inteligência artificial estão a ter uma preponderância cada vez maior no domínio da biomedicina”, vincou.

Na sexta-feira, na Universidade do Minho, em Braga, o CNECV promove uma sessão pública de apresentação do Livro Branco intitulado “Inteligência Artificial: inquietações sociais, propostas éticas e orientações políticas”.

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Segundo Maria do Céu Patrão Neves, o objetivo é promover uma reflexão e recolher contributos para “aprimorar” o texto final do livro, que deverá ser publicado em março.

O trabalho já feito no pelo CNECV identifica as cinco grandes áreas em que o impacto da IA é mais evidente: a investigação biomédica, a assistência clínica, a gestão hospitalar, a administração pública e a educação, tanto dos profissionais de saúde quanto da população em geral.

Para a presidente do CNECV, a digitalização da saúde é “urgente e fundamental para haver melhores serviços e para a otimização de recursos humanos e financeiros e de equipamentos”, mas “também tem impactos negativos”.

Entre estes, destacou um eventual “distanciamento” entre os profissionais de saúde e o utente, a criação de um espaço de menor confiança e a indução de consultas “muito mais breves, muito mais orientadas, única e exclusivamente para aspetos específicos da patologia de que a pessoa sofre, sem que a pessoa tenha oportunidade para falar de toda a sua realidade, que no fundo, influencia o modo como a doença se manifesta nela”.

Por outro lado, admitiu que os sistemas de inteligência artificial “conseguem ser muitíssimo mais rigorosos e mais céleres” na leitura de qualquer exame radiológico.

“Nós queremos uma inteligência artificial que venha coadjuvar, que seja o complementar do trabalho do cientista, do profissional de saúde, dos políticos, dos legisladores. Não queremos um sistema de inteligência artificial para substituir o humano”, rematou.