A manhã da Iniciativa Liberal era dedicada à agricultura, mas a eventual colheita foi contaminada pelo aparecimento de Passos Coelho na campanha, como se fosse uma tempestade que destruiu todos os outros campos. Rui Rocha admitiu esta terça-feira que votou no ex-primeiro-ministro e ex-líder do PSD, nas duas vezes em que ele foi a votos: “Votei Passos Coelho em 2011 e 2015, votei, sem nenhum problema. Não votaria agora. Agora teria votado na Iniciativa Liberal, como é óbvio”. Recorde-se que a Iniciativa Liberal só apareceu em 2017, precisamente o ano em que Passos Coelho deixou a liderança do PSD entregue a Rui Rio. Em 2011, as opções de centro-direita seriam entre PSD e CDS, mas em 2015 até concorreram coligados.

Questionado sobre se seria mais fácil a Iniciativa Liberal negociar uma eventual privatização da CGD com Passos Coelho (que já chegou a defender essa medida) à frente do PSD, Rui Rocha foi cauteloso: “Não faço ideia. Sabemos qual é a posição do PSD.” Recorde-se que Luís Montenegro já deixou claro que não aceitará negociar essa privatização, que é uma das bandeiras dos liberais, e fundamental para financiar a reforma da Segurança Social que propõem.

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No resto, Rui Rocha tentou não valorizar muito o aparecimento do ex-primeiro-ministro na campanha: “Entendo que a participação de antigos líderes é normal, faz parte destas campanhas. Na IL temos dois antigos líderes que são cabeças de lista”, afirmou, numa referência a Carlos Guimarães Pinto (número 1 pelo Porto) e Cotrim de Figueiredo, cabeça de lista às europeias.

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“Com o que diz respeito à IL não entendo que [o aparecimento de Passos na campanha] tenha grande impacto”, desvalorizou. “Não me cabe a mim fazer uma leitura, cabe à direção do PSD saber qual é o seu caminho e em que posição se coloca”.

Em reação às declarações de Passos Coelho sobre o aumento da imigração e as eventuais implicações segurança, Rui Rocha respondeu atirando à governação socialista: “Houve decisões péssimas do PS. A extinção do SEF nos termos em que foi feita é uma péssima decisão. Precisamos de ter uma estrutura que trate do acolhimento de quem trabalha em Portugal, chame-se SEF, chame-se AIMA. Queremos imigração com dignidade e com direitos. No nosso entender, é fundamental que quem entra entre com visto ou contrato de trabalho”.

Rui Rocha tinha acabado de ter mais uma reunião à porta fechada com dirigentes da Associação de Agricultores do Sul, em Beja, para ouvir os seus problemas. Aparentemente não terá propriamente conquistado muitos votos, uma vez que não houve qualquer contacto com população — isso está agendado finalmente para o fim da tarde desta terça-feira, em Faro.