António Bagão Félix, um dos autores do livro Identidade e Família, admite a existência de outros tipos de família que não a “natural”, que privilegia, chama-lhes “ajuntamentos familiares, agregados familiares” e assegura que tem “respeito” por quem vive nessa situação. Em entrevista ao Diário de Notícias, o ex-governante nota que existe um “individualismo exagerado” na sociedade e recusa que a família possa ser vista numa “lógica de sociedade de mercado”, criticando o facto de “o Estado ser muito deficitário no apoio à família”.

“A ideia da família não pode ser vista numa lógica de sociedade de mercado, em que nós mercadejamos valores, princípios, permutas, disto e daquilo. Não. Uma coisa é a economia de mercado, onde há regras para isso”, explicou, sublinhando que “o Estado ainda continua a ser muito deficitário no apoio à família” e que “não há medidas em que se faça um estudo do impacto familiar”, ao contrário de temas ambientais, tecnológicos, financeiros ou orçamentais.

Além de entender que a “família natural” (expressão que prefere “em vez de família tradicional”) deve ser constituída por “casal, homem e mulher, com filhos que podem ser naturais ou adotados”, também explicou que “não deixa de considerar  outro tipo de ajuntamentos familiares, de agregados familiares, que não tenham este modelo”. “Aqui não se trata de concordar ou discordar. Trata-se de ter respeito por essas situações ou não ter. E eu tenho respeito por elas”, justificou. E o antigo ministro argumentou ainda que, até por uma “razão de natureza quase pragmática”, vive-se uma “grave crise de natalidade” e “a natalidade assenta sempre na ideia da família natural”.

Questionado sobre o que acha da opção das mulheres serem mães solteiras, disse que é uma “perspetiva admirável”, mas entende que as políticas públicas “são sinalizadoras, ou devem ser sinalizadoras, da importância que o Estado, a organização política, dá ao conceito de família“.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

António Bagão Félix explicou ainda na entrevista ao Diário de Notícias que a família está ameaçada por várias questões, destacando o “individualismo exagerado” — o que o levou a citar Frei Fernando Ventura no livro quando diz: “A família é uma escola de ‘nós’ em tempo de ‘eus’ — e a forma como na família “o resultado deve ser superior à soma das parcelas”; o “hiperconsumismo” porque o ideal seria contarmos “mais por aquilo que somos do que por aquilo que temos” e o “espetáculo mediático” por considerar que na comunicação social e nas redes sociais se dá mais nota do “fracasso” do que do “sucesso” da família. Por fim, entende que “outro adversário importante da família é o relativismo ético, onde as pessoas confundem princípios e valores com opiniões, com subjetivismo” e também que há uma “tendência para a indiferença perante o outro” na sociedade que não favorece a família.

Passos Coelho apresenta livro “Identidade e Família”, que ataca “a ideologia de género” e “a cultura de morte”