A semana do Benfica foi sobre adeptos, críticas, assobios e insultos e nunca sobre futebol, golos, vitórias ou conquistas. Na segunda-feira, depois da vitória dos encarnados no Algarve, contra o Farense, Roger Schmidt voltou a atirar-se às bancadas encarnadas e condenou os cânticos que ouviu, as palavras menos bonitas que ouviu, as ameaças que ouviu e o desagrado que ouviu. E, ao contrário do que o universo benfiquista poderia esperar, teve respaldo vindo de dentro.

A meio da semana, em declarações à BTV e depois de muitos adeptos terem ficado descontentes com a sugestão de Roger Schmidt de que ficassem em casa se não fosse para apoiar a equipa, Rui Costa mostrou de que lado estava. “Compreendo e percebo perfeitamente a tristeza e a frustração dos adeptos nesta fase do Campeonato, num ano em que ambicionávamos muito mais do que aquilo que atingimos até agora. Daí perceber perfeitamente essa tristeza, porque é a mesma tristeza que eu tenho, os jogadores têm, os treinadores têm, porque todos nós queríamos muito mais. Mas pela segunda vez este ano, agora em Faro, ultrapassámos limites. O apelo que faço, não apelando a que não haja crítica, é que essas críticas tenham certos limites”, atirou o presidente encarnado, que também foi alvo de cânticos mais críticos na partida contra o Farense.

Ficha de jogo

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Benfica-Sp. Braga, 3-1

31.ª jornada da Primeira Liga

Estádio da Luz, em Lisboa

Árbitro: João Pinheiro (AF Braga)

Benfica: Trubin, Alexander Bah (Álvaro Carreras, 52′), António Silva, Otamendi, Fredrik Aursnes, Florentino, João Mário, Di María, Rafa (Kökçü, 70′), David Neres, Arthur Cabral (Marcos Leonardo, 70′)

Suplentes não utilizados: Samuel Soares, Morato, Tengstedt, Rollheiser, Tiago Gouveia, João Neves

Treinador: Roger Schmidt

Sp. Braga: Matheus, Víctor Gómez, Paulo Oliveira, Niakaté, Cristian Borja, João Moutinho, Cher Ndour (Bruma, 83′), Álvaro Djaló (Rony Lopes, 69′), Rodrigo Zalazar (Vitor Carvalho, 64′), Ricardo Horta, Simon Banza

Suplentes não utilizados: Lukáš Horníček, José Fonte, Joe Mendes, Adrián Marín, Pizzi, Yan Said

Treinador: Rui Duarte

Golos: Ricardo Horta (28′), Marcos Leonardo (71′), David Neres (85′ e 90+5′)

Ação disciplinar: cartão amarelo a João Moutinho (77′), a Cher Ndour (83′), a Kökçü (90+5′), a Marcos Leonardo (90+7′), a Vitor Carvalho (90+8′); cartão vermelho direto a Víctor Gómez (89′)

Era neste contexto que, este sábado, o Benfica recebia o Sp. Braga na Luz. Os encarnados estavam proibidos de perder para evitar que o Sporting fosse campeão nacional já este fim de semana — cenário que se concretizava em caso de derrota do Benfica e vitória dos leões no Dragão este domingo — e pretendiam voltar a derrotar uma equipa que já tinham vencido em duas ocasiões esta temporada, no Campeonato e na Taça de Portugal. E Roger Schmidt, mais uma vez, aproveitou a antevisão da partida para não limitar o que pensa sobre as recentes atitudes dos adeptos.

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“Se os adeptos quiserem cuspir nos nossos jogadores, atirar objetivos, esse tipo de adeptos deve ficar em casa. Mas claro que queremos que os outros venham. Como já disse várias vezes, continuamos a lutar pelo Campeonato. Nada está acabado e espero encontrar um bom ambiente. Claro que é espetacular jogar na Luz quando os adeptos estão lá plenamente para nos apoiar e essa é uma das razões para o sucesso do nosso futebol. Temos de usar este ânimo dos adeptos como vantagem e jogar em casa é sempre uma vantagem. Mas claro que temos de praticar um bom futebol, demonstrar que estamos na luta pelos três pontos e que temos orgulho em vestir a camisola do Benfica. Espero realmente que os adeptos estejam prontos para nos apoiarem”, explicou o treinador alemão.

Ora, assim e depois de ter poupado vários jogadores em Faro, Roger Schmidt voltava à fórmula habitual e mantinha Arthur Cabral enquanto referência ofensiva e apoiado por Rafa, Di María e Neres. João Mário era a principal novidade, agarrando a titularidade no meio-campo face à ausência de João Neves, que estava no banco após ter saído lesionado na última jornada. Do outro lado, num Sp. Braga que estava em igualdade pontual com o FC Porto e ainda luta pelo terceiro lugar, Rui Duarte lançava o ex-Benfica Cher Ndour pela primeira vez no onze inicial minhoto.

O Sp. Braga teve a primeira aproximação perigosa a uma das balizas, com Ricardo Horta a rematar para Trubin defender (7′), mas o Benfica não demorou a agarrar no controlo do jogo. Apesar de nunca ter tido um ascendente verdadeiramente declarado, porque os minhotos nunca desceram demasiado as linhas e mantinham-se ligados à dimensão ofensiva, a equipa de Roger Schmidt estava quase sempre no meio-campo contrário e ia causando muito perigo através dos desequilíbrios provocados por Di María ou Neres.

O próprio Di María teve a primeira oportunidade dos encarnados, com um remate de fora de área que passou por cima (8′), e abriu a porta a um período em que o Benfica poderia ter inaugurado o marcador. Arthur Cabral teve a melhor ocasião até então, com um cabeceamento à trave (10′), e o mesmo Di María voltou a ameaçar com um pontapé que Matheus defendeu com dificuldade (16′). O Sp. Braga respondia essencialmente através da velocidade de Djaló na direita e dos remates de Horta, que tinha sempre muito espaço para testar Trubin, e acabou por conseguir mesmo chegar ao golo.

Já perto da meia-hora, Djaló acelerou na direita, passou por Otamendi e cruzou atrasado para a área, onde Horta apareceu sozinho a rematar de primeira para bater Trubin (28′), que deixou a bola passar entre as pernas e não ficou bem na fotografia. Logo depois, tal como seria de esperar, uma franja do Estádio da Luz perdeu a paciência: foram atiradas várias tochas para o relvado, interrompendo a partida durante alguns minutos, e ergueu-se uma tarja onde se lia “presidente, o nosso amor não tem limite”. O momento foi condenado pelas restantes bancadas do estádio, enquanto que os adeptos em questão entoaram repetidamente “o Benfica é nosso”.

Com o jogo já reatado, o Sp. Braga aproveitou a instabilidade da atmosfera e poderia ter aumentado a vantagem em duas ocasiões, com Trubin a evitar o golo de Banza (39′) e depois o de Djaló (40′), que estava completamente isolado na cara do guarda-redes. O Benfica recuperou algum equilíbrio na ponta final da primeira parte, com Aursnes a ficar muito perto de empatar com um desvio na cara de Matheus que passou por cima (42′), mas a verdade é que os encarnados foram mesmo a perder com os minhotos para o intervalo.

Nenhum dos treinadores fez alterações ao intervalo, mas Roger Schmidt só demorou pouco mais de cinco minutos para tirar Alexander Bah (aparentemente por motivos físicos) e lançar Álvaro Carreras, com Aursnes a passar para a direita da defesa e o espanhol a ocupar naturalmente o lado contrário. A segunda parte apresentava-se com índices de intensidade bastante inferiores aos da primeira, com o Benfica a assumir um ascendente tímido e o Sp. Braga a gerir a vantagem de forma expectável.

O tempo foi passando sem que os encarnados colocassem o resultado em causa, apesar de estarem totalmente inseridos no meio-campo adversário, e Carreras acabou por ter a primeira ocasião de perigo com um remate que Matheus defendeu já para lá da hora de jogo (63′). Rui Duarte mexeu nessa altura, trocando Zalazar por Vitor Carvalho e depois Djaló por Rony Lopes, e Di María ficou perto do empate com um pontapé em jeito para uma boa defesa do guarda-redes minhoto (66′).

Roger Schmidt voltou a mexer a 20 minutos do fim e lançou Kökçü e Marcos Leonardo — e o avançado brasileiro só precisou de segundos para empatar. Di María marcou um livre na direita, Matheus aliviou e João Mário rematou contra um adversário, com Marcos Leonardo a aproveitar a recarga para atirar cruzado na área (71′). O Sp. Braga procurou reagir, subindo as linhas e revertendo a situação de total afundanço que já tinha assumido, mas já era tarde demais.

Numa transição rápida, Di María tirou um cruzamento perfeito a partir da esquerda e encontrou Neres ao segundo poste, com o brasileiro a cabecear da melhor maneira para carimbar a reviravolta (85′). Até ao fim, Víctor Gómez ainda foi expulso com cartão vermelho direto devido a uma entrada muito dura sobre Di María e Marcos Leonardo ainda foi a tempo de bisar já nos descontos, com um remate à meia-volta na área (90+5′).

No fim, o Benfica venceu o Sp. Braga na Luz e garantiu matematicamente o segundo lugar do Campeonato, para além de ter impedido que o Sporting seja campeão nacional já este domingo. Num dia em que a equipa de Roger Schmidt voltou a ter muitas dificuldades para ganhar, voltou a não realizar uma exibição brilhante e voltou a assistir ao descontentamento dos adeptos, Marcos Leonardo mostrou que o único amor sem limite é o dele pela baliza.