Oito meses e uma crise política depois, o PS não conseguiu fazer melhor do que nesse setembro de 2023 em que elegeu 11 deputados para a Assembleia Legislativa da Madeira. Soma-se ainda outra má notícia: deixou de ter os parceiros (naturais desde a “geringonça” de 2015), com BE e PCP a não conseguirem eleger deputados. Ainda assim, o líder do PS na Região acabou a noite a desafiar JPP, CDS e IL para um entendimento que permita superar os 19 deputados do PSD. “Uma miscelânea significativa“, comentou-se no PS a partir de Lisboa.

Os socialistas conseguiram mais 137 votos nestas legislativas e o PSD caiu na votação — mesmo contando com o CDS, que desta vez não foi coligado, fica sempre abaixo do que teve em outubro — e o líder Pedro Nuno Santos agarrou-se a isso mesmo na declaração final. “Preferíamos obviamente ganhar as eleições, mas registamos a força que o PS/Madeira mantém”, concluiu, refugiando-se na autonomia regional para não ter de dizer o que acha do desafio deixado por Cafôfo. Não deixou de lhe dar algum respaldo, ao dizer que o que se segue na Madeira é “encontrar neste quadro fragmentado soluções de governabilidade” para “garantir alguma estabilidade política à região”.

Mas, na RTP3, o deputado e vice da bancada parlamentar Carlos Pereira (que até às últimas legislativas concorreu sempre pela Madeira) comentava que juntar PS, JPP, CDS e IL pode até dar uma soma maioritária, mas não deixou de dizer também tratar-se de uma “miscelância significativa do ponto de vista dos partidos”. “Era preciso uma habilidade significativa”, acrescentou num comentários às eleições.

Cafôfo tinha acabado de falar em fazer “contactos” com outros partidos para “formar um outro governo que não seja liderado pelo PSD”.  “PS e JPP têm mais votos e mais deputados que PSD”, contabilizou o líder do PS regional na sua declaração na noite eleitoral, garantido que é “possível construir uma alternativa estável”. Excluídos desta sua equação estarão apenas PSD e Chega.

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As negas de CDS e IL não tardaram e surgiram logo nos discursos dos líderes nacionais. “Devia estar a pensar na derrota que acabou de ter”, atirou Nuno Melo. “Não perca tempo connosco”, aconselhou Rui Rocha. Sobrava a JPP, com Élvio Sousa a chutar o assunto para o dia seguinte: “Fizemos o nosso percurso com paz e tranquilidade. Qual é a pressa?

Paulo Cafôfo voltou à liderança do PS-Madeira, depois de Sérgio Gonçalves ter rejeitado recandidatar-se ao cargo, na sequência das legislativas regionais de setembro de 2023 — com praticamente o mesmo resultado que Cafôfo obteve este domingo. Nada comparado com 2019, em que tinha conseguido aproveitar o flanco aberto pelo fim do jardinismo e a rampa da sua vitória no Funchal (2013) para apresentar um resultado eleitoral histórico para o PS na região: 35,7% e 19 deputados.

Depois disso, o PS nunca mais voltou a esse patamar, veio sempre a descer (11 deputados em 2023 e os mesmo 11 agora). E na Câmara do Funchal, que Cafôfo tinha tirado ao PSD pela primeira vez em democracia em 2013, também nunca mais conseguiu esse feito histórico. Na altura, ainda independente mas a concorrer pelo PS, liderou uma frente de seis partidos em que Bloco de Esquerda, Nova Democracia, Partido da Terra, Partido Trabalhista e PAN se juntaram aos socialistas. Voltou a recandidatar-se em 2017 e voltou a ganhar, mas saiu em 2019 para concorrer às legislativas regionais, tendo sido eleitor deputado.

O resultado nessas legislativas de 2019 continuava a alimentar a ideia de um efeito-Cafôfo (depois de ter saída da câmara do Funchal o PS perdeu-a) que, logo depois das eleições de há oito meses, saiu da Secretaria de Estado das Comunidades para se candidatar novamente ao PS-Madeira e preparar uma nova candidatura a legislativas regionais, perante um resultado periclitante da direita e adivinhando uma curta vida a esse Executivo. Mas as eleições ainda chegaram mais cedo do que o previsto, com a crise aberta pela investigação judicial que fez cair o Governo de Miguel Albuquerque. Mesmo assim. Cafôfo já não teve o mesmo efeito de 2019.