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A Rússia está a tentar recuperar a influência perdida com a expulsão de 600 diplomatas, sobretudo na Alemanha e para isso não poupa meios. Para se conseguir infiltrar no país e ganhar a simpatia dos cidadãos alemães, Moscovo encontrou novas formas de recrutar espiões: oferece 400.000 a cada um e, por vezes, recorre à chantagem.
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Quando a Rússia invadiu a Ucrânia, em fevereiro de 2022, os Estados europeus tomaram medidas: expulsaram cerca de 600 agentes russos da Europa e bloquearam as plataformas de difusão de conteúdos russas. A Alemanha não foi exceção, como avançou o relatório anual do BfV – os serviços secretos da Alemanha (em alemão: Bundesamt für Verfassungsschutz) equivalentes ao Serviço de Informação e Segurança (SIS) em Portugal.
Moscovo não se resignou e reagiu: “A Rússia está empenhada em compensar a redução de agentes imposta pelo governo alemão”, garantiu Thomas Haldenwang, chefe do BfV, em comunicado de imprensa, citado pelo The Telegraph.
E concretiza: em agosto de 2023, dois cidadãos alemães aceitaram espiar para a Rússia, em troca de 400.000 euros cada um. Segundo Haldenwang, estes valores confirmam “os recursos financeiros colossais” de que a Rússia dispõe para atingir os seus objetivos.
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Para assegurar as suas missões de espionagem a Rússia recorreu também à chantagem, denuncia o BfV. Alemães que viviam ou que viajavam com frequência para o país – bem como os que estavam em missão diplomática em Moscovo – foram facilmente sujeitos a chantagem. “A partir do momento que tinham informação comprometedora dos seus alvos, os serviços [russos] não hesitavam em utilizar técnicas de recrutamento agressivas”, explicou Haldenwang.
Até encontros através de aplicações como o Tinder, Bumble e o Hinge poderiam ser perigosos. Em março, como avançado pelo The Telegraph, o governo alemão alertou os turistas alemães que fossem visitar a Rússia para a possibilidade de serem espiados, em encontros supostamente amorosos, por utilizadores das referidas aplicações, que poderiam ser espiões (ou espias) de Putin.
Também a NATO tem estado atenta a este problema. Já no princípio deste mês, a Aliança Atlântica salientou a sua crescente preocupação quanto à espionagem russa e apelou a uma ação mais rigorosa e repressiva perante as atitudes hostis da Rússia, como ameaças de sabotagem e ciberataques.
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O relatório da NATO sublinha ainda que a Rússia estendeu as suas tentativas de influência a organizações internacionais – às quais adjudicou espiões – e manteve a sua estratégia através das redes sociais. No entanto, em vez do Tinder, mudou para a plataforma Telegram – segundo o The Telegraph, “mais difícil de controlar”.
Da influência da extrema-direita à guerra em Gaza
Por outro lado, os serviços secretos alemães alertaram para o facto de a extrema-direita ser bastante recetiva à influência russa. Como por exemplo o Reichsbuerger (Cidadãos do Reich), um grupo de conspiracionistas, de entre os quais alguns estão a ser julgados por uma tentativa de golpe de estado contra a Alemanha, para a qual procuraram apoio da Rússia.
O crescimento das alas extremistas – à esquerda e à direita – na Europa já tinha sido destacada pela NATO: o número terá aumentado desde o ano passado até 4,6% e 1,4%, respetivamente, havendo assim 40.600 pessoas de extrema-direita e 37.000 de extrema-esquerda.
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O BfV dedicou ainda um capítulo do seu relatório anual à guerra em Gaza, alertando que extremistas de esquerda, de direita e ainda extremistas islamitas se tinham unido numa onda de ódio contra Israel. Haldenwang descreveu o antissemitismo como “uma ponte entre extremistas” e garantiu que o conflito no Médio Oriente estava a “acelerar o antissemitismo na Alemanha”.
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A Alemanha é um dos principais apoiantes de Israel desde que a guerra contra o Hamas começou, em outubro. No entanto, é em Berlim que se encontra a maior comunidade palestiniana desde a sua diáspora do Médio Oriente. Este contraste criou tensões na capital. Os serviços de segurança internos da Alemanha registaram um recorde de pelo menos 40.000 crimes motivados por extremismos religioso – antissemitas e islamofóbicos – e políticos.
Os serviços secretos alemães chamaram ainda a atenção para o risco de ocorrerem ataques terroristas durante o Euro2024. O alerta tem sido recorrente em relação aos eventos desportivos internacionais, com o foco, já este ano, em Paris. Moscovo ameaçou boicotar os Jogos Olímpicos que decorrem entre julho e agosto depois de o Comité Olímpico Internacional proibir os atletas russos e bielorussos de participarem na cerimónia de abertura e de os obrigar a participarem sob bandeira neutra, o que “escandalizou” Moscovo.
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