O bispo de Coimbra, Virgílio Antunes, alertou esta segunda-feira para um retrocesso civilizacional em matéria de migrações, considerando que este fenómeno exige uma “atitude humanitária”.

“Às vezes, parece que estamos, inclusivamente, num certo retrocesso civilizacional no que a esta questão diz respeito”, afirmou Virgílio Antunes, também vice-presidente da Conferência Episcopal Portuguesa, no Santuário de Fátima, onde esta segunda-feira começa a peregrinação internacional de 12 e 13 de agosto a que preside.

Milhares de migrantes esperados esta segunda e terça-feira na peregrinação de agosto a Fátima

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Em conferência de imprensa, que antecede o início da peregrinação, na qual se inclui a peregrinação nacional do migrante e refugiado a Fátima, o prelado fez uma contextualização histórica desta matéria, para referir que “sempre houve migrações ao longo da História”.

“Mas no nosso tempo, tem esta circunstância de serem, sobretudo, fruto de uma pobreza agravada e extrema em alguns casos, de serem fruto de regimes totalitários que não permitem às pessoas ser livres, expressar-se e ter acesso às condições normais de vida”, assinalou o bispo de Coimbra.

Acrescem “as questões das perseguições”, sejam religiosas, ideológicas ou políticas, adiantou, para destacar a guerra.

“Eu esperava, talvez todos nós esperássemos, que, no século XXI, algumas destas causas fundamentais que estão na origem destes fenómenos migratórios pudessem estar, em certo sentido, ultrapassadas ou pelo menos atenuadas”, observou Virgílio Antunes, para lamentar que “tem vindo a haver um agravamento das circunstâncias e das motivações e das causas que dão origem a migrações”.

Para o antigo reitor do Santuário de Fátima, “estas causas que a humanidade, por um lado, a que parece dar tanta importância e que, por outro lado, ainda não foi capaz de resolver, nem de encontrar de uma forma razoável, alguns caminhos de solução”.

“Há que ajudarmos o nosso mundo, as nossas sociedades, os nossos políticos, até as nossas chefias religiosas aos mais diversos níveis, procurarmos todos fazer um esforço para que algumas destas causas possam ser eliminadas ou pelo menos atenuadas nas suas origens”, defendeu o presidente da peregrinação de agosto.

Face à impossibilidade de isso acontecer de um momento para o outro, Virgílio Antunes apelou ao “sentir comum” da humanidade na perspetiva “de acolher, de integrar, de acompanhar e de ajudar a refazer as vidas de muitas pessoas”, quer daquelas que chegam ao país, quer daquelas que saem.

Referindo que aqueles são verbos que “o Papa Francisco tem utilizado tantíssimas vezes e que repete à saciedade”, o bispo de Coimbra reconheceu, contudo, que “parece que não encontram esses resultados efetivos quando se trata dos Estados, dos governos, da sociedade em geral, dos políticos e até das instituições religiosas procurarem pôr em prática”.

Para Virgílio Antunes, “as migrações são, com certeza, um fenómeno humano”, mas exigem “uma atitude humanitária no melhor sentido desta palavra e deste termo”.

As celebrações oficiais da peregrinação no Santuário de Fátima começam às 21h30, com a recitação do terço, na Capelinha das Aparições, seguindo-se a procissão das velas e a celebração da palavra, no recinto de oração.

Na terça-feira, as cerimónias religiosas iniciam com a procissão eucarística no recinto, às 7h00 e, duas horas depois, o terço, na Capelinha.

A missa, com a bênção dos doentes e a procissão do adeus, encerra a peregrinação, que também é conhecida como peregrinação dos emigrantes.