A queixa apresentada por Imane Khelif junto da justiça francesa nomeia diretamente o fundador da Tesla, Elon Musk, e a criadora de Harry Potter, J.K.Rowling. Na passada sexta-feira, a recém-coroada campeã olímpica de boxe apresentou uma queixa por cyberbullying agravado e a justiça francesa já abriu uma investigação no departamento especializado em crimes de ódio.

O seu advogado, Nabil Boudi, relatou que a pugilista argelina tinha sido alvo de uma campanha “misógina, racista e sexista”, durante a sua participação nos Jogos Olímpicos de Paris. Em causa estavam informações falsas que Khelif seria uma mulher transgénero ou intersexual e o seu combate contra mulheres cisgénero seria, por isso, injusto.

Imane Khelif avança com queixa de “cyberbullying agravado” em Paris 2024

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Já esta terça-feira, Boudi, sediado em Paris, declarou que a queixa menciona diretamente Elon Musk e J.K. Rowling, mas foi instaurada contra a rede social X (antigo Twitter). Sob a lei francesa, isto quer dizer que a queixa foi feita contra pessoas desconhecidas. “Assim garante-se que os procuradores têm toda a latitude para investigar toda a gente”, explicou o advogado à revista Variety.

Segundo esta queixa, o ex-Presidente Donald Trump ou o Youtuber Logan Paul podem, então, também ser visados pela investigação. “Trump tweetou, pelo que, esteja ou não nomeado na nossa queixa, vai ser inevitavelmente investigado pelos procuradores”, acrescentou Boudi.

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Na terça-feira, a queixa, apresentada junto do Centro contra o Ódio Online da Procuradoria de Paris, foi enviada para o Gabinete Central contra Crimes contra a Humanidade e Crimes de Ódio e uma investigação oficial foi aberta. Em causa, estão acusações de “perseguição devido ao género, insultos públicos devido ao género, incitamento público à discriminação e insulto público devido à origem”, confirmaram os procuradores franceses à revista norte-americana.

Como explicou Boudi, a justiça francesa tem liberdade para construir um caso que pode incluir qualquer publicação feita na rede social X, desde que seja interpretada como “perseguição” e “insultos” à sua identidade de género ou à sua origem étnica de Imane Khelif. “Se o caso for a tribunal, todas essas pessoas serão julgadas”, notou o advogado.

Os insultos que ganharam mais visibilidade foram, precisamente os de Rowling e Musk, que contam respetivamente com 14,2 milhões e 194,4 milhões de seguidores e utilizam as suas páginas para partilhar vários conteúdos de caráter transfóbico.

A escritora partilhou publicações em que se referia a Imane Khelif como “ele”, acusando a atleta de “bater em mulheres”, depois de esta ter derrotado Angela Carini em 46 segundos, num combate que a atleta italiana já confirmou ter sido justo.

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O próprio dono do X partilhou uma fotografia de Angela Carini com a legenda “Homens não pertencem em desportos de mulheres” e respondeu com “Absolutamente.”. A publicação original enganosa foi feita por Riley Gaines, uma nadadora e ativista política norte-americana.

Fora do X, Donald Trump também se referiu a Khelif como “ele”, num discurso em tom de troça sobre o ouro olímpico da pugilista, durante um comício no Montana. Também os políticos italianos Giorgia Meloni e Matteo Salvini criticaram a presença da atleta na competição feminina, apontando as “suas características genéticas masculinas”, uma acusação que foi negada pelo Comité Olímpico Internacional.

Sob esta chuva de críticas e acusações, Imane Khelif venceu todos os rounds em Paris e levou mesmo para casa o ouro olímpico. O seu treinador contou à Variety que lhe recomendou que se mantivesse afastada das redes sociais, de modo a não ver estas publicações. “Ela é tão inteligente e tem uma motivação incrível. Esta foi a vitória mais gratificante da minha carreira como treinador”, relatou Pedro Diaz.

Os mesmos sentimentos foram partilhados pela atleta, que endereçou a polémica depois de vencer. “Estou plenamente qualificada para esta competição. Sou uma mulher como qualquer outra. Nasci mulher, vivi como mulher e competi como mulher, não há dúvida sobre isto. [Os críticos] são inimigos do sucesso. Estes ataques dão um gosto especial ao meu sucesso“, afirmou Khelif aos jornalistas, na passada sexta-feira, já de medalha ao peito.

*Editado por Cátia Andrea Costa